6 Maio 2024, Segunda-feira
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D. Américo Aguiar: “Este território é decisivo para o sucesso do próprio País”

O Cardeal realça as qualidades e potencialidades da Península de Setúbal. Fala dos problemas no SNS, do papel dos autarcas e do Estado, da actualidade política e deixa um alerta: “As eleições de 10 de Março não são um plebiscito ao caso ‘Influencer’”

 

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Começou por ser autarca e benfiquista. Hoje é Cardeal, Bispo de Setúbal e portista, embora já tenha cartão de sócio do Vitória Futebol Clube. Em entrevista a O SETUBALENSE e à Rádio Popular FM, D. Américo Aguiar, 49 anos, faz um primeiro retrato à região, que não é, garante, tão negativo como aquele que perdurou desde os anos de 1980.

“Temos problemas, dificuldades, mas somos uma comunidade, uma sociedade, com um potencial que até ultrapassa muitas outras regiões do País… Temos de ter amor próprio. Nós somos bons”, diz o Prelado, que não se escusa a abordar o processo de denúncias de abusos sexuais na igreja. De frente e com transparência.

Já se apresentou a autarcas, forças de autoridade, deputados, misericórdias e outras instituições. Está concluído este périplo pela região ou ainda faltam algumas apresentações?

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Ainda falta um bocadinho. Ainda faltam algumas autarquias, também os partidos políticos com representação, entidades digamos de nível distrital… ainda faltam algumas. Acredito que, até chegar o Menino Jesus, as principais instituições das mais diversas áreas da Península de Setúbal, ficarão feitas, naquilo que é a minha obrigação, de uma visita de cortesia, mas também de tomar o pulso e tomar noção sobre os pontos fracos e os pontos fortes, os desafios, as oportunidades, dos agentes e protagonistas do território.

Ou seja, até final de Dezembro?

Acredito que sim. Depois entramos em piloto-automático.

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Do que lhe foi dado a observar nestes primeiros contactos, que retrato é possível para já fazer à região? O que lhe inspira maior preocupação?

Primeiro uma correcção da fotografia que eu como a maioria dos portugueses temos de Setúbal. Temos uma fotografia afixada no tempo, nos anos 80 [do século passado], de fome, de bandeiras negras, de problemas muito graves. Felizmente a fotografia não é essa, temos problemas, dificuldades, mas somos uma comunidade, uma sociedade, com um potencial que até ultrapassa muitas outras regiões do País, com competência, com capacidade instalada e com força e capacidade de acreditar e confiar. Isto é o que tenho recebido dos autarcas, das instituições, portanto é preciso também amor próprio e capacidade de acreditar. Nós somos bons e temos coisas muito boas, que fazem depender muitas coisas do próprio País. Estive ainda agora a ouvir os responsáveis do Porto de Setúbal, fiquei mais uma vez convencido de que este território tem cartas a dar, em áreas decisivas da economia e da actividade do próprio País. Acho que é preciso corrigirmos um bocadinho ou muito ou na totalidade uma imagem negativa, miserabilista, daquilo que possa ser a fotografia da Península de Setúbal.

Já se reuniu com todos os presidentes de câmara da Península de Setúbal?

Ainda faltam, está quase. As marcações já estão feitas com todos. Acho que já passei a barreira da metade, então acho que está a terminar.

Qual dos autarcas mais o impressionou e qual das mensagens que lhe transmitiram mais o tocou?

Todos eles estão com um olhar muito positivo, quanto ao futuro. Todos eles têm consciência das dificuldades, dos desafios, e estamos a falar de realidades muito diferentes [de concelho para concelho], desde logo em termos orçamentais. Temos as delegações de competências para os municípios com a transferência das dificuldades, dos problemas… ora, se isso não for acompanhado da capacidade financeira para concretizar, temos aqui problemas maiores para os autarcas, que é conseguirem fazer mais omeletas com menos ovos ou sem nenhum.

Aí depende do Estado?

Sim, mas eu, que fui autarca, também sei que é possível fazer mais, é possível fazer melhor e é possível fazer com menos meios localmente. Portugal está melhor nestes últimos 50 anos, muito por causa do municipalismo, que foi responsável por uma melhoria da qualidade de vida.

Participou na última vigília pelo Serviço Nacional da Saúde promovida pelos municípios de Setúbal, Palmela e Sesimbra. Sinal de que a região vai contar com um bispo mais participativo, mais interventivo, reivindicativo nas causas das nossas comunidades?

Não sei se é mais se é menos. O que sei é que o Papa Francisco pede que os pastores andem à frente das comunidades, quando é preciso puxar, que se localizem atrás para recolher e acompanhar os mais fracos, os mais esquecidos e os descartados, e que andem também no meio quando é preciso sentir a pulsação àquilo que são os projectos, as vidas e os sonhos. E é isso que tentarei fazer. Aquilo que disse nessa vigília é que não estava ali contra ninguém, não é esse o meu papel.

O que retirou de positivo dessa acção?

O que é importante é que os gritos das necessidades, das dificuldades, nunca deixem de ecoar por falta de comparência, de interesse, de sinalização. Temos um problema no SNS, temos os mesmos profissionais para cada vez mais respostas. Temos de encontrar uma solução de maneira a que esses profissionais se realizem pessoalmente, possam corresponder àquilo que são os seus desejos, sonhos e projectos materiais, de forma a que se possa corresponder a tudo.

Acha que isto vai lá apenas com este tipo de acções ou são precisas outras formas de actuação para que quem decide resolva efectivamente?

Todos os agentes com responsabilidades na área têm de se sentar e ter consciência que nós somos limitados, o número de funcionários é limitado, nós não podemos estourar com a vida desses profissionais. Tenho visitado também os hospitais e vejo que não é por falta de entrega, dedicação, de todos. Agora, isto tem um limite para todos, que é chegarmos ao fim e estarmos todos esgotados, as administrações, os profissionais, os utentes, e quebrarmos uma coisa que é fundamental, que é a confiança. Não podemos quebrar a confiança nem no Sistema Nacional de Saúde nem na Educação, na defesa…

Se há alguém que tem as portas abertas junto dos mais altos representantes da nação é D. Américo Aguiar. Isso pode ser uma vantagem para Setúbal?

Em toda a minha vida nunca gostei de solucionar um problema a alguém que levante problemas a outros. Temos muitos problemas no País, na nossa sociedade, por causa disto, tentamos ajudar a resolver um problema e às vezes não temos em conta um pormenor que se chama bem-comum.

Que leitura faz ao momento que estamos a atravessar com a queda do Governo, a demissão de António Costa que conhece bem, tal como Marcelo Rebelo de Sousa?

Em primeiro lugar, atendendo até a que conheço os protagonistas, desejar que tudo se esclareça. O pior que pode acontecer a qualquer um de nós, a existir uma denúncia ou uma suspeita, é ficarmos a marinar durante um tempo em que depois, quando se conclui o que quer que seja, já não é propriamente justiça porque passou o tempo aceitável. Mas isto é o quotidiano dos portugueses, infelizmente. O que peço é a todos os profissionais e todas as autoridades competentes é que esclareçam [tudo] no tempo útil necessário, sem atropelar procedimentos. E depois também peço aos agentes políticos que até 10 de Março coloquemos o foco nos problemas dos portugueses e na solução que cada um tem. O pior que pode acontecer é no dia 10 de Março nós irmos votar no caso “Influencer”. As eleições não são um plebiscito ao caso “Influencer”.

Que visão tem para a Península de Setúbal, onde considera ser mais prioritário centrar as suas atenções?

O prioritário é sempre as pessoas. Tem de ser sempre a minha prioridade e a prioridade dos decisores políticos. Não adianta nada construímos castelos que não sejam para as pessoas. Qualquer projecto que não signifique a felicidade dos cidadãos não vale a pena lutar por ele. Agora, vejo que este território tem potencialidade, tem trabalho e caminho feito, é um território decisivo para aquilo que pode ser também o sucesso do próprio País.

E por que não tem sido tão decisivo como poderia?

Olhe, por exemplo, a discussão da NUTS. Este tempo todo de fundos europeus e o facto de fazer parte de uma Área Metropolitana de Lisboa com níveis estatísticos, níveis de remuneração, que fez de arrasto com que os territórios à sua volta, que infelizmente não usufruíam na realidade desses valores, tivessem sido prejudicados. Isto aconteceu nas últimas décadas, ao ponto de ter sido alterado e de ser uma oportunidade de futuro esta nova realidade, daquilo que possam ser os fundos europeus para tentar corrigir, melhorar e rasgar novos horizontes para aquilo que é a capacidade instalada na Península de Setúbal.

Já tomou o pulso ao processo de denúncias de abusos sexuais na igreja portuguesa, em geral, e na Diocese de Setúbal, em particular?

Sim. Logo no primeiro sábado tive um encontro com a Comissão Diocesana que tem o seu regulamento, aliás no último plenário dos Bispos deu-se mais um passo para que todos os procedimentos em todas as dioceses, em todas as comissões, sejam iguais. É um caminho que estamos a fazer. Ponto um, o lugar de prioridade neste dossier é das vítimas; ponto dois, quando andamos com as prescrições canónicas, jurídicas e legais, a dor das vítimas não prescreve; depois, na nossa diocese, o ponto de situação é que não temos em trânsito nenhuma situação a ser avaliada, a ser acompanhada.

O Papa Francisco pediu-lhe para ter Setúbal no coração. E a possibilidade de Setúbal poder vir um dia a estar representada no coração do Vaticano?

Temos um Papa e Deus queira que o tenhamos durante muitos anos, porque o que está a fazer é muito importante para a Igreja, para o mundo. Deus quis que hoje em dia a única autoridade moral do mundo seja o Papa Francisco, infelizmente atendendo às guerras, aos conflitos e aos disparates de geopolítica internacional. A eleição de um novo Papa é a única coisa que me faz tremer as pernas…

Um Papa que pode um dia ter passado pela Diocese de Setúbal?

Pode um dia ter passado pela Diocese de Setúbal, pelas dioceses dos cardeais que lá estão…

Visita Bispo assina O SETUBALENSE

D. Américo Aguiar esteve nesta terça-feira nas instalações d’ O SETUBALENSE. O novo Bispo de Setúbal conheceu o jornal mais antigo de Portugal Continental e tornou-se assinante do periódico. Um mês após tomar posse como líder da diocese, o também Cardeal esteve com os funcionários da ‘casa’ e mostrou ser um conhecedor da história e do funcionamento do jornal.

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