À frente dos comunistas Paulo Raimundo já disputou cinco eleições
Paulo Raimundo completa esta terça-feira dois anos como secretário-geral do PCP, marcados por críticas à “política de direita” do Governo, uma demarcação do PS e cinco eleições nas quais o partido não conseguiu inverter um ciclo de declínio.
Desconhecido da grande maioria da opinião pública, Paulo Raimundo foi eleito para substituir Jerónimo de Sousa como secretário-geral em 12 de Novembro de 2022, na Conferência Nacional do partido organizada em Corroios, distrito de Setúbal, tornando-se no quarto líder comunista desde o 25 de Abril de 1974.
Desde que assumiu a liderança do partido, Paulo Raimundo já disputou cinco eleições enquanto secretário-geral do PCP: duas eleições regionais na Madeira, uma nos Açores, as eleições legislativas de Março de 2024 e as europeias de Junho.
Nas duas eleições a nível nacional, o partido confirmou o declínio eleitoral que tem verificado desde 2019, após ter participado na ‘geringonça’.
Nas legislativas de Março 2024, a CDU registou mesmo o seu pior resultado de sempre, com 3,17% e a eleição de apenas quatro deputados. Nas europeias, apesar de conseguir eleger um eurodeputado (João Oliveira), voltou a ter o seu resultado mais baixo de sempre nessas eleições: 4,12%.
Apesar de reconhecer que esse declínio eleitoral é um facto – salientando que “não enfia a cabeça na areia” -, Paulo Raimundo rejeitou que possa indiciar o desaparecimento do partido, destacando a “capacidade de resistência” dos comunistas perante um contexto de “hostilidade e menorização” e “prolongada falsificação de posicionamentos do PCP”.
“Partimos para esta batalha com a ideia de que a CDU ia desaparecer. O povo respondeu dizendo que a CDU faz falta”, afirmou Paulo Raimundo na noite eleitoral das legislativas de 2024.
Desde essas eleições, o PCP tem procurado encabeçar as críticas à governação do PSD/CDS, tendo sido o primeiro partido a anunciar, logo em 13 de Março – apenas três dias após as legislativas – a apresentação de uma moção de censura ao programa do Governo, que acabaria por ser rejeitada.
Nos últimos oito meses, o secretário-geral do PCP tem multiplicado as críticas ao Governo PSD/CDS, que considera estar sujeito aos “interesses do grande capital” e só estar a agravar e a intensificar as políticas que vinham da maioria absoluta do PS, tendo prometido combate a essa política.
“A cada dia, a cada decisão, a cada novo pacote, aí está o Governo PSD/CDS a dar lastro à agenda de interesses do capital monopolista. Uma perigosa agenda de exploração, destruição de serviços públicos e de alienação dos interesses nacionais que precisa de ser derrotada”, disse na Festa do Avante! deste ano.
Perante estas políticas, Paulo Raimundo tem procurado acentuar que é necessária uma “ruptura” e uma “política alternativa” protagonizada pelo PCP. Insistindo no carácter distintivo e singular do projecto da CDU, Raimundo tem também procurado demarcar-se de qualquer tipo de coligação formal ou informal com o PS, apesar de se manifestar aberto a convergências.
Na campanha para as legislativas, o secretário-geral do PCP considerou que a ‘geringonça’ era irrepetível e rejeitou dar qualquer “cheque em branco” ao PS – numa alusão a eventuais compromissos pós-eleitorais -, comprometendo-se apenas a avaliar eventuais entendimentos proposta a proposta.
Da mesma maneira, para as autárquicas de 2025, perante uma proposta do Livre para uma frente de esquerda, em particular em Lisboa, Paulo Raimundo afirmou que “dificilmente se pode contar com o PS a nível autárquico”, acabando por avançar com uma candidatura própria à autarquia da capital, encabeçada por João Ferreira.
A nível interno, o secretário-geral comunista assumiu como desígnio tornar o PCP “ainda mais ligado à vida”, apelo que voltou a fazer nas vésperas do XXII Congresso do partido, que se vai realizar entre 13 e 15 de Dezembro em Almada, pedindo aos militantes que reforcem a sua intervenção, organização e influência junto das massas.
“Sem um PCP mais forte, podem-se fazer muitas coisas, mas não se abrirá nunca o rumo de que o país precisa”, afirmou numa reunião em Outubro, preparatória da reunião magna do partido, em que definiu o reforço da responsabilização dos quadros do PCP como “a medida mais prioritária”.