19 Março 2024, Terça-feira
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Transportes em Setúbal: “Isto não está mau. Está péssimo!”

Reuniões com a população expõem drama de grandes dimensões contado em testemunhos trágico-cómicos

 

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Se o caso não fosse dramático, muitas situações a que os utentes do transporte rodoviário em Setúbal estão sujeitos dariam vontade de rir. O drama social é gigantesco, com milhares de pessoas afectadas na sua vida diária pela incerteza ou inexistência do transporte. As reuniões com a população, que a Câmara Municipal de Setúbal está a realizar pelas freguesias mostram a cores e ao vivo não só a dimensão do problema mas também os seus pormenores mais bizarros e, sobretudo, os efeitos nos utentes. Há pessoas afectadas emocionalmente e psicologicamente. “É um stress. Estou desgastada. Tenho vergonha de quando chego ao trabalho as minhas colegas já terem feito parte das minhas tarefas. O meu filho só tem 15 minutos para almoçar. Estou em risco de perder o emprego. Apanho o autocarro quatro vezes por dia, são quatro secas.”, são algumas das muitas afirmações que mostram desespero e frustração.

Neste sábado, dia em que deveriam estar ao serviço 53 autocarros, havia somente 23 a circular.

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O descontentamento geral manifesta-se pelo número de participantes e pela quantidade de intervenções. Na reunião de sábado, no Auditório Bocage, da Junta de Freguesia de São Sebastião, a sala estava quase cheia, com quase uma centena de pessoas e não andou longe de todas pedirem a palavra. Pelo menos pareceu haver essa vontade. A sessão começou às 18h30 e terminou já depois das 21 horas, com o presidente da junta, Nuno Costa, a ter de dizer que não podia aceitar mais inscrições.

Foram mais de duas horas e meia de desabafos e relatos. De trabalhadores que não conseguem chegar a horas ao trabalho, alunos sem transporte para as escolas, idosos que não se podem deslocar ao hospital ou centro de saúde, doentes que não conseguem fazer tratamentos no Hospital do Outão e noutras clinicas. A disfuncionalidade afecta todas as áreas que dependem da mobilidade e manifesta-se a todos os níveis do sistema rodoviário. Não funcionam as urbanas, nem as regionais nem as ligações. Os horários na prática não existem, muitos percursos são “fantasmas” e os preços sem sentido. Há vários casos de pequenas carreiras em que o bilhete pago ao motorista é de 2,60 euros. As esperas nas paragens são muitas vezes de duas e três horas ou até que a pessoa desiste e vai a pé ou pede que a venham buscar.

Alguns relatos são quase anedotas.

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“As paragens parecem aeroportos: há imensas linhas, numa grande oferta de destinos. O autocarro é que não aparece.”

“A minha filha de dois anos já esperou mais em paragens de autocarro do que os senhores [autarcas] em dez anos.”

“Eu estava na paragem e o motorista não parou. Devia ter parado, porque o autocarro ia cheio mas não ia apinhado.”

“Até para ir ter a minha filha ao hospital, tive que ir a pé.”

“Perguntei a um motorista quando ia ter autocarro para cima e ele respondeu ‘quando Deus quiser’”.

“Tenho uma boa notícia: a concessão à Alsa Todi são só sete anos.”

 

Autocarros dedicados para as escolas

Para colmatar o caos no transporte escolar, de que dependem diariamente 1400 alunos, só do 2.º ciclo e do secundário (sem contar com pré-escolar e 1.º ciclo), a Câmara Municipal está a “trabalhar” na contratação de “autocarros dedicados” a outras empresas de transportes.

O anúncio desta medida foi feito pelo presidente da autarquia, André Martins, e depois a vice-presidente explicou que o esforço visa acudir aos estudantes das freguesias mais distantes do centro da cidade, nomeadamente de Azeitão, Sado e Gambia, Pontes e Alto da Guerra. “É uma espécie de penso rápido, durante o tempo que for necessário”, disse Carla Guerreiro, esclarecendo ainda que o município pretende apresentar essa factura ao operador Alsa Todi.

As reuniões nas freguesias vão continuar esta semana. Para esta segunda-feira, 26, é na União das Freguesias de Azeitão, às 21 horas, na Sociedade Perpétua Azeitonense. Terça-feira na União das Freguesias de Setúbal, às 21h30 no Auditório Charlot, e, Quinta-feira, dia 29, na Freguesia do Sado, às 18h30 no Praiense.

Os autarcas estão a informar a população de que a Alsa Todi não respondeu ao ultimato para que informasse, até dia 16 de Setembro, que nível de serviço consegue assegurar.

 

André Martins convoca manifestação contra “mau serviço” da Alsa Todi

O presidente da Câmara de Setúbal anunciou logo na primeira destas reuniões com a população, na Freguesia de Gâmbia, Pontes e Alto da Guerra, na sexta-feira à noite, que está a ser organizada uma manifestação contra o “mau serviço” prestado pela operadora Alsa Todi – responsável pelo transporte rodoviário nos concelhos de Alcochete, Palmela, Montijo, Moita e Setúbal.

A manifestação está marcada para o próximo sábado, pelas 10h30, na Praça do Vitória Futebol Clube, com desfile pela praça do Brasil até ao Interface de Transportes.

André Martins apelou à população para que participe e “denuncie o mau trabalho que a empresa está a prestar em Setúbal”, e defendeu que “colocar em causa o bom nome da empresa”, que está cotada em bolsa e concorre a outras concessões, é a “melhor forma” de a pressionar a melhorar o serviço em Setúbal.

Tanto André Martins como a vereadora da Mobilidade, Rita Carvalho, defenderam a ideia de que a manifestação é uma medida “adicional”, que não substitui as vias formais e legais, mas o presidente da Câmara, assim como o da Junta de Freguesia, repetiram que as multas à empresa não coloca autocarros a circular e que o recurso aos tribunais é demasiado moroso.

A maioria dos presentes nas sessões de esclarecimento mostrou-se favorável à manifestação, mas houve quem achasse insuficiente. Alguns participantes apontaram o dedo à Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML) pela forma como montou os processos de concessão.

André Martins assegurou que a contribuição de 2,8 milhões que o município paga para o actual sistema de transportes não se altera com a realização de percursos – esclarecendo a suspeita de alguns de que o município poderia poupar com isso – e mostrou abertura dos autarcas para aceitar a eventual necessidade de co-financiar custos com aumentos salariais dos motoristas.

 

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