25 Abril 2024, Quinta-feira
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Desportivo do Montijo pode renascer

O sonho é antigo e ganhou força num almoço que juntou mais de uma centena. Antigas glórias, ex-dirigentes e adeptos reencontraram-se para homenagear a história do clube

 

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Foram cerca de 120, os que exaltaram a história do extinto Clube Desportivo do Montijo, entre antigas glórias, ex-dirigentes e indefectíveis adeptos, no passado sábado, durante um almoço que permitiu selar reencontros com abraços e reavivar cumplicidades, por entre lágrimas de saudade e também de esperança num futuro que possa regressar ao passado. A porta para o renascimento do clube – que elevou o nome da cidade e da região a patamares máximos do desporto nacional, sobretudo no futebol – ficou aberta com a iniciativa promovida no restaurante Estrela do Norte, em zona, também ela, carregada de simbolismo e tradições montijenses.

Fernando Caria, presidente da Junta da União das Freguesias de Montijo e Afonsoeiro, deu o mote, na qualidade de “antigo sócio, atleta, dirigente e ainda simpatizante do clube”.

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“Este encontro apenas pecou por tardio. Mas, poderá ser o pontapé de saída para, quem sabe, o ressurgimento do Clube Desportivo do Montijo”, afirmou a O SETUBALENSE, reforçando de seguida: “Com esta iniciativa e com a exposição do património do clube que irá ser feita em Junho, a força será maior para que se tente voltar à estaca zero. Nada há a opor ao Clube Olímpico do Montijo, que neste momento existe, mas o Clube Desportivo do Montijo foi e será sempre o clube da nossa terra, quer se goste ou não. O Desportivo tem a tradição que tem e valerá para todo o sempre, por aquilo que foi e por aquilo que poderá vir a ser ainda.”

O autarca passou depois à defesa, porém não desarmou e até deixou uma mensagem de esperança. “Não sei se existem movimentações ou não, sei que existe o tentar retomar o nome e o fazer lembrar o antigo clube. Temos motivos para sorrir hoje em dia.”

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Promovida por Hélder Sargento e Henrique Bernardes numa página na rede social Facebook, a iniciativa, intitulada ‘Eu Fui Clube Desportivo do Montijo’, acabou por funcionar mais como catalisador de um desiderato que muitos consideram possível, ultrapassando em muito os limites de um simples convívio, de uma sentida devoção ao antigo clube.

“A ideia deste almoço nasceu de uma iniciativa idêntica que temos vindo a fazer com aqueles que foram campeões distritais pelo clube no escalão de Iniciados. Pensámos agora em fazê-lo num âmbito geral, com todos os que pertenceram ao clube nas mais diversas modalidades, para recordar e homenagear o Desportivo do Montijo”, explicou Hélder Sargento, com Henrique Bernardes a complementar: “Isto desenvolveu-se de forma natural. Nem deu muito trabalho. As pessoas estavam ansiosas por esta iniciativa.”

Exposição nas Festas de S. Pedro

Alcides Santos foi um dos impulsionadores do encontro e não escondeu satisfação pelo resultado. “Foi de facto fantástico o reencontro de gerações de jogadores, dirigentes, treinadores e parte clínica, e sentir a comunhão de histórias que cada um de nós transporta no coração”, observou, adiantando: “Foi uma felicidade enorme rever figuras históricas do nosso Desportivo, em especial o nosso eterno Redol que irradiava enorme felicidade por lhe ter sido proporcionado um momento tão lindo.”

O silêncio ganhou à “euforia” durante apenas um minuto – quando foi prestada homenagem aos que já partiram – e depois registou-se um anúncio que veio reforçar que o Desportivo do Montijo ainda vive e começa ganhar outra força.

Carlos Traquina, presidente do Ateneu Popular do Montijo, revelou que o espólio do clube tem vindo a ser tratado. Milhares de folhas, livros de actas e outros documentos, além dos troféus, foram recuperados. “A pouco e pouco, com alguma ajuda de Manuela Cavaco, grande parte ou a quase totalidade do espólio do clube está salvaguardada noutro local, dividido por modalidades, bem como o estandarte do clube em excelentes condições”, anunciou, juntando: “São cerca de 250 troféus. Boa parte deste material, e não só, vai estar presente numa exposição alusiva ao clube na inauguração da próxima edição das Festas Populares de S. Pedro, no Museu Municipal Casa Mora, onde estará patente ao público pelo menos durante três meses”. Paralelamente, vão ser realizados vários debates, durante o período da mostra, sobre a história do clube, com a participação de antigos atletas e dirigentes em data a definir.

A força começava quando ele ‘ladrava’

A malta do futebol esteve representada em peso e episódios para recordar eram… ao pontapé. Ronaldo confessou-se surpreso com a adesão ao evento – “Esperava encontrar umas 20 pessoas e deparei-me com esta enchente”, observou – e ainda hoje se lembra da eliminatória caseira com o primo-divisionário Beira Mar, em 1991-92, que ditou o afastamento do Desportivo no prolongamento. “Se ainda está atravessada? Quem tem de estar atravessado é o treinador, o Conhé. Ele é que fez a besteira de me ter retirado [no prolongamento]. Assim que me tirou eles fizeram o segundo golo. Mas já passou. Foi uma época muito boa”, atirou, soltando sorrisos.

Miguel, que defendeu as balizas amarelas e verdes, foi o único dos atletas a falar para a plateia e desvendou de onde advinha a força na época em que “o Desportivo ficou a apenas um ponto de regressar à I Divisão Nacional”, suplantado que foi na corrida “pelo Marítimo”. “A nossa força começava quando eu ladrava. No túnel [de acesso ao relvado], punha aquela gente toda a ladrar e não perdíamos o jogo”, lembrou, reeditando a imitação dos latidos que fizeram história para gáudio dos presentes.

Recuando mais no tempo, José Louceiro também não se esquivou a partilhar um episódio que ainda traz gravado na memória. “Tinha 18 ou 19 anos, em Albergaria-a-Velha, chovia torrencialmente, e o público estava encostado a uma vedação junto à linha lateral e houve um adepto da equipa adversária que me prendeu pelo pescoço com o cabo do guarda-chuva, quando eu estava a fazer um lançamento, e puxou-me. Voltei-me para trás, desonrei-o de tudo e o gajo pirou-se”, recordou, sem se esquecer de apontar “a época em que o Montijo subiu à I Divisão, na qual em 36 jogos só perdeu um”. “Na época seguinte, na liguilha, contra o Varzim vencemos por 1-0 e mantivemo-nos na I Divisão”.

Celestino era um dos mais emocionados. Teve até de fazer uma pausa para limpar as lágrimas e conter a emoção. “Gostava que estes momentos acontecessem mais frequentemente e que as pessoas não se esquecessem daquilo que foi o clube. Este foi um momento espectacular, com gente que já não via há 40 anos e isto dá-nos uma força, uma alegria, enorme, para continuarmos na vida como até hoje”, disse, acrescentando que a extinção do clube o fez “sofrer muito”. “O Desportivo levou esta terra onde ela nunca tinha chegado. É muito importante que a reactivação do clube volte à baila. É um princípio de esperança. Estou muito agradecido ao clube e às pessoas do Montijo”, sublinhou.

Sabino afinou pelo mesmo diapasão. O ressurgimento do clube encanta-o e confessa que até pagava para que fosse possível. “Esse é um projecto sobre o qual já falei com muita gente. Se me sair o Euromilhões, é refundar o Clube Desportivo do Montijo”, afirmou, com a voz embargada e os olhos lacrimejantes.

A maldita poça de água

Serralha, que actuou no eixo das defesas do Desportivo, transporta a memória de um jogo de juniores. “Foi num dia de chuva, em que fomos jogar à CUF e perdemos 0-5. O campo tinha uma poça de água enorme frente à baliza. A bola prendia na água e juntavam-se todos, os que defendiam e os que atacavam, naquela zona, quase que entrava tudo pela baliza dentro. O Sobral [guarda-redes montijense que foi dos poucos em Portugal que defendeu uma grande penalidade batida pelo antigo avançado Nené ao serviço do Benfica] estava desesperado. Mas todos estávamos isentos de culpas e a CUF tinha também uma excelente equipa”, lembrou.

João Labreca não esqueceu que foi o pai da alcunha (o seu apelido) atribuída ao ex-guardião internacional Ricardo Pereira – o antigo ‘keeper’ que marcou e defendeu os penáltis frente à Inglaterra não pôde estar presente – e Pedro Lagoa registou que apontou aquele que foi o último golo do Desportivo do Montijo, na antiga equipa de juniores.

José Rachão destacou o carácter da iniciativa e o forte sentimento que nutre pelo Montijo. “Estou cá há 46 anos e esta é uma terra que me diz muito. Costumo dizer que Peniche é o meu pai e Montijo a minha mãe. É sempre uma felicidade reencontrar amigos que não via há muitos anos”, comentou, adoptando um discurso cauteloso sobre a reactivação do Desportivo. “É um assunto melindroso. Por todo o respeito que me merece a cidade e todos os clubes do Montijo. Por exemplo, treinei o Nacional e o União da Madeira, menos o Marítimo, e lembro-me de que nessa altura se falava em estes três clubes unirem-se e formarem um único clube na Madeira, mas nunca chegaram a consumar. Falar disso neste momento é prematuro e prefiro não adiantar mais, para não ser mal interpretado.”

Já Chumbita Nunes, que chegou a presidir aos destinos do clube, foi peremptório: “Bato palmas para que isso aconteça. Seria muito importante para a cidade e para a região.” E até mostrou disponibilidade para voltar a servir o Desportivo. “Estou sempre disponível para ajudar as entidades por onde passei. Se a hipótese surgir, é uma questão a reflectir. Nunca excluo a hipótese de colaborar”, admitiu, confessando a concluir que não podia faltar ao encontro. “Hoje [sábado passado] até é o aniversário da minha filha e ainda assim não quis deixar de estar presente”, rematou.

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