Hélder Pacheco: “Não treino campeões de desporto, treino campeões da vida”

Hélder Pacheco: “Não treino campeões de desporto, treino campeões da vida”

Hélder Pacheco: “Não treino campeões de desporto, treino campeões da vida”

O que começou com um sonho de infância do fundador da escola de natação da Quinta do Conde é hoje um clube que alcança vitórias regionais e nacionais

 

Na piscina interior do Parque Verde, em Fernão Ferro, o ar é abafado e o cheiro a cloro é intenso, condições que não parecem incomodar quem estabelece uma relação de cumplicidade com a água.

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A par com o som elevado da música ambiente e a agitação de umas quantas aulas de natação a ocorrer em simultâneo, os atletas do clube de natação quinta condense, Despertar Recorde, testam as suas capacidades num treino exaustivo.

“Mariposa”, grita Hélder Pacheco, treinador e fundador do clube. Aos pares, os nadadores seguem as indicações e furam velozmente a água ao longo de largos metros. Quando o seu turno termina, surgem à superfície com o peito a arfar.

É mais uma tarde habitual de treino, no qual a exigência marca presença. Afinal de contas, só assim conseguiram ser Vice-Campeões Regionais Seniores em diversos estilos, em 2021, e arrecadar mãos cheias de títulos individuais e colectivos.

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“Brincamos muito, mas quando é para treinar é a sério”, confessa Leonor Oliveira, uma das 20 atletas federadas do clube. Aos 15 anos, a nadadora já conta com os títulos de Campeã Regional Júnior em 50 metros Mariposa e Vice-Campeã Regional Absoluta na mesma modalidade, algo que não parece ser difícil para quem nada desde os seis anos e entra em competições desde os oito.

“Quando entro na água já não penso em mais nada”, revela a jovem. “Sinto que posso deixar aqui [na piscina] a minha raiva toda”.

O despertar de um clube

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Erguer uma escola de natação com 500 utentes e um grupo de atletas federados não foi tarefa fácil [ver caixa], revela o fundador do clube, de 41 anos.

Poderia pensar-se que tudo começou em 2017, na piscina do antigo ginásio da Quinta do Conde, Sport City, no qual Hélder fundou o Despertar Recorde, mas o responsável acredita que começou muito antes.

“Sou fixado em natação desde que entrei numa piscina pela primeira vez, aos 10 anos”, conta o quinta condense. Com essa idade, Hélder assistia aos treinos de natação da irmã, na Academia Almadense, espaço onde também treinava um grupo de atletas profissionais que rapidamente despertou o seu interesse.

“Achava-os fascinantes. Comecei a registar todos os treinos que via num caderninho. Apontava os tempos, os exercícios, tudo”. Foi assim que percebeu que queria tornar-se treinador de natação. Mais tarde, juntou-se ao grupo enquanto nadador, mas afirma “não ter nascido para ser atleta”. “Fui feito para ser treinador”, reforça.

E que o diga André Magalhães. “O Hélder é o mestre da natação”, confirma o nadador de 24 anos. “É exigente, mas sobretudo, brincalhão”. André começou a treinar na Despertar Recorde apenas há dois anos, mas a natação já faz parte da sua vida desde os tempos da pré-escola.

No seu currículo constam mais de uma dezena de vitórias e a mais recente foi disputada o mês passado, na Madeira, onde venceu a Final B do Campeonato Nacional de Juvenis e Absolutos na prova de 50 metros Bruços.

Mais do que nadar, trabalhar em equipa

Quando o Despertar Recorde foi fundado, o objectivo era tornar-se o melhor clube de natação da Margem Sul do Tejo, patamar que Hélder Pacheco garante estar perto de ser conquistado. “Temos a maioria das vitórias nas provas de escalão sénior de todos os clubes da Margem Sul”. Agora, a meta é outra: ser “o melhor clube do mundo”, algo que o treinador acredita não ser conseguido somente à base de medalhas.

“Gosto de ganhar, mas gosto mais de ganhar bem e isso implica trabalhar em equipa. Explico-lhes muitas vezes que não adianta ganhar muitas medalhas se não tiverem ninguém que celebre com eles. Não treino campeões de desporto, treino campeões da vida e estou aqui para formar super pessoas”, explica.

Dentro ou fora de água, a mensagem parece ter sido transmitida aos mais novos, pois tanto Leonor como André dizem terem-se tornado “pessoas melhores” com o desporto aquático. “A natação fez de mim quem sou”, declara André. “Obrigou-me a ser organizado, a respeitar os outros e o treinador”.

Hélder sabe que seria difícil ser de outra forma, tendo em conta o tempo que atletas e treinador passam juntos. Todos os dias, das 18h às 21h há treino marcado na piscina de Fernão Ferro. “São os filhos que a vida me deu”, confessa o responsável do clube. E os nadadores parecem não se importar de o ser.

“Tenho muitos marcos para atingir e quando já não der quero ser treinador”, afirma André. “Vou nadar até não conseguir mais”, acrescenta Leonor.

Resilientes A luta por uma piscina própria

Sem piscina municipal na Quinta do Conde, onde estão sediados, actualmente, o Despertar Recorde treina quase todo o ano na piscina alugada do Parque Verde, mas a verdade é que nem sempre teve condições estáveis para realizar os treinos de natação.

Quando começou a formar o seu pequeno grupo de atletas, no antigo ginásio da Quinta do Conde, Hélder chegou a recorrer à Piscina Municipal de Azeitão em busca de um espaço adequado para praticar natação de competição.

“Só precisávamos de duas pistas para treinar, mas assim que chegámos, deixaram bem claro que já tinham campeões. Mostraram-nos a cozinha, caso a quiséssemos explorar. Do que estavam à espera? Que treinasse os miúdos na panela?”, brinca o treinador.

Quando finalmente conseguiram estabelecer acordo com o parque de campismo de Fernão Ferro, em 2019, após um ano de negociações, as restrições provocadas pela covid-19 trocaram-lhes as voltas. Sem piscinas que lhes quisessem ceder espaço e com provas agendadas para o ano seguinte, o grupo teve de improvisar.

“Treinávamos no mar completamente gelado ou então em parques de estacionamento. Não foi um ano fácil, mas isso tornou-nos resilientes”, garante.

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