27 Abril 2024, Sábado
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Carlos de Sousa: “A forma como o presidente lida com os vereadores da oposição é muito má”

O autarca acusa Álvaro Amaro de ter “tiques de centralismo”. Defende que o IMI já devia estar no mínimo pela boa situação financeira que Palmela apresenta. E desabafa: “Bastaram os anos que passei na Câmara de Setúbal a equilibrar contas, quando aquilo estava na falência técnica”

 

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Já presidiu às câmaras municipais de Palmela (1994-2001) e Setúbal (2001-2006), eleito pelo PCP. Desvinculou-se do partido e nas últimas autárquicas voltou a candidatar-se a Palmela, sendo eleito vereador pelo Movimento dos Cidadãos pelo Concelho de Palmela (MCCP). Em entrevista a O SETUBALENSE e à Rádio Popular FM, Carlos de Sousa, 72 anos, faz o balanço aos primeiros dois anos de mandato do executivo.

Dá nota “negativa” à gestão CDU, liderada por Álvaro Balseiro Amaro, ao mesmo tempo que acusa o presidente da Câmara de falta de democracia e de tratamento “ríspido” para com o vereador do PS, por este deter pelouros. Critica “a limpeza urbana, a rede viária, o urbanismo e a falta de sensibilidade para aquilo que têm de ser os espaços verdes”, face às alterações climáticas, defendendo a criação de um “pulmão verde, um mini Monsanto”, em Pinhal Novo. E não abre mas também não fecha a porta a uma recandidatura em 2025.

Que leitura faz de toda esta situação com a demissão do primeiro-ministro?

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Fomos surpreendidos. Este Governo tem tido aqueles casos e casinhos. O que, para mim, não são casinhos, porque o que aqui está em causa são questões muito profundas, que têm a ver com a ética.

Como tem sido a sua relação com o presidente da Câmara de Palmela, Álvaro Balseiro Amaro? Melhorou?

A minha relação com o actual presidente Álvaro Amaro já é antiga. Conheci-o até antes de ele ter sido presidente da Junta de Pinhal Novo, no âmbito do PCP. Não posso dizer que a relação pessoal tenha sido má. Obviamente que, quando me candidatei [à Câmara em 2021], durante uns meses notava que a forma como ele me tratava era um bocado fria. E posso perceber isso. Andámos no mesmo partido. Tivemos uma relação intensa, ele presidente da Junta e eu presidente da Câmara, durante vários anos. Pode ter-se sentido magoado com a minha decisão de concorrer. É natural, mas a relação pessoal mantém-se normal.

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E enquanto vereador?

Não é boa. Porque não estou de acordo com a forma como o actual presidente exerce a democracia na Câmara Municipal. A forma como lida com os vereadores da oposição é muito má. É absolutamente contrária à forma de quando eu estava no poder. [No âmbito das] Semanas das Freguesias, ferramenta da democracia que eu trouxe para Palmela, eu convidava sempre para tudo todos os vereadores da oposição. Agora, durante uma semana, estamos uma manhã com o presidente da Câmara e os vereadores da CDU. Não é a forma de se exercer democracia. E depois há outros pequenos tiques de centralismo (e estou a ser simpático). Só para se ter uma noção: há duas ou três semanas, eu disse que iria reencaminhar um e-mail de um cidadão à vereadora Maria João Camolas e ele disse-me para enviar para o Gabinete da Presidência, que de lá é que distribuía tudo para os vereadores. Já me tinha acontecido antes, quando eu disse que gostava de ter uma reunião com o vereador ou, de preferência, com o presidente do Conselho de Administração da Palmela Desporto. E a verdade é que o presidente me disse: “Não, não. Pode marcar a reunião comigo, que dir-lhe-ei tudo o que há para dizer sobre a Palmela Desporto.”

Partilha da opinião do vereador do PSD, Paulo Ribeiro, de que há um défice democrático na gestão da CDU. É isso?

Não tenho a mínima dúvida.

O MCCP viabilizou a presidência da Assembleia Municipal ao PS. Foi a decisão mais correcta ou está hoje arrependido?

Sabíamos todos que a CDU tinha maioria relativa. Decidimos no MCCP estarmos abertos a discutir com o PCP/CDU [um acordo], mas englobando Câmara Municipal, Assembleia Municipal e todas as juntas de freguesia. A junta de Pinhal Novo falou connosco, a junta de Quinta do Anjo falou connosco, Palmela, do PS, convidou-nos a fazer parte do executivo e aceitámos, porque tinham ganhado a Junta. Na Assembleia e na Câmara Municipal não tivemos nenhuma reunião [com o PCP/CDU] para discutirmos um possível acordo. O PS propôs-nos a constituição de uma Mesa da Assembleia Municipal que incluísse o MCCP e dissemos sim.

Mas hoje está satisfeito ou arrepende-se?

Não estamos arrependidos, porque acho que o actual presidente da Assembleia Municipal, José Carlos de Sousa, tem feito um bom papel. Está a exercer a democracia à frente da Assembleia Municipal. Que eu saiba não há nenhum partido que se queixe da sua actuação.

Que balanço faz ao trabalho desenvolvido pelo executivo camarário?

É negativo, comparando com o que vinha de trás. As principais críticas que fizemos na campanha eleitoral mantêm-se actuais. A limpeza urbana, a rede viária, as questões gravíssimas do urbanismo, a falta de sensibilidade para aquilo que têm de ser os espaços verdes, para as questões climáticas… tudo isso está na mesma.

Não notou qualquer evolução na higiene urbana, na rede de águas e nas vias rodoviárias? Não considera que tenha havido aí investimento?

[Isto] Tem acima de tudo a ver com tomadas de decisões estratégicas. As questões são diferentes de freguesia para freguesia. Quem está na Assembleia de Freguesia de Quinta do Anjo diz que se nota uma melhoria na limpeza, mas aí é fundamentalmente o trabalho da Junta. Em relação à limpeza urbana, no global, o número de queixas que recebo de cidadãos, por exemplo em relação a Pinhal Novo, continua a ser igual às que já conhecia anteriormente.

Esse não é um processo transversal a todos os municípios, que passa muito pela consciência cívica e pelo serviço que é prestado pela Amarsul?

Tem toda a razão. Uma parte significativa tem a ver com a falta de civismo, de cidadãos individuais ou de pequenas empresas ligadas à construção civil, não só do nosso concelho como de concelhos vizinhos, que contribuem para as lixeiras que vemos. Por isso é que nós, no início do mandato, fizemos uma proposta ao senhor presidente da Câmara, para que fizesse uma campanha de higiene, sensibilização sanitária, com uma duração mínima de quatro anos e diversos públicos-alvos. Caiu em saco roto.

E porquê? Por ter partido de si?

Não. Até porque o vereador da higiene e limpeza, Pedro Taleço, é do PS. Quando me perguntam quem faz oposição dentro da Câmara, costumo dizer que há o MCCP e o PSD. O PS tem grande dificuldade em fazer oposição, porque tem um vereador com pelouros.

Considera, tal como o vereador Paulo Ribeiro, que é possível fazer oposição tendo pelouros, mas que isso não tem acontecido no executivo com o vereador do PS?

É possível fazer. Mas uma coisa que já notei algumas vezes é que quando Raul Cristóvão [que foi cabeça-de-lista do PS à Câmara] faz uma crítica, ela é aceite de uma forma pelo presidente da Câmara. Se for Pedro Taleço a colocar uma questão, a forma como o presidente da Câmara responde é muito mais ríspida, mais dura, quiçá às vezes indelicada. Há diferenças? Há. É que Pedro Taleço é funcionário da Câmara Municipal. E quando o presidente da Câmara responde dessa forma, fala como presidente, enquanto membro da CDU, a responder a um homem do PS, mas ao mesmo tempo, no seu subconsciente, está a falar para um seu funcionário.

Como analisa o trabalho do vereador Pedro Taleço?

Quando digo que em relação à limpeza urbana, à fiscalização, há uma série de coisas que estão mal, o vereador é ele. Mas quando ele diz que não tem fiscalização, é verdade. Tem meia-dúzia de fiscais para fazer todas as tarefas camarárias num concelho com 460 quilómetros quadrados. Ele não consegue impor-se ao presidente da Câmara para ter meios para fazer, como deve ser, o seu trabalho como vereador.

Reconhece alguma virtude à actual gestão da CDU?

É difícil encontrar. Falei atrás em dois ou três aspectos. Por exemplo, nas alterações climáticas, se virmos as decisões que vários municípios na Europa estão a tomar para tentarem equilibrar os efeitos negativos do aumento médio da temperatura, verificamos que aqui continua tudo na mesma. Em Palmela continua-se a colocar alcatrão nos aceiros exactamente como eu fiz há 25 anos, mas naquela altura essa era uma matéria sobre a qual praticamente não se falava. Existem meios alternativos, como o “solo-cimento”. Não estou a dizer para as grandes estradas, mas para os nossos aceiros… Já por várias vezes sugeri e expliquei o que era o”solo-cimento” e o presidente da Câmara continua a pôr alcatrão, como no Aceiro do Anselmo, ainda por cima uma obra mal feita. Ele não ouve minimamente as sugestões que lhe fazemos.

Não vê a requalificação da Ribeira da Salgueirinha como um contributo para o combate às alterações climáticas?

O principal objectivo foi a regularização dos caudais de água, quando chove muito. Plantar duas árvores de um lado da ribeira e mais duas ou três do outro lado, isso é algum pulmão verde? Não. É bom? É. Mais vale plantar aquelas do que nenhumas. Agora há aqui o Pinhal Novo Verde, que é no lado sul da vila. É um projecto engraçado. Vão plantar mais meia-dúzia de árvores. Mas o que se exige não é isso. Precisamos de criar um pulmão verde com muitos hectares, um mini Monsanto, a pensar na nossa vila, quase cidade, Pinhal Novo, para daqui a 20 ou 30 anos.

Facto é que, apesar de no seu tempo de presidente não se falar tanto em alterações climáticas, nunca o fez. Podia tê-lo feito ou não?

Podia, se nessa altura já conhecêssemos as conclusões científicas de hoje.

Mas já se conheciam os benefícios…

Mas a sustentabilidade na altura era vista de outra forma. Há 20 ou 30 anos não se sentia essa necessidade como se sente agora.

Votou contra a descida do IMI. Por que não optou pela abstenção?

Porque achava que deveríamos ter ido para o valor mínimo. O senhor presidente fala muitas vezes, e não duvido, basta ver os números, que a situação financeira de Palmela é muito boa. A capacidade de endividamento continua a ser muito boa. Se em paralelo vemos problemas sociais gravíssimos, obviamente que, tendo toda a disponibilidade financeira, a Câmara Municipal se tivesse essa sensibilidade poderia ter descido para 0.30 já em 2022.

Mas por que não optou pela abstenção?

Porque achei que o voto contra era o voto com mais força, que exprimia o nosso desagrado. É uma tomada de posição política. A Câmara Municipal com o apoio do PS continuou impávida e serena com aquilo que tinha sido apalavrado há vários anos, de descer a taxa paulatinamente. Se não tivéssemos a actual situação de quase emergência social, provavelmente votaria a favor ou abstinha-me. Agora não, temos uma situação financeira boa e, de repente, aparece uma situação má do ponto de vista social em todo o País e com implicações no nosso concelho.

Apontou a situação financeira do município como muito boa. Está aqui a virtude da gestão CDU que atrás não conseguiu encontrar?

Tem razão. A nossa Câmara Municipal é de maioria PCP/CDU. Se a nível nacional o PCP passa a vida a dizer que o que interessa acima de tudo, além das contas certas, é o bem-estar da população e as questões sociais, o que era mais normal é que a nível local a filosofia fosse a mesma. Obviamente que temos de ter contas equilibradas. Já me bastam os anos que passei na Câmara de Setúbal a equilibrar contas, quando aquilo estava na falência técnica.

Deixe-me dar outro exemplo: a nossa rede viária está muito mal. Temos alguns eixos principais. O eixo Palmela-Poceirão: há dinheiro suficiente e há capacidade de endividamento para aquela obra, para aqueles 20 quilómetros serem feitos de uma vez ou, pelo menos, em duas vezes. Há quantos anos aquela estrada está a ser melhorada? Não é assim que se faz.

A localização do futuro aeroporto deve ficar-se por Montijo, Campo de Tiro de Alcochete ou mais perto de Palmela?

Vou dar a minha opinião pessoal, porque o assunto não foi devidamente aprofundado pelo MCCP. Continuo a defender o Campo de Tiro.

O MCCP tem condições e deve voltar a apresentar-se a votos nas autárquicas de 2025?

Condições tem obviamente, apesar das dificuldades do sistema. E o sistema são os partidos. A começar, por incrível que pareça, pelo PCP. Nas reuniões da Assembleia da República, um dos partidos que votou mais e articulou mais contra os movimentos independentes foi o PCP. Vamos começar a discutir em 2024 se o movimento vai ou não continuar.

E está disponível para se recandidatar?

Se a presidente da Câmara ainda fosse Ana Teresa Vicente, provavelmente não me teria candidatado. Não tenho sede de poder. Trabalhei 26 anos no poder local. Saí da Câmara de Setúbal em 2006, candidatei-me depois em 2021. Durante estes 15 anos fui convidado muitas vezes, não só para a Câmara de Setúbal como para a de Palmela, ou por movimentos independentes ou por partidos. E a minha resposta foi sempre não.

Podemos saber quais foram os partidos?

Não, senhor. Não pode.

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