Obra de Maria Inês Gonçalves conquista prémio de Curta-Metragem Europeia. Jovem sadina ambiciona que filme seja visto no mundo inteiro
A curta-metragem ‘La Durmiente’ de Maria Inês Gonçalves, realizadora setubalense, esteve na competição oficial Tiger Short do Festival de Cinema de Roterdão e saiu nesta segunda-feira à noite da cidade neerlandesa com o prémio de Curta-Metragem Europeia. Com esta distinção fica candidata ao Prémio Europeu de Cinema, algo que surpreendeu a realizadora, cujo grande objectivo é ter o seu filme visto no mundo inteiro, principalmente em Portugal.
O filme, uma co-produção luso-espanhola, pega na história esquecida da infanta D. Beatriz de Portugal, peça fulcral na crise dinástica de 1383. Filmado no Mosteiro de Sancti Spiritus, em Espanha, onde está sepultada Beatriz de Portugal, o filme aborda fragmentos da vida desta infanta com recurso a um elenco com sete crianças, entre elas Maria Helena Calado, uma jovem actriz de Setúbal.
Para Maria Inês Gonçalves, a conquista em Roterdão foi uma surpresa, revelando que não estava à espera. “É uma distinção importante e é bom para o início do percurso do filme, porque está a estrear agora, mundialmente, e receber já este prémio é um bom sinal”, conta. Em declarações a O SETUBALENSE, a realizadora sadina realça que a recepção no festival “foi muito positiva”, algo que a deixa “muito contente”.
Maria Inês Gonçalves não esqueceu todos os que trabalharam neste projecto, deixando um forte agradecimento às crianças e à equipa técnica. “Muita gente colaborou, muita gente está por detrás do projecto, em especial as crianças que são, digamos, o elenco principal do filme e a equipa técnica foi mesmo incansável”.
Ao nosso jornal a realizadora explicou que este projecto surgiu de uma vontade de trabalhar sobre a história de uma personagem que “não conhecemos muito na história popular de Portugal”, que é a Infanta Beatriz, filha do Rei D. Fernando I, que “aos 10 anos de idade é declamada Rainha de Portugal, porque o Rei D. Fernando faleceu inesperadamente e aclamou-se então a sua única filha, a Infanta Beatriz, como rainha”.
A jovem setubalense confessa que descobriu que para fazer um trabalho sobre esta personagem histórica ia ser “um grande desafio” porque “não existem informações nem fontes documentais” sobre esta personagem. “Foi um bocadinho apagada e era muito difícil fazer um filme histórico sobre ela. Então a minha proposta foi trabalhar com crianças da mesma idade e imaginar uma história que não foi escrita, digamos assim”, elucida.
A ideia e inspiração para esta curta-metragem partiu também do facto de Maria Inês Gonçalves perceber que as crianças estudam a crise dinástica de 1383-1385, que é quando falece o Rei D. Fernando sem deixar um herdeiro varão ao trono. “As crianças estudam este período da nossa história, este período emblemático, no quinto ano de escolaridade, que é quando têm 10 anos também. E a curiosidade e o interesse deles por esta personagem era evidente, portanto foi um bocadinho assim que tive a ideia e que quis trabalhar com crianças em torno a esta personagem histórica”, explica.
Obra ser vista pelo mundo é objectivo traçado
A realizadora salienta que gostava que o filme tivesse uma circulação vasta em vários festivais de cinema. “Espero poder mostrá-lo na Europa, fora da Europa, no máximo de lugares, e também gostava muito, isto é uma expectativa se calhar já para o próximo ano, para quando terminar o circuito de festivais, poder mostrar o filme em salas de cinema em Portugal e que o público em geral português pudesse ver”. Para a jovem, apesar de ter tido este reconhecimento internacional, este filme tem um “interesse particular” para Portugal.
Sem conseguir confirmar uma data específica, a realizadora revela que daqui a poucos meses talvez teremos a estreia em Portugal. “Ainda não consigo dar a confirmação, mas não deve faltar muito. E diria que talvez na altura do Verão fosse possível então organizar uma projecção mesmo na cidade de Setúbal”.
Nesta curta-metragem participa também uma actriz setubalense, Maria Helena Calado, que faz de Rainha D. Leonor Teles, mas também faz de si própria. Isto acontece porque o filme é uma “mistura entre as crianças serem elas mesmas e darem as suas opiniões e as suas fabulações” sobre a personagem histórica, mas também “porem-se no lugar dos reis de Portugal”.