Frei Agostinho da Cruz homenageado como “poeta universal”

Frei Agostinho da Cruz homenageado como “poeta universal”

Frei Agostinho da Cruz homenageado como “poeta universal”

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Antologia poética foi apresentada na abertura das comemorações do IV centenário da morte de Frei Agostinho da Cruz e dos 480 anos do seu nascimento, na Cúria Diocesana, sábado à noite

 

 

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Um poeta de carácter “universal” e não apenas “um poeta religioso, nem apenas um poeta de Setúbal, da Serra da Arrábida, da Serra de Sintra ou de Ponte da Barca”, assim foi homenageado Frei Agostinho da Cruz na cerimónia de lançamento de uma nova antologia poética e de abertura das comemorações promovidas pela Diocese de Setúbal a propósito do IV centenário da sua morte e dos 480 anos do seu nascimento.

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A antologia organizada por Ruy Ventura, presidente da Comissão das comemorações, foi elaborada como uma obra de “literatura e partilha” e não como uma antologia de “ar beato, porque isso não ajudaria a conhecer a obra de Frei Agostinho”, notou o professor João Reis Ribeiro na apresentação do livro, perante uma auditório praticamente cheio na Cúria Diocesana.

“Frei Agostinho da Cruz não podia ter nascido e desenvolvido o que desenvolveu noutro sítio. [A sua poesia] é própria da Arrábida, própria da espiritualidade franciscana da Arrábida. “É um personagem que fala muito à nossa cidade”, afirmou por sua vez D. José Ornelas Carvalho, considerando que a própria serra representa “um pólo de identidade da Península de Setúbal” no tempo do poeta e ainda hoje.

O Bispo de Setúbal aproveitou o discurso para chamar também a atenção para a importância da preservação da natureza, tomando como exemplo Frei Agostinho da Cruz e o seu “desafio da ecologia”. “Chama a atenção para a relação humana com a Terra e o planeta, mas também humanizada, porque não há Terra sem humanidade. Temos de cuidar dela, preservá-la e entregá-la às próximas gerações”, sublinhou.

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Esta antologia é lançada 21 anos depois da última que se conhece, pelo que, nas palavras de Ruy Ventura “é importante” voltar a ler Frei Agostinho da Cruz, “voltar a entendê-lo e voltar a aprender com o exemplo dele”. Na obra de 300 páginas estão certa de metade dos poemas que escreveu. A edição foi financiada por 180 subscritores e encontrar-se-á à venda nas principais livrarias de Setúbal e de grande distribuição.

No final do lançamento houve uma leitura de poemas pelo professor João Reis Ribeiro e a interpretação de dois hinos também escritos por Frei Agostinho da Cruz. A próxima actividade das comemorações em Setúbal é uma visita guiada ao Convento da Arrábida, com a leitura de poemas, no dia 23 às 15h30. O programa encontra-se em detalhe na página de Internet da Diocese de Setúbal.

Antes deste lançamento realizou-se uma eucaristia de sufrágio e acção de graças por Frei Agostinho da Cruz na igreja da Anunciada. Sesimbra, Almada, Barreiro, Sintra, Santarém, Porto e Ponte da Barca são outras das cidades que vão acolher eventos neste âmbito, entre Março desde ano e Maio de 2020, mês em que se assinalam os 480 anos do nascimento do poeta.

 

A vida de Frei Agostinho da Cruz

 

Agostinho Pimenta nasceu em Ponte da Barca (Alto Minho) em 1540 e só adoptou o nome por que ficou conhecido aos 20 anos, quando decidiu sair da Corte, mudar de vida e ser frade. Viveu 45 anos no mais rigoroso convento da Ordem dos Frades Arrábidos e depois mudou-se para uma ermita no Convento da Arrábida, onde viveu em reclusa e escreveu muitos dos seus poemas. Aos 79 anos – idade tardia para época – adoeceu e foi transferido para a enfermaria da Ordem em Setúbal, onde viria a morrer a 14 de Março de 1619. A sua sepultura encontra-se na igreja do Convento da Arrábida.

 

 

Poemas

 

NA SERRA DA ARRÁBIDA

 

Do meio desta Serra derramando

A saudosa vista nas salgadas

Águas humildes, quando e quando inchadas,

Conforme o vário vento vai soprando,

 

Estou comigo só considerando,

Donde foram parar cousas passadas,

E donde irão presentes mal fundadas,

Pois pelos mesmos passos vão passando.

 

Oh qual se representa nesta parte

Aquela derradeira hora de vida

Tão devida, tão certa, e tão incerta!

 

Em quantas tristes partes se reparte,

Dentro nest’ alma minha entristecida,

A dor, que em tais extremos me desperta!

 

 

[SERRA MINHA]

 

Serra minha do mar largo cercada

penedias cobertas de verdura

das aves e das feras abatida

movendo a contemplar a fermosura

nos suspiros ardentes abrasada

do Creador de toda a creatura

que costuma dar mais do que promete

serra, aves, e mar, feras, valete.

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