26 Abril 2024, Sexta-feira
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Carina de Deus: “Quero uma auditoria à Câmara Municipal de Setúbal”

Candidata da coligação ‘Todos somos Setúbal’ (RIR/PDR) defende uma auditoria ao contrato de estacionamento e à concessão da água

 

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É a única mulher, pelo menos por enquanto, na corrida a presidente da Câmara. Nasceu e vive em Setúbal há 35 anos, casada pela Igreja católica (faz questão de sublinhar) e mãe de um menino de 5 anos, é licenciada e técnica em análises clínicas. Já foi caixa de supermercado, tripulante de ambulância nos Voluntários de Setúbal e também administrativa. Preside a uma IPSS que trabalha com crianças e é membro do Conselho Municipal de Habitação.

Como começou a sua candidatura por esta coligação?

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O meu empenho e a minha vontade veio porque acho que estamos a chegar ao ponto de não retorno. Sou uma jovem e vejo agora nos jovens aquilo por que que eu passei quando acabei a minha licenciatura, que é falta de emprego, de apoios, de orientação por parte de quem devia ajudar-nos.

Como foi parar a esta coligação e ao RIR?

Sou candidata por esta coligação, tenho carta verde dos dois partidos para os representar. Foi o sentir que estamos a chegar ao ponto de não retorno e que temos de avançar para a mudança.

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Foi fundadora e presidente da concelhia de Setúbal do Chega.

Na altura, quando senti a necessidade da mudança, o Chega estava em formação. Decidi juntar-me mas depois, passado sensivelmente um ano e meio, deixei de me rever, tanto nas políticas internas do partido como nas políticas que o partido quer praticar. Como a mudança é sinónimo de evolução, saí e cá estamos, a tentar fazer a mudança de uma forma não tão radical mas de uma forma democrática.

Diz que a maioria CDU na Câmara de Setúbal tem varrido os problemas para baixo do tapete. Que problemas encontrou debaixo do tapete?

Os problemas do investimento, de mobilidade, diversos problemas socioeconómicos, da habitação social, da habitação assistida, porque a habitação não tem que ser só social. Temos que ajudar também as pessoas com fracos salários e fracas posses, para que possam desenvolver as suas famílias e construir um futuro. Não temos de ajudar apenas quem não tem, os que têm pouco também precisam de ser ajudados.

Promete “medidas efectivas” para resolver estes problemas. Por exemplo, como pode efectivamente resolver o problema da mobilidade?

Este executivo também fez coisas bonitas e boas, na mobilidade. As rotundas dinamizam o trânsito. Mas encurtou as faixas de rodagem e temos o terminal na Várzea, que distante da cidade, quando a rodoviária, na Avenida 5 de Outubro, fazia ponto para todas as partes da cidade, e agora foi deslocalizada para uma ponta. Não acho que tenha sido uma decisão feliz. Na Habitação, foi agora assinado pelo executivo da Câmara, através da medida do 1.º Direito, com o IHRU, vêm sensivelmente 11 milhões de fundos e só está planeado a construção para a área social. Aquilo que eu pretendo, se for eleita, é que parte dessa habitação seja também para rendas assistidas a jovens, porque eles saem das universidades, do cursos profissionais ou até mesmo do 12.º ano, e não têm forma de constituir a sua família e de ter de ter a sua privacidade. A estadia na casa dos pais é prolongada por esse motivo.

Para atrair mais investimento, outro problema que apontou, como acha que uma câmara pode fazer?

Atrair empresas passa muito pelos impostos. Em Setúbal, agora baixámos o IMI uma décima mas, para empresas tem que haver mais atracção ao nível dos impostos, porque vão gerar emprego, turismo, sustentabilidade à cidade. Não acho certo que tenham uma carga tão grande só por estarem em Setúbal.

Que diferenciação poderia ser feita? Presumo que esteja a pensar na redução da derrama.

A nossa equipa está ainda a pensar nalgumas alternativas, ainda não temos nada 100% concreto. Também através dos fundos comunitários.

Já disse também o actual executivo tem apresentado “meras medidas publicitárias”. Vê apenas propaganda ou reconhece que há obra?

Reconheço que há obra. A cidade está mais bonita mas pouco funcional. Continuamos com a zona ribeirinha muito desaproveitada, penso que tenha a ver com a APSS, porque aquela zona pertence à APSS e não pertence propriamente a Câmara. Acho que deve haver mais comunicação entre a Câmara Municipal e APSS para se rentabilizar mais aquela zona.

Quando fala em “meras medidas publicitárias” está a pensar em quê?

Por exemplo, neste debate da NUT II e da NUT III. Um partido apresenta uma medida, o outro, porque não apresentou, vai votar contra. Andamos nisto, a medir egos, quando devíamos estar a tentar ajudar os setubalenses. Vimos isso agora na votação na Assembleia da República.

Isso é política nacional. Que papel deve ter a Câmara nessa matéria?

É nacional mas essa votação vai ter efeitos para os setubalenses, se Setúbal sai ou não da Área Metropolitana de Lisboa.

No seu entender Setúbal devia sair, ou não?

Sim. Acho que somos muito prejudicados nos fundos por pertencermos à AML. Acho que devíamos sair e temos que pensar como vai ser esta saída. Ver quem vai, depois, gerir os fundos.

A sua candidatura intitula-se ‘Todos somos Setúbal’. Porquê? Actualmente há alguns não são?

Isso não sei responder. Para mim, todos somos Setúbal, desde a pessoa com fracos rendimentos à pessoa com maiores rendimentos, desde a mais culta à menos instruída. Todos somos Setúbal, independentemente de raças, credos, cores, orientações sexuais, aquilo que quiser. E todos temos de ter a nossa voz na dinâmica de Setúbal, não é só a elite e a Câmara ser aquela bolha que não deixa as pessoas participarem.

Não deixa?

Faz as reuniões à porta fechada.

A Câmara tem destacado a participação pública, por exemplo, no programa ‘Nosso Bairro Nossa Cidade’ ou em várias alterações no Monte Belo.

Nalgumas coisas, mas quando foi das dragagens, fizeram uma reunião à porta semi-aberta, só entrou quem eles queriam. Sabendo que as pessoas queriam participar nesse assunto, só tinham era que ter arranjado um pavilhão que albergasse o maior número de setubalenses possível para estarmos todos em debate.

Está a referir-se à sessão de esclarecimento que teve lugar na APSS. Foi promovida pelo Porto de Setúbal e foi explicado na altura que era aberta a toda a gente até à limitação da sala e depois revelou-se pequeno demais e houve muita gente que ficou no corredor. Mas, sendo uma organização da APSS, quando muito poderia defender que a Câmara deveria ter promovido uma sessão de esclarecimento.

Sendo uma questão de grande importância para os setubalenses, deviam ter acautelado uma sala. Há aqui uma falha de comunicação entre a APSS e a Câmara Municipal. Deveriam ter articulado de forma a poderem esclarecer o maior número de setubalenses.

Quando diz que quer mais participação dos setubalenses, como tenciona aumentar a participação?

É estar disponível para falar com toda a gente. Não é estar sentada num gabinete a assinar papéis e a fazer que trabalho. A política não se faz em gabinetes, faz-se na rua, com as pessoas.

Uma das suas promessas é a criação de um hospital veterinário. Porquê?

Porque hoje toda a gente tem um animal de estimação e, com os fracos rendimentos que as pessoas têm, às vezes não conseguem fazer face às despesas do veterinário. O canil dá alguma ajuda, como a estilização e os chips, mas penso que não é suficiente, porque tem horário limitado. Este Hospital Veterinário Municipal seria para trabalhar 24 horas.

Seria um equipamento e um serviço de financiados apenas por fundos municipais?

Se fosse assim era gratuito. A pessoa paga a sua consulta e os tratamentos, mas paga valores reduzidos.

Mas vai fazer concorrência aos veterinários e prestadores de cuidados de saúde aos animais que já existem a operar no mercado no concelho de Setúbal.

Os privados têm toda a legitimidade de operar, tal como o público. Há espaço para todos. Ou então, os veterinários que baixem um bocadinho os preços.

Defende competências e recursos da autarquia para cuidar da saúde dos animais mas as pessoas também precisam de cuidados de saúde e algumas também têm fracos recursos. Propõe apenas para os animais ou também um hospital municipal para as pessoas?

O meu programa também fala nas pessoas. Não estamos a pensar no hospital municipal porque o Hospital de São Bernardo vai ser ampliado, já está assinado o protocolo. Mas estamos a pensar articular com os privados. Tivemos agora o exemplo, com esta pandemia, de que os privados podem socorrer o Sistema Nacional de Saúde. Temos um hospital às portas de Setúbal [Hospital da Luz Setúbal] que pode muito bem articular com o São Bernardo e com o Outão e prestar um serviço às pessoas pelo mesmo valor, ou semelhante, do SNS.

Que outras medidas do seu projecto quer destacar?

Uma das mais interessantes é a transformação da Praça de Touros Carlos Relvas num pavilhão multiusos.

A Câmara já revelou essa intenção, quando adquiriu a praça.

Mas tenciona fazer quando?

Para si é uma prioridade?

Não é uma prioridade. Temos quatro anos de mandato. É óbvio que a prioridade é ajudar as famílias. Atravessamos uma crise económica e sanitária, vários problemas, e é óbvio que a prioridade não será requalificar a praça de touros. Mas em quatro anos havemos de lá chegar. Não é como as medidas de propaganda, como a marina. Quando fui bombeira voluntária, no quartel falava-se: “agora vamos sair daqui, vão fazer a marina”. Onde é que está a marina? Onde está o casino e o resto das coisas? Não estão. Aquilo que vou colocar no meu programa são medidas e propostas que acho exequíveis para um mandato de quatro anos.

E outras medidas do seu programa?

Estou a pensar no estacionamento. Acho uma falta de respeito aquilo que este colectivo fez em vésperas de saída do mandato. Fazer uma concessão a 40 anos, é falta de respeito, até porque em 2050 supostamente não haverá carros nos centros das cidades, conforme as normas europeias. Primeiro temos de fazer uma auditoria, para ver se o contrato é reversível, se for, é revertê-lo de imediato. Se não houver possibilidade de reversão, é a tentar uma negociação viável. Para os munícipes, turistas e toda a gente, é implementar o sistema de descontos pontos no comércio local. Ou seja, a pessoa paga, vai beber o seu café e desconta o valor no café, nos sapatos ou na camisola.

E nos bairros residenciais, deve haver estacionamento tarifado?

Claro que não. Então eu já pago IMI e ao banco para ter a minha casa e ainda vou ter que pagar estacionamento para ir para a minha própria casa? Claro que não.

Sobre a concessão da água…

Outra. A Câmara não tem competência para gerir recursos públicos, então dá aos privados. Dá estacionamento aos privados, dá água aos privados, dá tudo os privados. Não pode ser. É da gestão da autarquia e tem de ter competência para essa gestão. Temos que avaliar, com a tal auditoria à Câmara que, se for eleita, tenciono pedir, também para ver o que está debaixo da concessão às Águas do Sado. Não se pode dar a privados um bem que é de todos. Não se pode enriquecer um privado com um bem de primeira necessidade. Veja o preço da água no nosso concelho vizinho, Palmela, onde a gestão é pública. É só comparar.

Quanto ao plano ‘Arrábida Sem Carros’. Acha justificado, proporcional e bem desenhado?

A ideia foi boa. Como bombeira voluntária que fui, digo que, se houvesse ali alguma coisa de grave, aconteceria o mesmo que em Pedrógão Grande em 2017. A ideia foi boa, mas foi mal executada. Agora temos uma Arrábida sem carros, é verdade, mas sem os carros dos pobres, porque os carros dos ricos vão pagar para o parque de estacionamento da Figueirinha.

Como se podia fazer diferente?

Se é Arrábida sem carros, devia ser para todos. Assim é que era igualdade.

Entre cerca de uma dezena de candidatos, é a única mulher que concorre nestas eleições. Como avalia esta situação?

Por aquilo que se vê na nossa sociedade, que é a maioritariamente machista, em que ainda existem diferenças salariais entre homens e mulheres. Faço um desafio às mulheres de Setúbal, para se chegarem à frente.

A sua lista também tem mais mulheres?

Tem. Sou sincera, estou com alguma dificuldade em encontrar homens para cumprir a lei da paridade, mas estou confiante em conseguir essas últimas vagas em breve. Mas têm que ser homens porque mulheres já tenho todas.

A coligação vai concorrer a todas as freguesias?

Temos essa pretensão, mas não vamos concorrer para fazer número. Vamos concorrer com qualidade, porque para fazer número já temos muitos. Somos 11 pessoas, vamos concorrer à câmara e a todas as freguesias. Já somos muitos, meter mais só para dizer que vamos, não. Aliás, sou uma pessoa de causas, Setúbal, neste momento, é minha causa e tem que ser com qualidade. Não contem comigo para fazer número.

O que acha dos outros candidatos?

O André Martins tem uma tarefa um bocado ingrata, porque vem a seguir a uma grande mulher, que fez obra, que deixou a cidade mais bonita. É muito dinâmica, muito presente nas colectividades, e, em algumas coisas, foi uma presidente de câmara boa. Não posso dizer que foi má. Ele tem aqui uma tarefa um bocadinho complicada. Dar seguimento.

E dos demais candidatos, pelo menos dos principais partidos?

Do PS, o Dr. Fernando José também é nascido e criado aqui em Setúbal, pertenceu a vários órgãos, juntas, também fez o seu percurso político todo por Setúbal, também conhece bem o concelho e as dificuldades que existem. Mas está ligado a uma cor política. E agora, nas NUTS, absteve-se porquê? Gostava de perguntar-lhe diretamente.

Os deputados do PS dizem que consideram melhor o projecto de resolução do PCP.

Mas aquele estava em cima da mesa e ele, como setubalense, devia votar favoravelmente em todos. E não devia haver vários projectos, devia haver um único, consensualizado entre todos. Os outros candidatos, como o engenheiro Fidélio [Guerreiro], têm tanto de política como eu tenho de idade.

Sobre o candidato do PSD, Fernando Negrão?

Não tenho essa memória, de ele ter sido eleito, em segundo lugar, atrás de Carlos de Sousa e ter-se ido embora. Mas isso é normal dos políticos. Os setubalenses que lhe deem o veredito. Em Setembro, os setubalenses que lhe deem um cartão vermelho ou amarelo, ou uma carta verde.

Se for eleita está disponível para aceitar pelouros?

Estou disponível e para viabilizar qualquer proposta desde que seja em prol dos setubalenses.

Apoio à produção: B&B Hotel Sado Setúbal

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