Responsável da concelhia diz ter “carta branca” de Joana e Mariana Mortágua. Pela primeira vez, bloquistas não concorrem no concelho
Continua a crescer à esquerda, após ter alargado abrangência ao centro-direita, o movimento independente liderado por Fernando Caria, actual presidente da Junta da União das Freguesias de Montijo e Afonsoeiro eleito pelo PS – partido de que se desfiliou recentemente –, lançado para ir a votos no concelho montijense nas eleições autárquicas de 2025.
Depois de Ilídio Massacote, vereador na Câmara do Montijo eleito pelo PSD – a quem os social-democratas já haviam retirado a confiança política –, e Dinora Caetano, actual presidente da Junta de Freguesia de Sarilhos Grandes, eleita pela CDU, agora é o Bloco de Esquerda (BE) a juntar-se ao movimento que vai apresentar listas concorrentes a todos os órgãos autárquicos do concelho, com Caria a candidatar-se à presidência da Câmara Municipal.
O apoio dos bloquistas é assumido por Cipriano Pisco, membro da direcção da concelhia do partido. “O Bloco de Esquerda não irá concorrer no concelho do Montijo nas próximas eleições autárquicas, para estar representado na candidatura independente liderada por Fernando Caria”, afirma o responsável da estrutura local do Bloco, que diz ter recebido “luz verde” das dirigentes distrital e nacional do partido.
“Temos carta branca. Temos a confiança política da direcção distrital e da direcção nacional do partido. Falámos com a coordenadora distrital de Setúbal, Joana Mortágua, e com a coordenadora nacional do Bloco, Mariana Mortágua, que deram luz verde para participarmos nesta candidatura independente”, revela.
Esta, sublinha Cipriano Pisco, é “a primeira vez que o BE, desde a sua fundação, não irá concorrer às autárquicas no Montijo”. O Bloco, explica o dirigente local, abdica de ir a votos para apoiar Fernando Caria e estar representado por alguns dos seus membros nas listas do movimento independente.
“Vamos ter elementos do partido, na qualidade de independentes, na candidatura liderada por Fernando Caria. Podemos ter membros do BE nas listas candidatas à Assembleia Municipal, à Assembleia de Freguesia de Montijo… E há também a possibilidade de podermos estar representados na lista candidata à Câmara Municipal”, detalha, ao mesmo tempo que admite poder vir a integrar as listas, a exemplo de “outros nomes do Bloco, como António Oliveira, que está actualmente na Assembleia de Freguesia de Montijo”. O histórico bloquista do Montijo ressalva, porém, que “tudo só ficará definido quando chegar a altura de se discutir a composição das listas”.
Acordo ‘à prova de bala’
Para já, só há uma certeza: não há nada que possa fazer com que o BE recue no acordo estabelecido com o ex-socialista. “O apoio do BE a Fernando Caria é um processo que está fechado”, garante.
De resto, o entendimento entre as partes “foi fácil” de alcançar. Até porque, admite, existe mais do que uma razão de peso a justificar a decisão do partido.
“Quando houve necessidade de um entendimento para se constituir o executivo da Junta de Montijo/Afonsoeiro, em 2013, conversámos e o Bloco foi parte da solução. Estive nesse executivo do primeiro mandato de Fernando Caria e a coisa correu bem. Houve sempre diálogo e sentido de responsabilidade no tratamento dos interesses da população. Foi muito positivo. Agora, achamos que Fernando Caria tem todas as condições para poder ser presidente da Câmara e para ganhar”, lembra, para juntar de seguida que tem com Fernando Caria “uma ligação que vem de há muitos anos e que facilita as coisas” (ver caixa).
Por outro lado, destaca a abrangência da candidatura independente, que engloba “várias correntes políticas e muitas pessoas sem ligação a qualquer partido”. “É uma mais-valia para o Montijo, tendo em conta o alargamento político e social que tem. Esta é uma candidatura que pode ganhar as eleições, quer para a Câmara quer para os restantes órgãos autárquicos do concelho”, atira.
Quanto à possibilidade de o partido poder vir a ser penalizado pelo eleitorado a longo prazo no concelho, pelo facto de não se apresentar a votos nas próximas autárquicas, Cipriano Pisco é peremptório: “Na vida e na política há sempre riscos. Mas, achamos que o Bloco pode dar um importante contributo para que possam ocorrer mudanças positivas no concelho”, conclui.
Ligação Os homens que vieram da ‘rua mais fria do Montijo’
Há mais do que apenas uma boa relação política entre Cipriano Pisco e Fernando Caria, alicerçada desde logo na experiência partilhada no executivo da Junta de Montijo/Afonsoeiro no primeiro mandato do agora ex-socialista. Existe também uma relação pessoal de longa data, com uma curiosidade associada, que o dirigente local dos bloquistas faz questão de recordar, por entre sorrisos. “Conheço Fernando Caria desde a minha infância. Morávamos numa rua que dizíamos, na brincadeira, que era a rua mais fria de Montijo, a Rua Serpa Pinto. E porquê? Porque abaixo existia o ‘Faz Chuva’, que era tipo uma sapataria que vendia também guarda-chuvas, ao meio havia o Pátio do Gelo, porque havia aí uma fábrica de gelo, e mais acima morava o Orvalho, empresário que chegou a ter fábricas de cortiça. Então costumávamos dizer que morávamos na rua mais fria de Montijo”, revela.