O socialista diz que Albino foi o “obreiro do 25 de Abril no concelho da Moita”, com o triunfo alcançado nas autárquicas de 2021. E declara-lhe apoio na corrida à liderança da comissão política concelhia
Leva mais de 40 anos disto. Na Moita, foi vereador, com e sem pelouros, e líder da bancada do PS e da oposição na Assembleia Municipal, órgão a que preside desde as autárquicas de 2021, após o histórico triunfo socialista que pôs fim a um reinado até então invicto da CDU no concelho. Em entrevista a O SETUBALENSE e à Rádio Popular FM, António Duro, 71 anos, faz um balanço ao mandato em curso, revela que vai ser implementada gestão de tempos nas reuniões do órgão deliberativo e declara apoio a Carlos Albino, numa análise ao actual momento de divisão no partido.
Se soubesse o que sabe hoje, teria aceitado ser candidato pelo PS à Assembleia Municipal da Moita?
Naturalmente, voltaria a candidatar-me. Costumo dizer que isto é um prémio de carreira. Foram mais de 40 anos a perder eleições, mas a nunca desistir por saber que a razão estava muito mais do lado que eu defendia do que do lado de quem tinha o poder. Agora, se calhar quando já não esperava, tenho de ser sincero, a população quis mudar e tem sido extremamente gratificante.
Que análise faz ao trabalho desenvolvido na Assembleia Municipal durante este mandato?
O que tem sido feito é extremamente positivo. Temos mudado algumas coisas, outras ainda não foram possíveis concretizar. Mas implementámos a Sessão Solene do 25 de Abril que não existia, onde todos os partidos têm a palavra. Todos! Nunca tinha acontecido, inclusive na tomada de posse. Estávamos habituados a entrarmos mudos e a sairmos calados, só falava o poder. Isto foi uma pedrada no charco. São conceitos de democracia completamente diferentes. Depois, temos em projecto a assembleia municipal jovem, que esperamos fazer no próximo ano.
A Assembleia Municipal tem conseguido exercer na plenitude o seu papel de fiscalização sobre a Câmara Municipal?
Julgo que sim. Temos vindo a modificar alguns hábitos.
Ainda mantém a posição que assumiu na última sessão, quando ameaçou bater com a porta se não fosse implementada gestão de tempos nas intervenções nas reuniões?
Foi um desabafo. Não existindo uma grelha de tempos, consoante os temas, os assuntos, é difícil. Quando estou na condução dos trabalhos recebo muitas pressões, através do telemóvel, das várias bancadas e até da minha, do tipo “cala esse fulano”, “já não podemos ouvir este”, “nunca mais saímos daqui”… A assembleia tem de ter as suas ferramentas e estamos neste momento a trabalhar nesse sentido, já temos uma grelha de tempos, digamos, consensualizada.
Já foi adquirido equipamento para isso?
Adquirimos um “software” muito interessante e muito simples, em termos de gestão de tempos, que está testado e preparado para pormos em prática. Isso obriga a uma alteração no regimento.
Já há concertação entre todas as forças políticas?
A gestão dos tempos estava aceite por todos e já começámos a discutir as alterações ao regimento. As coisas estão encaminhadas. Acho que com mais uma reunião fechamos o assunto. A minha ideia é que em Setembro já consigamos trabalhar com tempos.
Que opinião tem sobre a divisão existente no PS local, com fracturas na concelhia e até mesmo entre eleitos?
Isto nasceu, basicamente, de uma das facções, que entendia que o presidente da Câmara, Carlos Albino, não deveria ser o presidente da Comissão Política Concelhia. Acontece que não estamos tão fortes de quadros. Carlos Albino é um jovem e ao liderar a comissão política trouxe-nos à vitória em 2021. Vi o que era um PS liderado por Carlos Albino, com alguma organização e com trabalho realizado, e vi depois…
O mandato desta comissão política termina com três presidências, após as saídas de Nuno Vitório e agora de Maia Marques. E já surgiram duas candidaturas: a de Carlos Albino e a de Paula Póvoas. Acha normal os presidentes de junta declararem apoio a Paula Póvoas?
É um pouco normal. Isto é novo para todos. Esta é a primeira vez que são presidentes de junta, que eu sou presidente da Assembleia Municipal e que Carlos Albino é presidente da Câmara. Temos as juntas a quererem fazer muita coisa. E a Câmara quer fazer também.
Apoia Carlos Albino?
Apoio. Quando surgiram as duas listas fiquei muito chateado, muito triste, e tinha dito que não apoiava ninguém e que batia com a porta no fim disto.
O que o levou a reconsiderar?
Acho que temos de olhar para isto e ponderar: como é que os eleitores vão olhar e ver que se coloca assim de lado o homem que foi o obreiro do nosso 25 de Abril no concelho da Moita, o nosso Salgueiro Maia? Foi ele como presidente da concelhia que nos levou à vitória. A outra facção diz: “Carlos Albino é inquestionável, entendemos é que tem de haver um órgão que tem de ser verdadeiro árbitro entre a Câmara e as juntas de freguesia”. Isto foi entre a Câmara e as juntas de freguesia, basicamente. (…) Nos defeitos e virtudes entre os dois candidatos, reconheço que Carlos Albino tem muito mais perfil para ser presidente da comissão política, para ser um líder, como já provou em 2021, do que a minha camarada e amiga que lidera a outra lista.
Acha que isto é sanável?
Acho. E até gostaria de pedir às pessoas, quer de uma lista quer da outra, que pensem nisto até ao fim, porque acho que é mais aquilo que nos une do que aquilo que nos desune. Às vezes há aqui um bocadinho de egos pessoais, de parte a parte.
Já falou com Eurídice Pereira, presidente da distrital do PS?
Sobre esse assunto não tenho falado muito. Ela não tem querido imiscuir-se. Para nós ela é a nossa Eurídice. Quer manter uma certa neutralidade, até porque um presidente de junta é seu irmão. E ela pretende que nós resolvamos os problemas internamente entre nós.
Está disponível para se recandidatar?
Fica em aberto. Carlos Albino gostava que eu me candidatasse com ele, eu gostaria que fosse dado um lugar a alguém novo e eu ir para as pantufas, mas ainda está tudo em aberto.