Morreu esta quinta-feira, aos 90 anos, José Lemos Ferreira. O general que bateu o pé ao governo socialista em 1996, quando este decidiu construir o novo aeroporto na OTA
O general José Lemos Ferreira morreu ontem, aos 90 anos. Ex-chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas, ficou conhecido como o pai da era moderna da Força Aérea Portuguesa e protagonista do avistamento de um Objecto Voador Não Identificado (OVNI) em Setembro de 1957.
Nascido em Portalegre a 23 de Junho de 1929, o general, que agora residia em Setúbal entrou para o curso de aeronáutica em 1948, frequentou um curso de piloto nos Estados Unidos da América e desempenhou funções nas bases aéreas de Monte Real e do Montijo.
Um dos seus últimos actos públicos foi em Setúbal, em Outubro de 2018, na cerimónia em que a cidade homenageou os seus mais de 200 soldados que participaram na I Grande Guerra Mundial, na batalha La Lys, em França.
Senhor de “grande personalidade”, o General Lemos Ferreira é assim lembrado por Fidélio Guerreiro, que durante anos esteve à frente da Associação Empresarial da Região de Setúbal (AERSET), que ainda o relembra como “muito competente, correcto e lutador pelas suas convicções”, assim como de “grande rigor e ética”.
Foi esse carácter que Fidélio Guerreiro, actual presidente do movimento Pensar Setúbal, viu no general quando este esteve ao lado da posição da AERSET em cativar o novo aeroporto de Lisboa para a margem sul. Debateram-se argumento, foi criado um grupo de pressão e a opção pelo ‘lado certo’ ganhou força e venceu.
“Para o General Lemos Ferreira o novo aeroporto tinha de ficar [deste lado do Tejo], e não se pronunciava muito quanto ao local”, diz o ex-presidente da AERSET. Isto em 1996 quando surgiram a opção OTA ou Alcochete.
Até se chegar a esta decisão começou-se a caminhar na base de um estudo elaborado em 1978, que colocou em cima da mesa a construção do novo Aeroporto Internacional de Lisboa em Rio Frio, com duas opções de terreno, e uma terceira opção na OTA.
Depois de anos de debates sobre a localização desta infra-estrutura, em 1997 o ministro João Cravinho que detinha a pasta do Equipamento do Planeamento e da Administração do Território aprovou a opção OTA, em Alenquer, o que desagradou ao General José Lemos Ferreira. Mas com esta opção a revelar problemas técnicos e um elevado custo, os olhos acabaram por se colocar não em Rio Frio, mas sim em Alcochete, que começou a ter prioridade.
Pelo que conta Fidélio Guerreiro, para o general, que se embrenhou na luta pela localização do novo aeroporto em 1996, não havia questões a colocar porque “o seu único objectivo era que fosse na margem sul”, repete.
Entretanto, com os governos PS e PSD a embrulharem a construção em impasses, o actual Governo acabou por se posicionar numa quinta opção; a base área 6 no Montijo, onde tudo índica que será mesmo construído.
Aliás, esta poderá até ser uma sexta opção, uma vez que há quem lembre que a Costa da Caparica, também esteve na mira deste equipamento.
Ainda a reflectir sobre o caracter do General José Lemos Ferreira, o presidente do Movimento Pensar Setúbal conta que este, ainda enquanto jovem oficial, participou num concurso de aviação nos Estados Unidos da América e, entre 80 participantes de todo o mundo, Lemos Ferreira ficou em primeiro lugar. “Ele era assim, calado e extremamente exigente”.