Espaço está a funcionar desde Novembro, mas ainda se prevê mais investimento para alargar a oferta a toda a população
A Sala Snoezelen, também conhecida como sala multissensorial, tem sido uma das mais recentes apostas para estimular os sentidos, desde crianças a idosos, através de um espaço preparado para ser um ‘porto seguro’ através de fins terapêuticos e pedagógicos.
No distrito de Setúbal existem apenas três salas com estas características, sendo uma na Amora, no concelho do Seixal, outra na Escola Básica Pedro Nunes, em Alcácer do Sal e, a mais recente, em Setúbal.
A clínica Sons da Fala, inaugurada em Novembro de 2024 é, actualmente a única no concelho a dispor de uma sala de estimulação sensorial, inspirada no conceito snoezelen.
Em entrevista a O SETUBALENSE, Susana Henriques, terapeuta e especialista multissensorial neste espaço desde a sua abertura, esclarece que, apesar da clínica se focar na terapia infantil, esta prática é benéfica para toda a sociedade, independentemente da idade, ao actuar como um mecanismo de regulação através do estímulo sensitivo. “Cada vez mais temos uma sociedade ansiosa, dependente de químicos, e esta terapia pode ser fundamental. É um grande apoio para quem está a passar por estes processos. Pode ser uma ajuda para conseguir gerir e estabilizar”, elucida.
O espaço tem vindo a fazer um investimento gradual no projecto de estimulação sensorial, com o intuito de que este cresça e alcance os requisitos de uma sala snoezelen. “Uma sala como esta requer um grande investimento por parte dos empresários. O que nos falta seria uma cama de água, uma coluna de bolhas e fibras ópticas profissionais”, explica Susana Henriques.
O objectivo é capacitar ainda mais a sala para “trabalhar com crianças, adultos e seniores que têm necessidade de ter algum apoio na gestão emocional ou dos próprios sentidos”, uma tentativa de alargar a terapia além da comunidade infanto-juvenil.
Valência quer chegar desde as crianças aos idosos
A especialista sensorial recorda que a clínica pretende alargar os protocolos à restante comunidade escolar no próximo ano lectivo, e a lares de idosos num futuro próximo, levando o projecto a estas instituições para que possam experimentar e iniciar tratamentos adequados às suas necessidades. “Uma vez que os materiais que temos neste momento são passíveis de serem transportados, estamos a desenvolver um projecto em que a magia desta sala e da estimulação sensorial seja levada a todo o concelho. Gostava muito que este projecto ganhasse asas, que voasse por toda a cidade e que as pessoas tivessem a oportunidade, pelo menos uma vez na vida, de ter uma sessão de estimulação sensorial”, concluiu.
O sedentarismo é uma das principais causas apontadas para diversas dificuldades actualmente detectadas nas crianças, nomeadamente no desenvolvimento de competências como a leitura e a escrita. “Se diminuirmos essas actividades físicas – há cada vez menos espaços para brincar nos intervalos –, menor será a estimulação dos sentidos. Logo, se os estímulos vão diminuindo, as dificuldades vão aumentando. Portanto, estas salas de estimulação são demasiado importantes por isso. E não são só para crianças com necessidades educativas especiais”, afirma Susana Henriques, que reforça também que estes espaços deveriam ser usados por todo o tipo de pessoas. “Isto acontece porque o sistema vestibular e proprioceptivo não estão a ser devidamente trabalhados. As salas servem para dar os estímulos adequados às necessidades de cada criança. Este espaço é muito especial, porque aqui a criança é livre para explorar e manipular todos os objectos”.
Para a especialista de estimulação sensorial, a sua implementação é de “necessidade extrema” e afirma mesmo que “todos os terapeutas que aqui trabalham têm consciência de que esta sala seria um benefício gigante para todos os utentes da clínica, como para toda a comunidade”. Susana Henriques, também professora de ensino especial, reforça com um exemplo concreto. “No ano passado trabalhei numa escola, em Setúbal, onde tive a oportunidade de, quase diariamente, trabalhar a estimulação sensorial com crianças com necessidades educativas especiais, e foi possível observar um desenvolvimento espantoso em cada criança. A sala snoezelen é muito utilizada noutros países, e nós ainda estamos a descobrir”.
Esta é uma implementação que gostaria de ver mais uniformizada, uma medida integrativa que pode ser estendida a toda a comunidade escolar, e que espera ver implementada futuramente no sistema de ensino português.
A clínica pretende continuar a contribuir proactivamente para a integração da terapêutica multissensorial nas escolas e na comunidade setubalense, por acreditar no seu potencial transformador, que começa agora a ser reconhecido e “parece estar a ficar na moda”.