Resultados positivos de estudo recente ditam que Estuário do Sado tem actualmente 226 hectares “cobertos por estas plantas”
As pradarias marinhas do Estuário do Sado estão a recuperar e a crescer de forma significativa, com as ervas marinhas a duplicarem em dez anos em algumas zonas.
Os “resultados positivos” foram apresentados ontem por Ricardo Melo, do Centro de Ciências do Mar e Ambiente – MARE da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em conferência realizada no Fórum Municipal Luísa Todi no âmbito da Semana do Mar.
“Estamos muito confiantes. Há 226,016 hectares cobertos por estas plantas. Há locais em que, de facto, houve um aumento para o dobro, mas se isto é generalizado a toda a extensão não sabemos”, revelou o coordenador do estudo de mapeamento das pradarias marinhas do Estuário do Sado, dando como exemplo uma área que passou de 46 para 88 hectares.
Organizados os voos de forma a “obter-se a melhor imagem possível”, foram encontrados três tipos de situações: “o Sapal, ou seja, as plantas salinas, em que algumas delas têm hoje interesse económico; as sebas, também conhecidas como ervas marinhas; e o raso de maré, no qual existem macroalgas verdes, areia, vasa e ostreiras”.
“O aumento, de uma maneira geral, foi perto do dobro. Já uma espécie específica, que coloniza na zona entre marés, por exemplo na pradaria da ponta do Adoxe, também aumentou, mas não foi tanto”, sublinhou.
Para tais resultados “foram percorridos mais de uma centena de quilómetros e tiradas algumas centenas de fotografias”, concluindo-se igualmente que o peso seco das plantas é superior a 60 toneladas, número no qual Ricardo Melo disse “não ter muita confiança”.
Em seguida, explicou não existir muita informação anterior à pesquisa realizada e que este foi o “primeiro levantamento cartográfico dedicado a um estuário em Portugal”, realizado com o patrocínio da Secil e Cimpor.
“Da minha parte já havia a vontade há muito tempo. Há cerca de dez anos tivemos envolvidos numa directiva europeia, mas nessa altura era necessário trabalhar com áreas muito grandes e com vegetação, nas quais é difícil movimentarmo-nos”, revelou.
Já o actual estudo “permite a partir de agora ter uma noção exacta do que é que estava e onde estava e fazer comparações para o futuro”. A O SETUBALENSE, Ricardo Melo disse que o estudo ficou completo “em cerca de seis meses, em que dois dias, em Outubro de 2021, foram de voo”.
“Éramos duas pessoas a tempo inteiro, comigo a coordenar, e depois contratámos uma aluna que tinha acabado o mestrado, para fazer trabalho de campo”. Questionado sobre o porquê de o levantamento ter sido executado primeiramente no Estuário do Sado, garantiu ter sido “somente por uma questão de oportunidade”.
“Este estudo é aquilo que designamos de ‘baseline’ porque a partir daqui conseguimos ver a evolução. Conseguimos ver se as coisas melhoraram ou se pioraram, quanto e qual a margem de erro”.
Para a realização do referido mapeamento contaram igualmente com “o apoio da Reserva Natural e dos vigilantes da natureza, que conhecem muito bem o estuário”. No futuro, considera “fundamental haver reavaliações, que se calhar não necessitam de ser muito frequentes, mas que são importantes”.
Porto de Setúbal é “porta de conexão da Península”
Antes, na sessão de abertura da primeira conferência da manhã, o presidente da Câmara Municipal realçou a importância do Porto de Setúbal para o desenvolvimento do concelho e descreveu os resultados obtidos em parceria com a administração portuária.
“O Porto de Setúbal é factor-chave de estruturação do território concelhio, por ser uma porta de conexão da Península e, sobretudo, do concelho e da cidade com o exterior”, salientou André Martins.
Também o protocolo aprovado recentemente com a administração portuária foi relembrado pelo autarca, sendo que o mesmo prevê a extensão, a partir de Janeiro, da área que já está sob gestão partilhada na zona ribeirinha de Setúbal, ao passar a incluir todo o território entre o Parque Urbano da Albarquel e a Doca da Fontainhas.
A concluir, sublinhou o objectivo de “afirmar o potencial de desenvolvimento económico” de Setúbal através do Porto, “seja no plano local, regional ou nacional, e a importância de continuar a trabalhar para alcançar uma maior e melhor relação da cidade com o rio, incentivando as actividades marítimo-turísticas e desportos náuticos”.
APSS Carlos Correia diz que relação com autarquia sadina permite importantes investimentos
O administrador da Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS), Carlos Correia, disse ontem, na sessão que marcou o arranque da Semana do Mar, que o apoio da Câmara Municipal no desenvolvimento do Porto tem permitido “materializar os investimentos previstos nas vertentes económica, turismo, economia azul, pesca ou aquicultura”.
Como exemplo salientou a escolha da cidade sadina pela Galp e Northvolt para a construção de uma unidade de conversão de lítio, num investimento de 700 milhões de euros.
Também a “articulação da gestão da zona ribeirinha e das praias e a viabilização de novas zonas ligadas ao turismo náutico, com relevância regional e nacional, como a Vila Náutica, a implementar na zona da Mitrena, num investimento de 12 milhões de euros, foram referidas pelo administrador portuário.
No que diz também respeito às relações entre a APSS e a edilidade, Carlos Correia mencionou igualmente a “criação da futura marina de Setúbal, que potenciará a requalificação de uma zona nobre da cidade, proporcionando um novo paradigma de usufruto pelos cidadãos e disponibilizando novos lugares de acostagem”.