Encontro sobre promoção dos sabores da terra junta especialistas, autarcas e produtores em debate
“Os mais antigos alimentos do mundo”: azeite e vinho, assim lhes chamou a presidente da junta de freguesia do Castelo, concelho de Sesimbra, Maria Manuel Gomes, na sessão de abertura do encontro que reuniu vários produtores locais e alguns convidados ligados à produção de azeite, pão e vinho, no Centro de Apoio à Incubação de Empresas de Sesimbra.
Azeite e Vinho – Sabores da Terra, baptizou a iniciativa que decorreu a 16 de Outubro organizada pela Câmara de Sesimbra para assinalar o Dia Mundial da Alimentação e do Pão, um encontro que a autarca de freguesia Maria Manuel Gomes categorizou como “importante para a valorização e promoção dos produtos locais [de Sesimbra] como o pão, que a par de outros já é marca registada”.
“Esta certificação é um sinal de qualidade do que se produz nos nossos campos e este trabalho é benéfico para todos, porque assim sabemos que o que vamos consumir é seguro”, destacou ainda.
José Gouveia, considerado um dos maiores especialistas em azeites, esteve presente neste encontro e salientou as origens e produção deste ‘fio de ouro’, particularmente, no distrito de Setúbal: “Esta região já foi muito rica em oliveiras e não é por acaso que, por exemplo, Azeitão ganhou este nome e Sesimbra já foi um concelho importante na produção de azeite”, explicou o engenheiro agrónomo.
Para José Gouveia não há qualquer dúvida de que o verdadeiro suco de azeitona, que faz parte da dieta mediterrânica, “tem muitas potencialidades, benefícios e vantagens na saúde e no bem-estar da população, comprovados cientificamente”. E, no final da sua intervenção, manifestou verdadeira satisfação pela criação de um pequeno olival no concelho de Sesimbra. “Daqui a um tempo talvez já tenhamos algum azeite. A verdade é que esta região era olivícola por natureza, aliás não nos podemos esquecer que aqui existiram lagares de azeite”.
Aliás, recentemente, o vereador da Câmara de Sesimbra José Polido revelava a O SETUBALENSE que está nos planos da autarquia avançar com a produção de azeite no Parque da Ruralidade de Sampaio. “Neste momento estão apuradas cerca de uma centena de oliveiras”, disse.
Entretanto, já está na calha a produção de vinho de uvas do concelho; o Cezimbra 2023 deverá começar a ser comercializado ainda este ano, afirmou também o vereador a O SETUBALENSE.
Tiago Cagica, do serviço municipal de Pescas e Ruralidades da Câmara Municipal de Sesimbra, durante o encontro adiantou que neste momento já foram embaladas cerca de 1 600 garrafas de vinho tinto de Sesimbra e 1 300 de branco. “O seu lançamento está previsto para Novembro”, acrescentou.
O vinho produzido na região também fez parte deste encontro, com Sérgio Pinto e Luís Mendes, da AVIPE – Associação de Viticultores do Concelho de Palmela a salientarem a influência de brisas marítimas, que oferecem noites mais frescas e cargas de humidade maior, a abundância de água nos solos para a qualidade das videiras no concelho de Sesimbra. “Na vinha de Sampaio, em particular, é importante realçar que estamos entre duas bacias hidrográficas e isso influencia o sabor da uva. Falamos de um solo com muito PH e um alto teor de matéria orgânica, o que confere às uvas um gosto muito particular, diferente e não muito comum na região”.
Instalada em 2021, a vinha de Sampaio reúne três mil videiras das espécies mais emblemáticas do município – Moscatel Graúdo, Fernão Pires, Castelão, Arinto e a única e muito apreciada Santa Isabel, uva apenas conhecida no concelho de Sesimbra, e cujo a casta foi registada pela Câmara Municipal em Novembro de 2020, com a marca Uva Santa Isabel Sesimbra – Variedade Tradicional da Região de Sesimbra.
“Neste momento, estamos a estudar as uvas da vinha de Sampaio e a fazer a sua caracterização para perceber o seu potencial e se este vai para lá do seu consumo como fruto de mesa”.
Para alavancar a produção local, em especial na área dos vinhos, Natália Henriques, directora executiva da ADREPES – Associação de Desenvolvimento Regional da Península de Setúbal, deu a conhecer o projecto Enoturismo: Um Mosaico de Experiências e fez saber que este organismo pretende que “os pequenos produtores e os projectos familiares não percam força, por isso, os financiamentos da ADREPES são essenciais e este trabalho de criação de uma rota de vinhos”.
Este é um projecto que está a ser desenvolvido em quatro regiões nacionais entre elas a Península de Setúbal, para que a “actividade turística que se baseia numa viagem motivada pela apreciação do sabor e aroma dos vinhos promova também as tradições e cultura das localidades que produzem a bebida”, esclareceu.
O Dia Mundial da Alimentação e do Pão foi instituído pela União Internacional de Padeiros e Afins, a 16 de Outubro de 2000.