Tânia Moreira, responsável pelo secretariado em Setúbal, afirma que a situação está “pior” e que faltam respostas
A dificuldade dos processos de regularização de migrantes alastra-se em todo o País e Setúbal não é excepção. Tânia Moreira, coordenadora do Secretariado da Pastoral das Migrações de Setúbal, garante estar no terreno a acompanhar a situação que considera estar a tornar-se insustentável.
“O feedback que eu tenho do terreno é que a situação está muito, muito pior. Há relatos de pessoas que estão há meses, há mais de um ano à espera de uma resposta, não conseguem estabelecer contacto com ninguém para esclarecer a situação, e simplesmente ficam penduradas, com as vidas penduradas”, declarou em entrevista conjunta à Ecclesia e à Renascença.
A responsável pela coordenação daquele secretariado considera que só existem três frentes que podem dar resposta a estes acontecimentos: a Igreja, as autarquias e a sociedade em geral, e acrescenta que actualmente “são mais os muros do que propriamente as pontes”.
Confrontada com os crescentes comentários xenófobos e a ideia de que os imigrantes prejudicam o País, Tânia Moreira dá exemplos concretos de como estas visões afectam a vida de quem procura por melhores condições. “As pessoas queixam-se que vêem um anúncio, fazem um telefonema, a pessoa apercebe-se de um sotaque diferente, imediatamente o contacto é interrompido e já não dão essa oportunidade”.
No seu entender o resultado das eleições para o Parlamento Europeu, que se realizam já no próximo domingo, podem mudar ainda mais a forma como estas pessoas são vistas. Lança, ainda, farpas aos governantes afirmando que é incutida a ideia de que o aumento do número de estrangeiros em Portugal está a par com o aumento da criminalidade.
“É falsa questão e é uma ideia que os políticos lançam, para depois aparecerem como salvadores da pátria”. Tânia Moreira fala na primeira pessoa quando o assunto é a vinda de estrangeiros para o País. “Nasci aqui, cresci aqui, sou filha de pais cabo-verdianos, senti na pele, durante a minha vida, algumas destas questões relativas à imigração”.