Salão Nobre encheu-se para ouvir “Testemunho de duas vidas compartilhadas”. A apresentação da obra teve lugar na data de nascimento do antigo bispo e contou com Ramalho Eanes
O Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal registou lotação esgotada para a apresentação do livro “Testemunho de duas vidas compartilhadas”, de Eugénio Fonseca, na noite de segunda-feira, dia 20 de Janeiro, data de nascimento de D. Manuel Martins, com quem o professor privou “longe dos holofotes”. A obra conta episódios vividos com D. Manuel Martins, o primeiro bispo de Setúbal, ao longo dos mais de 40 anos de amizade e colaboração entre os dois. A abrir, e também a encerrar, a programação teve lugar um momento musical com Raquel Pernas e Fernando Pernas.
“Fiz este livro porque D. Manuel não o quis fazer. Fi-lo por amor filial a D. Manuel, meu extremoso pai espiritual. E, com a força com que me incentivou, ouso publicar neste livro uma parte da nossa vivência e a riqueza do seu património espiritual porque me sinto na obrigação de não reservar apenas para mim tão valioso legado espiritual”, revelou Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa e autor da obra, depois de ter modificado e dedicado a todos os presentes, ao vivo e no seu pensamento, o refrão de uma canção da cantora Mariza: “olho para vós e vem-me ao pensamento o refrão de uma bela canção da Mariza, que sinto que é verdade nesta noite. Oh, gente da minha terra, agora é que eu percebi, esta solidariedade que trago, foi de vós que a recebi”.
“Talvez este livro contribua também para um certo conhecimento dos primórdios da Diocese de Setúbal e até para a clarificação do tipo de relações que se estabeleceram no seu interior e para que os gritos por mais justiça suscitem que haja sempre quem esteja atento e empenhado em escutar e saber agir em conformidade com a dinâmica de uma intervenção cívica e corajosa”, adiantou, prometendo a D. Manuel Martins que “enquanto viver, a sua memória não será esquecida”e agradecendo a todos os presentes e intervenientes na obra apresentada.
Sala cheia para ouvir e partilhar momentos vividos com o primeiro bispo de Setúbal
Apresentado por Guilherme d’Oliveira Martins, na presença do General António Ramalho Eanes, antigo presidente da República Portuguesa e autor do prefácio da obra, de Maria das Dores Meira, presidente da Câmara Municipal de Setúbal, e do padre Constantino Alves, em representação do Bispo de Setúbal, D. José Ornelas Carvalho, o livro conta com a chancela da Paulinas Editora – representada na noite de segunda-feira pela Irmã Eliete, que elogiou o enorme espólio de recordações “que têm tanto de gratificante relembrar como de doloroso reviver”, frisou a “benéfica e carismática acção de incidência social” de Eugénio Fonseca e mostrou a sua satisfação por se juntarem, enquanto editora, a esta partilha de testemunhos.
Guilherme d’Oliveira Martins, por sua vez, aproveitou o momento para homenagear D. Manuel Martins e para agradecer a Eugénio Fonseca o facto de “trazer vivo o testemunho de D. Manuel Martins até hoje”. Nas suas palavras, “é indispensável que não esqueçamos a voz de D. Manuel Martins, a memória viva, bem presente, o exemplo fundamental do bispo desta diocese, do bispo de todos nós”. Sobre “Testemunho de duas vidas compartilhadas”, Guilherme d’Oliveira Martins, o responsável pela sua apresentação, referiu ainda que “em cada um dos capítulos da obra é possível encontrar exemplos tocantes, na maior parte das vezes inesperados, em que a simplicidade e a força de D. Manuel Martins está evidenciada, tendo a seu lado o exemplo do professor Eugénio Fonseca”.
Em representação do actual Bispo de Setúbal, D. José Ornelas Carvalho, o padre Constantino Alves partilhou na primeira pessoa histórias vividas com D. Manuel Martins e deixou, “no dia da celebração do seu aniversário de nascimento”, o agradecimento ao mesmo por ter sido “um pai, um irmão e um mestre” e “a voz de muitos que não tinham voz” e também a Eugénio Fonseca “pela paixão que o alimenta e partilha desta forma connosco” e porque “tem sido incansável em relembrar a vida, a mensagem e a obra do primeiro bispo de Setúbal”.
Recordar o homem que assim que chegou se fez imediatamente setubalense
Admiração e saudade foram as duas palavras inicialmente dedicadas pela presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, a D. Manuel Martins. “Admiração pelo homem que soube ser, e que soube estar onde devia estar, e saudade de um homem que apesar de não estar entre nós deixa gravada na nossa memória a sua obra”, explicou, acrescentando que esta obra, “que conta pormenores de uma longa e profícua relação de amizade no seio da igreja setubalense” mas não esgota as ocorrências da vida de Eugénio Fonseca, autor da mesma, é “mais um importante contributo para perpetuar a memória de um homem que, quando aqui chegou, a Setúbal, se fez imediatamente setubalense”.
No prefácio da obra, António Ramalho Eanes evoca a relação de Santa Madre Teresa de Calcutá com D. Manuel Martins e recorda o seu papel, “determinante”, quando, na península de Setúbal, “a crise económica e a falta de resposta do poder político atropelaram a verdadeira liberdade de muitos, esmagaram, com o desemprego e os salários em atraso, a sua dignidade, fragilizaram a própria solidariedade”.
Na noite de segunda-feira, também o primeiro Presidente da República eleito após o 25 de Abril, a encerrar o rol de intervenções, recordou D. Manuel Martins e a sua relação com a cidade do rio azul: “era sobretudo um homem que entendia a caridade tal e qual como ela deve ser entendida, como um transbordamento da compaixão que temos de nós para os outros”. O prefaciador da obra considerou ainda que nestes testemunhos agora presentes em livro “Eugénio Fonseca volta ao passado para nos mostrar um homem que foi um exemplo, e deve ser”. Nas palavras de Ramalho Eanes, Eugénio Fonseca, por seu turno, “merece o nosso reconhecimento e a nossa homenagem pelo seu trabalho em Setúbal, como discípulo de D. Manuel Martins, em prol da sociedade portuguesa, da justiça social”.