28 Abril 2024, Domingo
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Fábrica da Coca-Cola em Azeitão atinge neutralidade carbónica

João Haderer, director da fábrica, explica aposta na sustentabilidade. Até final de Março fica pronta a expansão da unidade que vai permitir concentrar a operação da empresa em Setúbal

 

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A fábrica da Coca-Cola Europacific Partners (CCEP) em Azeitão, concelho de Setúbal (próxima da zona de Cabanas) conseguiu, no ano passado, a certificação de neutralidade carbónica (PAS 2060:2014), num passo que o director da fábrica considera essencial para a afirmação desta unidade como uma referência de sustentabilidade ambiental entre as mais de 60 fábricas que o grupo detém em dois continentes.

Em entrevista a O SETUBALENSE, João Haderer revela que a expansão da fábrica está quase concluída, com um novo armazém que praticamente duplica a capacidade e que permite à empresa concentrar em Azeitão boa parte da operação em Portugal.

A fábrica de Azeitão da CCEP obteve recentemente a certificação de neutralidade carbónica. O que significa isso para a organização?

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Essa foi uma das melhores notícias que recebemos em 2023 e é resultado de um trabalho, que começou há alguns anos, de uma equipa com muita experiência e com um grande foco, sobretudo nos processos produtivos, mas também nalguns outros projetos, para a melhoria da nossa operação na fábrica. Foi uma grande alegria termos conseguido obter esta verificação.

Esta verificação é uma especificação internacional que demonstra os resultados líquidos em emissões de carbono, através de um processo acreditado por uma consultora internacional que se chama LRQA. Eles observam a nossa operação, veem uma série de indicadores, sobretudo associados à redução de CO2, como rácios de energia e rácios de água. Isto é uma evolução, desde o ano de 2010, e, depois desses primeiros resultados, a entidade certificadora requer um plano a três anos com a implementação de uma série de projectos. Passados os três anos, os resultados são verificados para determinar se cumprimos e se a certificação é renovada.

Esses projectos de que está a falar traduzem-se em que trabalho prático na fábrica?

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Temos vários, de melhoria das condições na fábrica, nos processos de produção e também na logística, onde um dos projectos é a utilização da eletricidade 100% renovável. Para isso instalámos um parque fotovoltaico, em 2023. Estamos a falar de um total de 21 mil metros quadros de painéis fotovoltaicos com uma autossuficiência a rondar os 20%. Numa primeira fase foi feita a instalação no teto de um dos nossos armazéns e, na segunda fase, em solo, que até dá para ver da estrada. E já temos aprovada uma terceira fase, com mais 20 mil metros quadrados, para este ano de 2024, que nos vai permitir ter uma autossuficiência de cerca de 40%. Há um grande foco na instalação de painéis fotovoltaicos.

Para além disto, substituímos todos os empilhadores, que eram a gás natural, por novos, a bateria, e já temos a nossa frota de empilhadores 100% eléctrica. Mudámos também o sistema de iluminação e, por fim, temos agora uma grande vantagem que é o arranque do novo armazém. É o nosso grande projecto de expansão, que vai permitir concentrarmos uma grande parte da operação aqui em Azeitão e obter uma redução significativa da nossa pegada de carbono pela diminuição significativa do movimento de camiões.

Pode explicar melhor que expansão está a ser feita na fábrica?

A expansão do armazém, pela qual estávamos a lutar há anos. Não foi fácil, tivemos de trabalhar muito, em conjunto com a Câmara [de Setúbal] para conseguirmos levar avante este projecto. O armazém actual é de 12 mil metros quadrados e a Coca-Cola tem crescido tanto em vendas em Portugal que a operação precisava de se expandir e ter maior capacidade, tanto do ponto de vista de produção, quanto de armazenagem. Estamos a falar de um investimento de cerca de 8 milhões de euros, apostámos muito, e é uma expansão que nos vai permitir ganhar flexibilidade com esse grande objetivo de continuar a acompanhar este crescimento que se tem verificado em Portugal na nossa marca.

Então a área de armazém vai passar dos 12 mil para quantos metros?

Para 22 mil metros quadrados porque este novo armazém tem à volta de 10 mil metros quadrados. Quase duplicamos a nossa capacidade.

E quando ficará pronto?

A equipa de engenharia responsável pelo projecto disse-nos que até ao final deste trimestre iriamos ter a chave na mão para podermos iniciar a operação. Depois é uma questão de fazer a transição, mas isso já são questões operacionais.

João Haderer, director da fábrica da CCEP em Azeitão

Voltando à questão da sustentabilidade ambiental, qual é a posição relativa da fábrica de Azeitão comparativamente com as demais fábricas da CCEP?

Do grupo, eu diria que muito boa. Estamos a falar de umas 60 unidades, dentro do universo Coca-Cola Europacific Partners, em toda a Europa, na Ásia e no Pacífico, nomeadamente na Austrália, Nova Zelândia, Indonésia, e agora, mais recentemente, também nas Filipinas. Estamos a falar de 30 países, e a nossa fábrica aqui em Azeitão foi uma das primeiras a conseguir garantir a neutralidade carbónica. Queremos continuar a trabalhar na sustentabilidade para conseguirmos ser uma referência dentro do grupo. É uma das nossas apostas.

Mesmo em indicadores específicos, como na autonomia energética em que a meta em Azeitão, como disse, é chegar a 40% em breve?

Até 2040. Sim. Queremos chegar aos 40% de autonomia energética.

Nesse indicador esta fábrica também é uma das mais avançadas do grupo?

Esta é uma das mais avançadas do grupo do ponto de vista de instalação de um parque fotovoltaico. Já começamos a ter instalações noutras unidades, mas a que está mais avançada é a nossa operação.

Está em primeiro lugar?

Sim. E temos de dizer que o clima ajuda muito, comparado, por exemplo, com os países nórdicos. Outra vantagem é que temos espaço. Construídos temos cerca de 55 mil metros quadrados, mas de terreno temos um total de 265 mil metros quadrados o que nos permite ir avançando com este projeto.

Quais são os objetivos, da CCEP em geral e em particular da unidade de Azeitão, nesta matéria da sustentabilidade ambiental?

Um dos objetivos do grupo, para toda a cadeia de valor, é atingirmos a neutralidade carbónica até 2040. O objectivo global é sermos neutros em emissões. E, até 2030, conseguir uma redução de pelo menos 30%.

Qual é a situação actual?

Em 2019 e 2022 que são os últimos dados que temos, – 0s números de 2023 ainda estão a ser consolidados – conseguimos reduzir 20,4%. Portanto, se reduzimos 20% em quatro anos, já fizemos uma boa parte do caminho e estamos numa boa posição estamos numa boa posição para atingir os 30% até 2030.

Neste momento estamos muito concentrados em garantir a implementação dos vários projetos fixados, por esta certificação, para estes três anos, que terminam em 2025. Queremos ser pioneiros na sustentabilidade e uma referência para o todo grupo.

A fábrica de Azeitão também consome água e utiliza plástico. Nestes dois domínios o que está a ser feito para haver sustentabilidade?

Vamos por partes. Primeiro a água, que tem sido um tema cada vez mais actual, sobretudo no Algarve onde a seca é mais complicada. Têm sido tomadas medidas pelo Governo e pelos municípios, no sentido de haver um uso mais responsável de água, e aqui, na nossa operação, também não somos indiferentes a isso. A água é o principal ingrediente que colocamos nas nossas bebidas, e temos procurado, ao longo dos anos, fazer um uso mais responsável. O nosso rácio actual, em que estamos bastante comparativamente com outras operações, é de 1,55. Significa que por cada litro de bebida gastamos 1,55 litros de água. Tem sido uma redução muito significativa nos últimos anos. Por exemplo, relativamente a 2010, a redução é de 30%.

E está a ser trabalhada uma série de projectos e parcerias com a própria companhia Coca–Cola, no sentido de promover a reposição de mais e melhor água à natureza. O que estamos a fazer também no processo produtivo é ter uma visão de sustentabilidade a médio e longo prazo em que cada projeto que implementemos tenha uma lógica por trás. Por exemplo, pretendemos que o desperdício, este excedente de água na produção, seja utilizado para outro fim, como para regar o jardim da fábrica.

A CCEP tem-se envolvido também na sensibilização ambiental, com diversos projectos como o ‘Mares Circulares’ ou o ‘Prémio Avançamos Setúbal’. A ideia é envolver a comunidade?

Sim e temos tido muitos projectos, não só em parceria com companhia, mas também com as comunidades locais. ‘Mares Circulares’, associado às questões da literacia para os oceanos e problemática do lixo marinho, a plantação de árvores para restaurar as áreas ardidas pelo grande incêndio de 2012 no Algarve, e uma série de iniciativas com que pretendemos estar cada vez mais perto da comunidade e incentivar a que se faça uma gestão responsável de todos os recursos.

 Ainda não falámos do plástico.

Também estamos a apostar na redução do plástico virgem, utilizado nas nossas embalagens. Por exemplo, já eliminámos o plástico com coloração para melhorar a sua reciclabilidade. Tínhamos algumas marcas, casos de Fanta e de Sprite, com uma cor diferente, o que dificultava a circularidade da embalagem. O que fizemos foi uniformizar para ser tudo incolor.

No formato de 500ml, e em todas as medidas que não são carbonatadas, que não têm gás, o plástico que usamos já é 100% reciclado, excluindo tampa e rótulo. No resto de embalagens ainda estamos num valor a rondar os 30%, mas continuamos a trabalhar numa série de processos para chegarmos aos 100%.

O crescimento que referiu é basicamente no produto tradicional, na Coca–Cola, ou também nas outras marcas?

O crescimento tem sido em todas as marcas. A nossa área de vendas tem feito um excelente trabalho junto dos nossos clientes e não podemos esconder que o turismo também ajuda muito. Temos conseguido aproveitar muito bem a tendência de crescimento no turismo.

Esse crescimento tem tido correspondência no emprego?

Tem. A expansão do armazém é um exemplo claro. Há uma parte da operação que vai ser centralizada agora aqui na fábrica de Azeitão. Isso vai forçosamente gerar mais emprego, porque vamos ter muito mas caixas para preparar, muito mais camiões e muito mais para produzir. Isso fará com que precisemos de mais mão-de-obra para acompanhar este crescimento, o que vai ser bom também para a comunidade, neste caso para o distrito de Setúbal.

 

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