O que começou como um simples interesse, passou a um trabalho de recolha sistemático e, agora deu direito uma tese aprovada com distinção. O Setubalense foi fundamental para este trabalho, reconhece Helena Sousa Freitas
O SETUBALENSE foi uma das ferramentas de trabalho para a investigadora Helena Sousa Freitas construir a tese “Histórias que as Paredes Contam – O Muralismo como Forma de Comunicação Alternativa na Cidade de Setúbal (1974-2014)”. O trabalho foi defendido este mês no ISCTE-IUL, em Lisboa, tendo sido aprovada com distinção por unanimidade.
Helena Sousa Freitas, que se iniciou como jornalista em 1996, na cidade de Setúbal, defendeu a sua tese em sessão pública perante oito académicos de diversos estabelecimentos de ensino superior, com base numa investigação que obrigou a consulta de dezenas de arquivos fotográficos, a realização de mais de uma vintena de entrevistas e de 600 inquéritos, bem como o acompanhamento de uma campanha eleitoral.
A tese “Histórias que as Paredes Contam – O Muralismo como Forma de Comunicação Alternativa na Cidade de Setúbal (1974-2014)”, para a qual foram analisados cerca de 40 anos de edições de “O Setubalense”, foi defendida no ISCTE-IUL, em Lisboa, na passada semana, tendo sido “aprovada com distinção por unanimidade”.
Da autoria de Helena de Sousa Freitas, a investigação, defendida em sessão pública perante oito académicos de diversos estabelecimentos de ensino superior, implicou ainda a consulta de dezenas de arquivos fotográficos públicos e privados, a realização de mais de uma vintena de entrevistas e de 600 inquéritos, bem como o acompanhamento de uma campanha eleitoral.
“Apesar de ter interesse no fenómeno muralístico desde criança e de ter começado a fotografar as paredes da cidade em 1997, apenas de 2005 em diante procedi a um registo sistemático. Ainda assim, as lacunas são, decerto, muitas. Há murais cujo tempo de permanência nas paredes é tão curto que conseguir fotografá-los é uma sorte”, declarou Helena Freitas.
Acompanhando o muralismo na cidade ao longo dos primeiros 40 anos de democracia, a tese passa pelo intenso período do pós-25 de Abril, em que Setúbal foi a denominada “Ville Rouge”, pelo sucessivo encerramento de fábricas que, nos anos 80, mergulhou a cidade numa das suas maiores crises, e pelas diversas lutas em que a população se empenhou nas décadas seguintes.
Segundo a autora, “se, no PREC, as paredes conheceram o lema ‘Unir, Organizar, Armar’, nos anos 80, o exterior da Mecânica Setubalense acolheu o protesto dos operários no desemprego. Já nos anos 90, os muros espelharam o descontentamento popular face à presença das escórias da Metalimex e à co-incineração. Datam também dessa década os primeiros murais contra a designada ‘privatização’ de Tróia, pintados pelo PSR em vários pontos da cidade”.
Para melhor compreender em que medida a informação divulgada pelos murais se aproximava ou diferia da que era veiculada pela imprensa local, a investigadora social comparou os registos fotográficos das “pinturas de parede” com as edições de O SETBALENSE, então um trissemanário, avaliando “temas, protagonistas e ângulos de abordagem”.
“Foram centenas de horas de consulta de jornais, maioritariamente na Biblioteca Municipal mas também na redacção de O SETUBALENSE, cuja direcção me facilitou ainda o acesso aos arquivos fotográficos e autorizou o uso das imagens aí encontradas”, recorda a investigadora, que agora obteve o doutoramento em Ciências da Comunicação pelo ISCTE-IUL.
Entre os membros do júri figuraram personalidades residentes na cidade ou a ela vinculadas por questões familiares ou profissionais, caso de Viriato Soromenho-Marques, docente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, ou José Rebelo, ex-vereador da CMS, que orientou a tese.
Integraram ainda o júri professores da Universidade Nova de Lisboa, da Universidade Lusófona e da Universidade da Beira Interior, tendo os jurados louvado a “exaustividade da pesquisa” e reconhecido “a qualidade da escrita” patente nas mais de 300 páginas da dissertação.