30 Abril 2024, Terça-feira
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“Para combater a ‘desmemória’”: Livro que mostra Setúbal no final do Estado Novo já está aí

Albérico Afonso Costa apresenta segundo volume sobre a resistência de Setúbal a Salazar e Marcelo Caetano

 

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O segundo volume da obra ‘Setúbal sob o Estado Novo: a resistência a Salazar e Caetano’, do historiador setubalense Albérico Afonso Costa foi apresentado esta quinta-feira com a sala da Biblioteca Municipal de Setúbal cheia, apesar da noite de chuva e frio.

“Se o livro contribuir para combater a desmemória que grassa por Setúbal e pelo mundo, já terá valido a pena”, afirmou o autor, já no final, e para justificar a associação do lançamento da obra ao plano de comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, denominado ‘Venham mais vinte e cincos”.

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O volume, de 458 páginas, trata o período dos últimos 24 anos antes da queda da ditadura, num retrato de Setúbal de 1950 a 1974 repartido por cinco capítulos: ‘Os anos cinquenta: Uma amarga ressaca’, ‘A campanha presidencial de 1958’, ‘A década de sessenta: os últimos anos da governação salazarista’, ‘A presença dos católicos no crepúsculo do Estado Novo’ e ‘O marcelismo’.

Os cinco capítulos, que se dividem em 80 temas, tratam os grandes momentos políticos e sociais desse período, desde as diferentes eleições que ocorreram em Setúbal, como as de 1968, em que Humberto Delgado concorreu a Presidente da República, e as legislativas de 1969 e 1973.

O quarto capítulo foi destacado tanto pelo professor João Madeira, investigador do Instituto de História Contemporânea, como o mais importante e o próprio autor sublinha também essa parte do trabalho.

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“Neste capítulo integro uma dimensão que era até há pouco tempo desconhecida, e por isso a sublinho, que é a existência de uma forte e importante resistência dos católicos sociais em Setúbal. Isso é uma grande novidade ao nível da investigação histórica local.”, destaca.

O que Albérico Costa concluiu é que os católicos tiveram um papel muito relevante no apoio a uma população pobre e desprotegida através de grupos como a Fraternidade Operária das Praias do Sado, um grupo de padres, leigos e seminaristas inspirados pelo Concilio Vaticano II.

“A Fraternidade das Praias do Sado faz um trabalho notável, na alfabetização, com aulas para adultos ou a dar injecções. Os padres substituem-se, a diversos níveis, ao Estado social.”, recordou o historiador, acrescentando que os padres andavam nas fábricas, junto aos operários e que “toda esta actividade desesperava a policia política”.

A actividade do Circulo Cultural de Setúbal era outra dor de cabeça para a Pide. “Era a mãe de todas as perversões” para a mentalidade do regime, refere Albérico. “Fiquei abismado com os relatórios da polícia política, que estava em pânico” com a situação em Setúbal.

Além dos autarcas, nomeadamente o vereador da Cultura, Pedro Pina, e do presidente da Junta de Freguesia de São sebastião, a apresentação do livro contou com a presença de vários resistentes que viveram os últimos anos da ditadura em Setúbal, como o médico Mário Moura, ou em Palmela, como Carlos Sebastião Lopes, e até do último preso político da região, Adilo Costa.

Outro convidado para a sessão foi o professor universitário Carlos Vieira de Almeida, autor de dois livros sobre Setúbal, e membro da Fraternidade Operária das Praias do Sado nos tempos em que era seminarista.

Carlos Vieira de Almeida tem reflectido sobre o que é ser setubalense expressou a ideia de que Setúbal é uma “pequena micrópole” que deveria afirmar-se como capital dos concelhos da Sado-Arrábida, Setúbal, Sesimbra, Palmela, Alcácer do Sal e Grândola.

Com este segundo volume, Alberico Costa tem sete livros publicados, em 12 anos, sobre a história contemporânea de Setúbal, desde a implantação da República até 1976.

O historiador apresenta esta obra como fruto da “responsabilidade” que sente, enquanto professor do ensino superior para com a sociedade. “Os professores podem dar um contributo para que os jovens não se sintam estrangeiros na sua própria terra”, disse Albérico Afonso Costa que “não concebe” que o programa do ensino de História seja igual em todo o País, sem atenção às especificidades locais.

 

Pedro Pina: “Este livro é importante para os jovens conhecerem o 25 de Abril”

A edição do livro insere-se no vasto programa municipal de comemoração dos 50 anos do 25 de Abril o que, para o vereador da Cultura da Cãmara de Setúbal, é particularmente útil e oportuno.

“Num tempo em que assistimos a uma vaga global do recrudescimento de movimentos reacionários, de extrema-direita, revisitarmos a história, pelo conhecimento e pela investigação, em particular a história de Setúbal, é um contributo muito importante para as novas gerações conhecerem e terem bem presente o que foi a luta e a resistência daqueles concidadãos que lutaram pela liberdade”, disse Pedro Pina a O SETUBALENSE.

“A liberdade é um valor que deve ser inalienável na nossa vida e na nossa civilização e, nesse âmbito, este livro é também um elemento muito importante das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril”, defendeu o autarca.

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