Depois de ter passado por hospitais de Lisboa, Loures e Estocolmo, diz ter ficado surpreendida com a juventude das grávidas em Setúbal
Depois de estudar medicina em Lisboa e Estocolmo, Margarida Pavão, 28 anos, veio para o Hospital de São Bernardo, em Setúbal, onde está a completar a especialidade de Ginecologia e Obstetrícia.
Quando chegou à cidade do Sado, encontrou uma realidade diferente da que estava habituada. “Uma surpresa”, diz, e não muito pela positiva. “Não pelo hospital em si”, onde o ambiente entre médicos “é excelente”, e tem feito amizades, mas pela realidade social relacionada com a idade das parturientes. Esta uma matéria que quer aprofundar.
O Bloco de Partos do Hospital de São Bernardo “não reflecte a realidade do que acontece em Portugal, particularmente em Lisboa, onde as mulheres têm filhos cada vez mais tarde”. Em Setúbal, “chegam-nos mulheres muito novas, muitas vezes na casa dos 25 anos e já no segundo ou mesmo terceiro filho. Na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, a média de idades anda nos 30 e 40 anos”, avalia Margarida Pavão, que no segundo ano de Obstetrícia no Hospital de Setúbal, se interroga sobre o porquê desta diferença de idades.
Neste momento também a fazer estágio na Maternidade Alfredo da Costa, esta diferença de idades das parturientes apresenta-se-lhe ainda mais evidente, por isso está interessada em perceber os motivos desta realidade entre duas cidades relativamente próximas, mas já vai tirando primeiras conclusões:
“O índice de pobreza em Setúbal é maior, e isso implique menos literacia das pessoas”. O que tem mais em concreto é existir “um bocadinho de mais dificuldade em explicar às grávidas certos exames que têm de fazer, e também o resultado desses exames”. Mas obviamente, “que não são todas assim”, infere.
Outra observação é serem “muitas as mulheres que não procuram cuidados de saúde na especialidade de Ginecologia e Obstetrícia, nem usam método contraceptivos”. Pelo que interpreta, isto acrescentado com a juventude das grávidas, “pode estar relacionado por não terem uma visão sobre carreira profissional”, e complementa o seu raciocínio: “Actualmente, são muitas as mulheres que apostam fortemente na carreira profissional, ou prolongam os estudos, por isso atrasam cada vez mais a gravidez”.
Por outro lado, o facto de existirem grávidas mais novas também tem as suas vantagens. “Em Setúbal temos menos mulheres doentes a engravidarem, logo a apresentarem menor risco, o que implica a maternidade do distrital Hospital de São Bernardo “não receber muito bebés prematuros”. Mais uma vez, “uma realidade diferente do que acontece em Lisboa”.
Mas também detecta outra questão: “O planeamento familiar em Setúbal, tanto nos centros de saúde como no hospital são insuficientes”, e apesar de todos os esforços do hospital, “neste momento há muito poucas consultas de planeamento familiar”, um problema que não afecta só o concelho, mas “a região”.
Chegada ao Hospital de São Bernardo em 2021, Margarida Pavão está no segundo ano da especialidade de Obstetrícia e para o ano começa em Ginecologia, no total, são seis anos de especialidade, e considera a possibilidade de continuar em Setúbal, mas certezas não tem. “Nem sei, dentro da Ginecologia/Obstetrícia, qual a área em que me quero mesmo especializar”, ou seja, uma especialização dentro de uma área maior desta especialização médica. Apesar de reafirmar que gosta do serviço em Setúbal, também diz que a mobilidade médica é grande e “alguns médicos mais novos têm saído”.
Mas para já, a clínica Margarida Pavão, que já passou pelo Conservatório Nacional de Música, como estudante de oboé e canto, que foi cativada para a especialidade de Ginecologia e Obstetrícia em Estocolmo, já passou por hospitais em Lisboa e pelo multivalente Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, sente-se cativada por Setúbal.
Depois de muitas horas passadas no hospital, inclusivamente em serviços de 24 horas, diz que o tempo de descanso são mesmo passados em Lisboa, onde reside, mas consegue sempre tempo para algumas vezes jantar com os amigos na terra do Sado. “Adoro jantar em Setúbal; o peixinho. E até amigos de Lisboa vêm ter comigo para jantarmos”, conta.
Margarida Pavão à queima-roupa
Idade 28 anos
Naturalidade Lisboa
Residência Lisboa
Médica Ginecologia/Obstetrícia no Hospital de São Bernardo