Linhas de apoio ajudam a manter saúde mental em dias de pandemia

Linhas de apoio ajudam a manter saúde mental em dias de pandemia

Linhas de apoio ajudam a manter saúde mental em dias de pandemia

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Ansiedade, medo, pânico ou incapacidade para lidar com determinadas funções foram algumas das queixas apresentadas pelos profissionais de saúde

 

Após a criação no final de Março de duas linhas de apoio e consultas em Saúde Mental no Centro Hospitalar Barreiro Montijo (CHBM), uma das quais destinada aos utentes em crise e outra dirigida aos profissionais de saúde, na sequência da pandemia Covid-19, as equipas responsáveis garantem que foi possível realizar vários atendimentos a pacientes que se encontravam “em crise emocional”, tendo se registado também o “agravamento do quadro clínico” de pessoas que já estavam a ser seguidas pela instituição. De acordo com o balanço feito a O SETUBALENSE por Gláucia Lima, directora do departamento de Psiquiatria, e pela responsável da unidade de Psicologia, Fátima Lourenço, os serviços assinalaram também um acréscimo na procura por “pessoas que nunca tiveram contacto” com aquelas áreas, algumas das quais provenientes de “outros concelhos” da região e que necessitaram de ajuda psicológica ou psiquiátrica.

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“Também se evitaram vindas ao serviço de urgência com exposição desnecessária”, revelaram, sendo que algumas destas pessoas são profissionais de saúde que, como as outras, também precisaram de “ajuda especializada”. A ansiedade, o medo e o pânico, bem como os “sentimentos de incapacidade em lidar com as funções solicitadas”, para além do “afastamento da família e o cansaço” foram as principais patologias apresentadas pelos profissionais, que tiveram a necessidade de contactar estas linhas de apoio, mais frequentemente, com “sintomas relacionados com as perturbações do foro ansioso”, isto para além do stress associado à profissão.

Relativamente às pessoas que apresentaram um quadro de maior gravidade e vulnerabilidade, “habitualmente devido a situações pré mórbidas”, o CHBM acompanhou estes casos presencialmente, com os pacientes a “necessitarem de intervenção no contexto do serviço de urgência, tendo sido ponderado o internamento para compensação do seu estado psicopatológico”. No caso dos profissionais de saúde e nesta altura, continuam a ser acompanhados por aquele centro hospitalar através de teleconsulta. “Até ao momento tivemos cerca de 20 consultas”, adiantou a equipa que gere ambos os serviços.

“Perceber a dinâmica do utente no seu meio”

A pandemia Covid-19, recorde-se, tem levado alguns portugueses que estão na linha da frente, a procurarem ajuda ao nível da saúde mental, conforme destacou recentemente o psiquiatra e professor universitário Miguel Xavier, actual director do Programa Nacional de Saúde Mental, referindo-se ao “medo”, à “disrupção social” e ao confinamento. “Se traz algumas coisas boas”, também trouxe situações “a que não estávamos habituados, que é viver todos juntos, no mesmo sítio e ao mesmo tempo”, uma conjuntura que constatou a existência de “alguns conflitos latentes” que acabaram por se manifestar.
No caso do CHBM, todos os pedidos de consultas foram respondidos de acordo com a sua gravidade. “Quando necessário, contactou-se com os familiares dos utentes, tentando manter sempre a nossa linha de atendimento numa perspectiva sistémica” para “perceber a dinâmica do utente no seu meio e família”, salienta a mesma equipa.

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Em relação aos doentes infectados pela Covid-19, que se encontravam em casa e em isolamento, Fátima Lourenço e Gláucia Lima explicam que “tivemos utentes e profissionais com necessidade de apoio psicológico e psiquiátrico no domicílio”, tendo sido garantido o apoio e a prestação de cuidados também por teleconsulta. “O mais importante foi assegurar aos profissionais de saúde que do outro lado da linha está e estará sempre um colega disponível para ouvi-lo e o poder ajudar”, e com “quem podemos contar caso nos sintamos fragilizados”.

23% confessam estar sempre a pensar na Covid-19

Estas linhas de apoio e consultas foram criadas, sobretudo, para apoiar profissionais do CHBM e do ACES Arco Ribeirinho, na sequência da pandemia. “Nestes tempos difíceis de maior ansiedade para os técnicos que estão na linha da frente, pretendemos dar um apoio personalizado […] aos profissionais que se sintam mais fragilizados a nível emocional e que precisem da colaboração da psiquiatria”, afirmou Gláucia Lima, aquando da criação daquele serviço.

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Neste âmbito, recorde-se que o questionário “Opinião Social” do Barómetro Covid-19, realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública, revelou que um quarto dos inquiridos se sentia ansioso, em baixo ou triste todos os dias. Deste grupo, a maioria eram mulheres e pessoas que se encontravam em teletrabalho. Já um terço reportou distúrbios de sono, com um quarto das pessoas a afirmarem que não conseguiam fazer tudo o que precisavam. Por sua vez, 23 por cento confessou que estava sempre a pensar na Covid-19.

 

Município Linha de apoio psicológico criada em Abril

Desde cedo e neste contexto, também o município do Barreiro procurou dar resposta a uma maior exposição e aos múltiplos desafios na esfera da saúde mental e bem-estar psicológico da população, tendo disponibilizado a 27 de Abril uma Linha de Apoio Psicológico dirigida a todos os habitantes, inclusivamente aos mais novos, desde que fossem acompanhados por um adulto.

Constituída por uma equipa de quatro psicólogos, a linha estabeleceu desde o seu início um modelo de intervenção à distância em primeiros socorros psicológicos, para ajudar a uma melhor gestão de emoções, tais como o stress, ansiedade, angústia e o medo. Outro dos objectivos passou por “promover a resiliência psicológica” e “reforçar o sentimento de segurança da população e dos cuidadores”, encaminhando para entidades de apoio emergente em caso de necessidade.

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