Centro de Saúde às portas da morte com profissionais desesperados a ameaçarem saída a partir de Janeiro

Centro de Saúde às portas da morte com profissionais desesperados a ameaçarem saída a partir de Janeiro

Centro de Saúde às portas da morte com profissionais desesperados a ameaçarem saída a partir de Janeiro

Falta de meios. Unidade funciona com duas médicas a tempo inteiro, quando necessita de 18 para responder a mais de 23 mil utentes

 

O cenário é dantesco. O Centro de Saúde do Montijo, na Avenida Luís de Camões, está mais do que doen te. Está moribundo. Funciona apenas com duas médicas a tempo inteiro, seis enfermeiros e seis assistentes técnicos para dar resposta a mais de 23 mil utentes sem clínicos de família.

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A situação tornou-se tão insustentá vel que boa parte dos profissionais de saúde prometem “bater com a porta” e desistir de trabalhar na unidade, ca so a tutela não reforce as equipas a partir do início do novo ano. Às reclamações dos profissionais de saúde juntam-se as dos utentes. Ao ponto de se esgotar um livro de re clamações de três em três dias, fora as queixas que são feitas verbalmente, apurou O SETUBALENSE.

A incapa cidade de resposta é tanta que levou, inclusive, os profissionais de saúde a convocarem uma reunião com a popu lação, realizada na última quarta-feira, para explicarem como está a funcionar o novo modelo “Via Verde” implemen tado na unidade de saúde e que visa responder aos milhares que não têm médico de família atribuído. Um modelo que começou a ser desenhado em Maio passado e que entrou em funcionamento em 3 de Outubro último, mas sem as condi ções necessárias para o efeito, quei xam-se os profissionais que preferem não se identificar. “Fomos forçados a implementar a ‘Via Verde’ sem meios”, lamentam.

Para uma respos ta eficaz e eficiente seriam “precisos 18 médicos, 22 enfermeiros e 10 a 12 assistentes técnicos”, números que foram transmitidos ao Agrupamen to de Centros de Saúde (ACES) Arco Ribeirinho e, consequentemente, à Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT). A realidade está, porém, muito dis tante destas necessidades. O Centro de Saúde do Montijo conta apenas com “duas médicas a tempo inteiro e sete médicos a tempo parcial”, mas estes úl timos cumprem somente “uma média de duas horas por semana”. Enfermei ros são seis (dos 22 necessários), já que “quatro dos que existiam no projecto inicial desistiram”. E os assistentes téc nicos estão também reduzidos a seis (de 10 a 12 necessários), uma vez que “dois são obrigatoriamente dispensa dos” para funções exteriores.

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“Somos a única unidade do ACES Arco Ribeirinho que dispensa dois secretários para fun ções no Centro de Vacinação”, fazem notar os profissionais com quem O SETUBALENSE falou.

USF Aldegalega trouxe uma vantagem

A abertura da Unidade de Saúde Fa miliar (USF) Aldegalega no recinto do Hospital do Montijo arrastou cinco das médicas que funcionavam no Centro de Saúde na Avenida Luís de Camões. Isso não representou, po rém, uma desvantagem. Cada uma das médicas transportou consigo as respectivas listas de utentes que já tinham atribuídas e, em termos de ca pacidade física instalada, desafogou um pouco o Centro de Saúde.

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Todavia, com essa mudança, todos os utentes sem médico “dirigem-se ao Centro de Saúde”. “Para quem vai à USF Aldegalega funciona tudo bem”, subli nham. O problema é a incapacidade para responder a mais de 23 mil utentes sem médico, além de outros “10 a 12 mil [imi grantes], que entram no bolo do atendi mento, mas que não são contabilizados para a estatística, porque não estão ins critos ou recenseados”, adiantam.

Os profissionais confessam-se des motivados e esgotados e, uma parte considerável, está a equacionar ou a desvinculação da função pública ou a transferência para outros ACES. E isto já não é uma ameaça. É uma garantia, caso as coisas não mudem. “Os secre tários estão a dois terços, os enfermei ros estão a metade e os médicos estão a um terço. Isto é inconcebível. Se não colocarem recursos humanos na mi nha área, sairei da função pública”, garante uma das profissionais. “Pelo menos, queremos ter as contratações a dois terços.” Como está, a unidade “caminha para uma morte iminente”. “Ninguém aguenta este ritmo por mui to mais tempo”, alertam, a concluir.

O SETUBALENSE tentou ouvir a AR SLVT e o ACES Arco Ribeirinho, mas até ao fecho desta edição não obteve res posta às questões enviadas por e-mail.

Elogios Câmara foi exemplar no apoio à vacinação em massa

A Câmara Municipal do Montijo foi exemplar no contributo prestado para a realização da vacinação em massa contra a covid-19. “Está entre as câmaras que melhor apoio deram para o processo. Deram tudo o que lhes foi pedido. Até um frigorífico médico ‘zero quilómetros’ para armazenar as vacinas”, disse fonte do Centro de Saúde do Montijo. Nuno Canta não esconde orgulho, reconhece méritos ao trabalho conjunto com os profissionais de saúde e destaca o papel fundamental dos municípios. “Quem desenvolveu o plano de vacinação pelo País foram as autarquias. No Montijo tivemos um sistema que foi muito contestado, um pouco semelhante ao que se fazia na tropa, com as pessoas alinhadas e os enfermeiros a inoculá-las sem que fosse necessário recurso a gabinetes. A eficácia foi extrema e, fruto desse plano pensado pelo pessoal médico do Montijo, acabámos por ser dos primeiros na vacinação não só na região de Setúbal e Lisboa como até mesmo do País”, vincou.

MUDANÇA Autarquia resolve parte do problema com novas instalações

Outro dos problemas identificados pelos profissionais do Centro de Saúde do Montijo é a incapacida de das actuais instalações. Com a transferência de competências do Estado para os municípios, já foi solicitado um novo espaço à au tarquia. E a resposta de Nuno Can ta, presidente da Câmara, satisfez os profissionais. O serviço vai ser transferido para outras instalações, muito provavelmente, no próximo ano.

“A Câmara Municipal está já a tratar de encontrar um espaço adequado para instalar todos os serviços de ‘Via Verde’ do Centro de Saúde. Contamos conseguir arranjar uma solução adequada até final do ano, de forma a poder entrar em funcionamento já em 2023”, confirmou Nuno Canta a O SETUBALENSE.

“Este pode ser um processo importantíssimo para se conseguir fixar novos médicos no Montijo, até porque o sistema ‘Via Verde’ alarga muito o número de internos que podem vir para cá. Só não estão a vir neste momento por falta de condições”, adiantou o autarca, que lembrou outras acções que o município tem em marcha na área da saúde.

“A USF Aldegalega está a funcio nar impecavelmente. Toda a gente me diz que foi a melhor coisa que se podia fazer no Montijo. Agora, con tamos iniciar em 2023 a construção de mais um Centro de Saúde, nas antigas instalações da Pluricoop, no Areias”, frisou, para juntar de seguida: “Estamos a ponderar ad quirir, também já para o próximo ano, o serviço de uma Unidade Mó vel de Meios Complementares de Diagnóstico. Essa viatura permitirá realizar exames médicos, como por exemplo TAC e ecografias ou efec tuar rastreios, em vários locais do concelho. Vai custar-nos cerca de 600 mil euros em três anos e está prevista no Orçamento Municipal para 2023”, concluiu.

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