A peça “Faith Healer – Terapia das Almas”, baseada no texto de Brian Friel, reúne três monólogos com relatos contraditórios sobre os mesmos acontecimentos
“Faith Healer – Terapia das Almas”, a nova produção do TAS – Teatro Animação de Setúbal, sobe ao palco do Fórum Municipal Luísa Todi no próximo sábado, dia 6 de Julho, pelas 21h30. Baseada no texto de Brian Friel, a peça conta com a interpretação de Célia David, Duarte Victor e Miguel Assis, com quem O SETUBALENSE – DIÁRIO DA REGIÃO esteve à conversa.
“Esta peça, de Brian Friel, um autor irlandês que até há muito pouco tempo não tinha sido feito em Portugal e que é considerado uma espécie de Tchekhov da língua inglesa, são três monólogos que no fundo retratam as memórias de três personagens que tiveram uma vida em comum durante algum tempo e cada um vai recordar essa vivência com memórias diferentes”, começa por dizer Célia David, reforçando a intensidade da peça e do tema abordado. “São um conjunto de pessoas que andaram de terra em terra, uma espécie de curandeiros. Demos o nome ‘Terapia das Almas” porque é curar pela fé. A memória prega-nos partidas às vezes e por isso não sabemos se estão a mentir, a dizer a verdade ou se de facto é só uma partida que a memória lhes pregou”, continua.
A acção de “Terapia das Almas” decorre nas ilhas britânicas, onde a personagem Frank Hardy oferece a promessa de redenção aos pobres e doentes. No entanto, o poder inquestionável de Frank leva-o ao conflito com a esposa, Grace, e com o agente Teddy. “É um texto muito interessante, que já foi feito muitas vezes mas em Portugal é a primeira vez. Os pontos de vista das personagens, sobre os mesmos assuntos, são completamente diferentes mas não quer dizer que estejam a mentir. Talvez seja apenas a sua versão. Para cada história, há sempre três verdades e cabe ao público decidir qual aceita como verdade, ou nenhuma, ou se opta por ter a sua própria verdade também”, refere Miguel Assis, partilhando o desejo de “que o público se entusiasme tanto quanto nós estamos entusiasmados”.
Interpretação e encenação a três mãos
Célia David, Duarte Victor e Miguel Assis interpretam os três personagens que, em três monólogos, revelam relatos contraditórios sobre eventos que sublinham a fragilidade da memória e a importância de histórias e mitos para a sobrevivência humana. “As memórias são a forma que o autor arranjou para no fundo falar sobre o carácter humano, sobre o confronto, sobre como as pessoas reagem perante determinadas situações, na relação com os outros”, refere Duarte Victor, acrescentando que “o texto tem uma componente psicológica muito grande”. Para o actor, o teatro é “um trabalho de actores e de autores, um trabalho de autoria colectiva” e este trabalho, em particular, é “como um instrumento que se toca a três. A ideia foi utilizar aquilo que o texto propõe e aplicar na prática, na sua execução. Somos três actores, com três visões e interpretações diferentes das memórias destas três personagens. São três formas de ver o texto, que é muito intimista e que necessita da proximidade do público, que vão com certeza enriquecer o espectáculo. E cada um de nós deu o seu contributo para a encenação, sendo também ela feita a três”.
Após a estreia, o espectáculo, que conta com figurinos de Lucília Telmo, design de Luís Valido e fotografia de João Bordeira, repete-se no dia 7, no mesmo local, pelas 17h00. Para além disso, Célia David revela que a peça “será reposta, com outra versão, no Teatro de Bolso, mas eventualmente só em Outubro”.