Presidente da Junta da União de Freguesias de Poceirão e Marateca está debaixo de fogo dos seus camaradas nos órgãos autárquicos. Três demitiram-se. José Silvério responde que são “demissionários folclóricos”
O actual mandato de José da Cruz Silvério como presidente da Junta da União de Freguesias de Poceirão e Marateca, concelho de Palmela, está a ficar marcado por demissões no seio da CDU, coligação entre comunistas e verdes que governa a autarquia.
Na última reunião da Assembleia da União de Freguesias, realizada já este mês de Fevereiro, foi anunciada a demissão de Anabela Pagaime, membro do órgão deliberativo, eleita pela CDU (Luciano Pereira, recorde-se, foi o primeiro a renunciar ao executivo, em Maio de 2014). Antes de Anabela Pagaime, em Outubro do ano passado, demitira-se ainda Mário Caldeira, vogal do executivo de maioria comunista.
Nestes dois últimos casos, os eleitos da CDU batem com a porta em rota de colisão com José Silvério, a quem acusam de ser “ditador”.
“Demito-me porque, como disse na carta de demissão, não pactuo com mentiras e falsidades. Não vou andar a calar-me porque nas minhas gentes há um ditador”, afirmou Anabela Pagaime ao DIÁRIO DA REGIÃO.
“Eu faço um convite ao Ministério Público a fazer uma fiscalização àquela Junta de Freguesia. Os funcionários não podem falar, mas eu posso falar, não preciso da Junta para viver, apenas me dediquei à freguesia para servir os fregueses.”, acrescentou a autarca demissionária, reiterando que tanto ela como Mário Caldeira, se demitiram porque não querem pactuar com coisas que são graves.
“Enquanto não se souber que o senhor presidente faz coisas que não são legais, isto não acaba”, conclui Anabela Pagaime.
Segundo Mário Caldeira, José Silvério, “tem atitudes que nada têm a ver com actos democráticos”.
“O senhor José Silvério foi habituado, em 28 anos, a fazer pressão para as pessoas dizerem sempre que sim. Estar ali só para abanar o rabo ao senhor José Silvério, é que não”, disse o ex-vogal ao DIÁRIO DA REGIÃO, considerando ainda que o presidente da Junta se comporta como “um senhor feudal” que “persegue quem está em desacordo com ele”.
José da Cruz Silvério, que é autarca no Poceirão há 28 anos, é um dos mais antigos “dinossauros” autárquicos em funções e a sua relação com o PCP tem vindo a registar uma tensão crescente. Em Setembro do ano passado José Silvério chegou mesmo a comunicar a sua intenção de demitir-se da presidência da junta de freguesia, mas acabou por recuar.
Pouco tempo antes desse episódio foi também publicamente notada a falta de sintonia de José Silvério com as iniciativas da Câmara Municipal de Palmela, também de maioria CDU. Aquando da ‘Semana da Freguesia do Poceirão’, José Silvério não acompanhou algumas das actividades do programa de visitas do executivo municipal e na conferência de imprensa conjunta com o presidente da Câmara, fez questão de marcar o distanciamento, referindo, por exemplo, que as freguesias precisam de atenção municipal permanente e não apenas uma vez por ano.
ENTREVISTA
José Silvério responde a acusações
“São demissionários folclóricos”
Questionado pelo DIÁRIO DA REGIÃO, o presidente da União de Freguesias de Marateca e Poceirão nega ser ditador. Diz que nem sabe o que isso é e garante ser o representante do povo das duas freguesias. José Silvério assegura ainda que nunca anunciou a intenção de demitir-se e, quanto ao futuro, não rejeita completamente a hipótese de recandidatar-se, embora diga que está “muito velho para aturar” algumas coisas
Os membros de órgãos de freguesia que se demitiram acusam-no de ser ditador.
Ditador?
Sim. Acusam-no de ser ditador. Que comentário faz a isso e a estas duas demissões?
Cada um responsabiliza-se por aquilo que diz. Não sei se sou ditador ou não, não sei o que é isso.
Nega qualquer comportamento autoritário na gestão da junta?
Eu estou aqui há 28 e meio, vai para 29 anos. Só a população é que pode responder a uma pergunta dessas. Não posso ser eu a promover-me e a defender-me a mim próprio. A maioria da população é que pode responder se eu sou ditador ou se não sou. E o tempo do fascismo já acabou e ainda se fala nessas coisas?
Então como interpreta estas demissões no seio do seu partido?
Toda a vida houve demissões. E pessoal para trabalhar também tem havido toda a vida. Cada um faz aquilo que quer, as acções que entende. As demissões sem ofenderem José Silvério também não acredito.
Como?
Apresentarem cartas de demissões sem ofenderem o José Silvério também não acredito.
Já está habituado?
Já estou habituado a isso. São demissionários folclóricos.
E quanto ao seu futuro como autarca; este é o último ano?
Não sei. Depende. Eu tenho uma coisa comigo; a maioria da população está dentro de mim. O partido é que sabe. Sou muito responsável e desde 1958 que sou do Partido Comunista Português (PCP).
Da sua parte está disponível para recandidatar-se?
Ainda não sei. Já estou muito velho para aturar coisas que não devo aturar.
Parece que não está com vontade de fazer mais um mandato.
Já são sete mandatos.
Então, certamente não teremos José Silvério candidato à União de Freguesias nas próximas eleições.
Não sei.
Já em Setembro do ano passado o José Silvério anunciou a intenção de demitir-se.
Isso foi mentira. Foi uma mentira confirmada, que não foi de autoria de José Silvério. O José Silvério nunca se demitiu.
Nem teve intenção disso e foi depois convencido a ficar pelo presidente da Câmara?
Não. O José Silvério nunca se convenceu por presidentes de câmara, ou por este ou aquele. O José Silvério é um homem de cabelos brancos, com 77 anos, que tem feito tudo conforme a vontade do povo. Sou o representante do povo nestas duas freguesias.