30 Abril 2024, Terça-feira
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Nuno Canta: “As duas pontes com o Barreiro devem ser rodoferroviárias”

O autarca diz que as ligações vão ter, cada uma, um quilómetro e defende a inclusão de ferrovia em ambas. E realça a importância dos investimentos, que contribuem para “atrair empresas, criar emprego e aliviar os movimentos pendulares” para Lisboa

 

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Um terminal fluvial para a Moita, para transporte de passageiros, a expansão do Metro Sul do Tejo até Alcochete, duas pontes a ligar o Barreiro ao Montijo e ao Seixal, um corredor entre Almada e Alcochete e a descontaminação dos solos dos antigos territórios industriais. Estes são investimentos que integram o Projecto Arco Ribeirinho Sul e que foram anunciados no âmbito do “Governo Mais Próximo”.

No rescaldo da iniciativa, em entrevista à Popular FM e a O SETUBALENSE, Nuno Canta, presidente da Câmara Municipal do Montijo, analisa a jornada e as intenções do executivo de António Costa para a região. Elege como prioritária a recuperação dos terrenos da Baía do Tejo para habitação – ao mesmo tempo que defende como solução para a construção habitacional a utilização de áreas cedidas aos municípios para equipamentos – e realça as pontes de ligação ao Barreiro como fundamentais. Mas, sublinha, com a inclusão de ferrovia. O autarca debruça-se ainda sobre o aeroporto, a terceira travessia sobre o Tejo, que lembra estar prevista apenas no plano ferroviário, os novos barcos da Transtejo e a saúde no Montijo.

Deixando de fora o terminal fluvial da Moita, todos ou quase todos investimentos agora anunciados não são novos. A oposição lembrou os anúncios feitos desde 2009. Estivemos perante uma operação de maquilhagem do Governo ou há aqui o mérito de ressuscitar estes investimentos?

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É sempre natural que as oposições queiram desvalorizar as iniciativas dos governos locais ou nacionais. Têm sempre uma atitude pouco coerente e nem sempre conducente com uma coisa muito importante: procurarmos todos um consenso político para desenvolvermos as regiões. Aqui, parece-me que há uma atitude bastante positiva do Governo, que é vir ao local, comprometer-se politicamente com os eleitos e as populações para termos um sentido correcto do desenvolvimento da Península de Setúbal. Para termos uma maior capacidade de atracção de empresas, de famílias, de desenvolvimento económico e, sobretudo, de termos emprego para as pessoas, suficiente e qualificado. Esta ideia do Governo também poderá resolver o problema de quase 300 mil pessoas atravessarem a ponte para irem trabalhar para Lisboa. O Governo ao propor estas infra-estruturas vem dizer que está atento a este problema e acho mesmo que tem de estar atento.

Qual destes investimentos lhe merece maior destaque?

Damos maior destaque à reconversão dos terrenos da Baía do Tejo. São terrenos que estão, há muito tempo, pouco aproveitados. É necessário criarmos maior atractividade desses terrenos, reconvertermos tudo isso em pólos de atractividade de empresas, de famílias e de emprego. Isso foi sempre o que sublinhámos junto do Governo, antes do “Governo Mais Próximo”. São questões fundamentais. Para o concelho do Montijo é claro que é muito importante a ligação da ponte ao Barreiro, liga logo à antiga CUF, liga a Base Aérea n.º 6 (BA6) ao Lavradio. Hoje temos de fazer 22 quilómetros entre os hospitais de Montijo e Barreiro e isso cria imensas dificuldades à resposta em saúde, mas também a cada uma das pessoas que faz a vida nos dois territórios.

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E com essa ponte essa distância será encurtada…

… Esta ponte é de apenas 1 quilómetro, mas da BA6 ao Montijo são 4 quilómetros. Portanto, passamos de 20 para 5 quilómetros, o que é verdadeiramente revolucionário do ponto de vista da proximidade. E para o Seixal, com o Barreiro, a ponte também será de 1 quilómetro e pouco, o que permitirá também ficarmos a 10 quilómetros do Seixal. Hoje, para irmos ao Seixal são 30 e tal ou 40 quilómetros, só de ida. Se somarmos a vinda dá 80 quilómetros. Isto ao longo da história fez com que todas as terras do Arco Ribeirinho Sul tenham uma relação mais próxima com Lisboa do que entre elas. Estas pontes vêm encurtar as ligações e dar uma maior escala urbana à Península de Setúbal. Isto são velhas aspirações. Há muito tempo que existe a ideia na região de Lisboa de termos uma cidade de duas margens.

A calendarização e o volume de verbas para a concretização destes projectos dependerá apenas dos efeitos da criação da NUTS II Península de Setúbal, em termos de acesso a fundos comunitários?

O que nos foi transmitido pelo ministro das Finanças é que iríamos ter fundos comunitários, é verdade, e também, porventura, alguma coisa de mobilização do PRR. Sobretudo iríamos ter também fundos comunitários que serão no futuro discriminados pela NUTS II. Temos muita urgência nestas infra-estruturas para darmos resposta à questão de emprego, qualificado, e sobretudo estes terrenos [do Estado] poderem ser usados para a construção de habitação urgente – o senhor ministro também falou disso.

A construção de habitação obedece à existência de terrenos, mas em alguns municípios talvez não existam assim tantos. Como é que se resolve esse problema?

Uma forma é esta, utilizarmos os terrenos do Estado. Ou as câmaras ou o Estado compram terrenos de novo ou utilizam os que já existem. A Baía do Tejo, neste caso na antiga CUF, tem espaço que pode até completar toda aquela localidade do Lavradio. E aí há a ideia do Governo, penso eu, de poder fazer um plano que permita essa reutilização. Outra solução é comprar-se loteamentos. Temos, porém, uma solução que transmitimos aos ministros, em particular à ministra da Habitação. Ao contrário do que alguns mais de direita defendem – a desclassificação de áreas de reserva ecológica ou agrícola nacional para se fazer mais casas, o que é um erro –, nós vemos é a possibilidade de se usar parte dos terrenos de equipamentos, que são cedidos às câmaras pelos urbanizadores. Esses terrenos nunca serão utilizados na totalidade para infra-estruturas, como centros de saúde, escolas… Uma parte ficará sempre por utilizar, diria que nos próximos 50 anos. Ora, como estão já infra-estruturados e em alguns deles sem se densificar nada em termos urbanísticos, podia haver a possibilidade legislativa de se autorizar a construção de habitação para custos controlados. E isto ainda tem a vantagem de permitir integrar todos numa mesma malha urbana. Isto foi transmitido e espero que esta política seja adoptada pelo Governo do PS.

Quais dos investimentos anunciados considera que podem avançar mais rapidamente?

Penso que a questão dos terrenos para habitação será uma coisa que o Governo vai ter com muita urgência. Depois penso que temos de avançar com rapidez com as pontes [Barreiro-Montijo e Barreiro-Seixal], a conectividade é fundamental. Também está pensada a expansão do Metro Sul do Tejo. Estas primeiras necessidades de mobilidade são fundamentais para depois trazerem atrás de si os investimentos que se querem, a fixação de empresas, que tragam emprego de qualidade e com isso evitar que as populações tenham de se deslocar para Lisboa para trabalhar, os movimentos pendulares que são um problema para toda a Península de Setúbal. Temos, por exemplo, grandes problemas com as travessias [fluviais] do Tejo, com supressão de carreiras. Esperávamos que os tais navios eléctricos viessem resolver o problema, embora para o Montijo nos tenham transmitido que esses barcos não têm autonomia [ver caixa].

Ao olhar de todos não escapou que ficou de fora um projecto estruturante para a região e o País: o novo aeroporto. Também podemos juntar um outro: a terceira travessia sobre o Tejo. Por que acha que isso aconteceu?

O Governo não quis misturar as coisas. Houve um revés na decisão [da localização do aeroporto] que estava a ser tomada, por razões que tiveram a ver com câmaras da CDU que emitiram pareceres negativos. Seixal e Moita. A Moita, entretanto, mudou [da CDU para o PS] e já tem parecer positivo, mas o Seixal continua com essa posição negativa. Foi criada uma comissão de acompanhamento da decisão aeroportuária, pertenço a essa comissão, tenho acompanhado as reuniões todas, foram discutidas várias questões e apresentadas outras soluções e apareceu até uma nova: Santarém, que é um “lobby” ali de alguém, mais de terrenos privados, mas no fundo nada tem a ver com as decisões que já tinham sido tomadas, que são em terrenos públicos (seja na BA6, seja no Campo de Tiro de Alcochete). E o Governo não quis misturar. Fez bem. Mas acho que isto é um elefante no meio da sala, porque para termos uma certa coerência de pensamento na estruturação do Arco Ribeirinho Sul, e na atractividade que se quer, tem todo o sentido o aeroporto na BA6, porque é o motor disso tudo.

Se for no Campo de Tiro, não?

É também motor para Setúbal. Nunca serei contra isso, nunca serei contra um aeroporto a sul. O que defendo é que, dentro da Área Metropolitana de Lisboa [AML], a próxima infra-estrutura aeroportuária tem de ser feita a sul. Pena é pessoas que dizem ser grandes defensoras da Península de Setúbal só defenderem uma localização a sul, não duas ou três. A primeira decisão começou em 1972 por ser Rio Frio, eu, se for para aí outra vez, também defendo. Mas é muito diferente fazermos o aeroporto no coração da AML [na BA6] ou fazermos a 30 ou 40 quilómetros [no Campo de Tiro].

E quanto à terceira travessia sobre o Tejo a ligar Lisboa a Barreiro?

Está prevista no plano ferroviário nacional, mas não sei por que o Governo não quis colocar em cima da mesa.

Sublinhou ferroviário…

… Só ferroviária. Acho que não há a questão rodoviária. A Europa também tem imposto algumas regras mais limitativas e o ministro anterior, Pedro Nuno Santos, tinha transmitido a todos os presidentes de câmara que essa ponte seria meramente ferroviária. É uma questão polémica. Esperamos é que a ponte Barreiro-Montijo tenha rodovia e, sobretudo, ferrovia. É importante ter ferrovia para ligar o comboio do Barreiro a Montijo e Alcochete. Podermos ter um comboio que vai ligar ao Barreiro e que possa depois ligar à Fertagus e à terceira travessia sobre o Tejo, desde que tenha um ramal que venha ao Montijo, à base aérea, no caso ao aeroporto (se vier [ali] a ser feito), e que tenha uma estação, por exemplo, em São Francisco, Alcochete. Do meu ponto de vista as duas pontes, Barreiro-Montijo e Barreiro-Seixal, devem ser rodoferroviárias, sendo certo que a ferrovia na de Barreiro-Montijo é mais crucial.

Esteve com Manuel Pizarro. O que lhe prometeu o ministro da Saúde, tendo em conta os milhares sem médico de família no Montijo?

O que temos falado com o senhor ministro e que falámos [antes] com o CEO da Saúde [Fernando Araújo] foi que temos um problema gravíssimo de falta de médicos de família. E tem de ser resolvido. Do lado da Câmara temos a intenção de construir mais centros de saúde, que poderão ser novas Unidades de Saúde Familiar. Estamos disponíveis para podermos ter um espaço para uma “Via Verde”, para resolver o problema de quem não tem médico de família. O que nos interessa, além de médicos e infra-estruturas de saúde, é que os utentes não deixem de ter uma porta de entrada no SNS. Da parte do senhor ministro tivemos o compromisso na construção dos novos centros de saúde, de alguma comparticipação financeira, o compromisso relativo à melhoria do número de médicos de família para tentarmos ter uma capacidade maior nos cuidados de saúde primários.

Que balanço faz à Ponte Vasco da Gama, que assinalou no passado dia 29 o 25.º aniversário? E tendo em conta que está no seu último mandato à frente da Câmara do Montijo o que pensa fazer no futuro?

Vai seguir pela via política? A Ponte Vasco da Gama é, numa palavra, sucesso. Para os territórios de Montijo e Alcochete, e outros numa menor intensidade, foi de uma total revolução urbanística, resolvendo o problema do inverno demográfico. Até à ponte estávamos a perder população. Hoje em dia duplicámos a população. Acho que isto diz tudo. Criou-nos uma grande proximidade com Lisboa e sempre que, ao longo da história, isso acontece, com transportes, ligações, etc., a cidade do Montijo cresceu. Sempre que se afastou, fomos perdendo atractividade, capacidade. Quanto à minha vida, ainda estamos indefinidos. Vamos ver, mas acho que a política é sempre um “bichinho que morde”.

Transtejo “Os novos barcos eléctricos não são hipótese para Montijo”

A nova frota de 10 navios eléctricos adquirida pela Transtejo está apenas talhada para dar resposta a travessias curtas, por questões de autonomia. O edil montijense volta a frisar que esta foi a informação transmitida pela Transtejo e que as carreiras para Montijo continuarão a cargo dos actuais catamarãs, apesar de estar previsto um posto de carregamento eléctrico para esta zona.

Disse que lhe foi transmitido que os novos barcos eléctricos não poderão chegar ao Montijo. Facto é que, por aquilo que foi comunicado, está prevista a instalação de um posto de carregamento eléctrico no Montijo.

O problema é que o barco eléctrico consegue mais ou menos fazer a navegação de Lisboa para o Montijo, chega ao Montijo tem de ficar a carregar umas horas. Não tem condições de, imediatamente a seguir, fazer a travessia contrária.

Não há hipótese de se ter a nova frota no Montijo…

… A única hipótese que há é de travessias mais curtas, por exemplo Trafaria-Lisboa, Cacilhas-Lisboa, essas permitem a ida e vinda do barco. Mas mesmo assim quando chegar a Lisboa tem de ficar também umas horas a carregar. Esta logística muito centrada numa questão de descarbonização, que considero interessante e o caminho do futuro, precisava do dobro dos barcos. A expectativa é que havendo [esses barcos eléctricos] para os outros lados, os outros barcos que sobram [os actuais catamarãs] façam a travessia do Montijo e aumentemos a disponibilidade.

* Esta entrevista pode ser ouvida na íntegra no canal YouTube POPULARFM

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