Modelo de cogestão foi iniciado em 2022, pela Câmara Municipal de Sesimbra e pela Câmara Municipal de Almada
A Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza contesta a possível construção de três parques de campismo no perímetro da paisagem protegida da Mata dos Medos, no concelho de Almada, considerando que são uma ameaça para a zona.
Em comunicado, a associação ambientalista manifesta-se preocupada com a omissão do Plano de Pormenor dos Novos Parques de Campismo (PPNPC) na Proposta de Plano de Cogestão da Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica (PPAFCC), que esteve em consulta pública entre 14 de Abril e 16 de Maio.
O modelo de cogestão foi iniciado em 2022, pela Câmara Municipal de Sesimbra e pela Câmara Municipal de Almada.
No seu parecer à proposta, no âmbito da consulta pública, a Quercus refere que a construção prevista de três grandes parques de campismo na área do Pinhal do Inglês – inserido no perímetro da paisagem protegida – “representa uma ameaça para os valores naturais da zona, com impacto estimado sobre 96 hectares de floresta”.
“A criação de 4.300 alvéolos para campismo numa área sensível, com previsões de mais de 17 mil utilizadores regulares, irá agravar a pressão sobre o solo, a biodiversidade e os acessos à Praia da Fonte da Telha, que já sofre de sobrecarga”, alerta a Quercus.
Entre os impactos identificados, a Quercus destaca a erosão e impermeabilização do solo, com riscos acrescidos de escorrência e destruição de ‘habitats’, a perturbação de espécies, como morcegos e aves, pela presença humana intensiva e a fragmentação ecológica do corredor natural entre a Mata dos Medos e os pinhais da Aroeira.
A associação ambientalista destaca ainda a existência de um défice de transportes públicos, agravando a dependência do automóvel, e a ausência de estudos actualizados de procura e capacidade de carga.
Para aquela zona, a Quercus defende “uma visão integrada que priorize a conservação e o restauro ecológico em detrimento de modelos turísticos de grande escala”, propondo a criação de bolsas de estacionamento externas, ligadas à praia por transportes sustentáveis, e a implementação de valas de infiltração e bacias de retenção para controlar o escoamento pluvial.
O reforço da fiscalização ambiental e instalação de sinalética educativa, a transformação do Pinhal do Inglês num corredor ecológico, com plantação de espécies autóctones, e a promoção de zonas de interface naturalizadas entre áreas urbanas e espaços protegidos são outras das propostas da associação ambientalista.
Por outro lado, a associação apela a que “o Plano de Cogestão seja revisto de forma a considerar as ameaças reais ao território”, incluindo as pressões urbanísticas do Plano de Pormenor dos Novos Parques de Campismo, e que “a Mata Nacional dos Medos seja reconhecida como área de protecção integral, assegurando a preservação de um dos últimos refúgios de biodiversidade do litoral sul da Área Metropolitana de Lisboa”.
A Quercus defende igualmente a criação de um estatuto de Reserva Integral para a Mata Nacional dos Medos, “dada a sua elevada importância ecológica e científica”.
A zona, acrescenta, alberga “espécies endémicas de elevado interesse e habitats naturais protegidos pela directiva ‘habitats’, incluindo oito ‘habitats’ prioritários”, sendo que a existência de populações de morcegos, “com papel fundamental no equilíbrio dos ecossistemas, reforça a necessidade de protecção reforçada”.