Cidade de teatro e de actores, Setúbal recebe estreias de espetáculos cénicos, workshops, oficinas e exposições para miúdos e graúdos durante todo o mês de Março, e até em Abril, no âmbito das Comemorações do Dia Mundial do Teatro
Por ocasião do Dia Mundial do Teatro, celebrado a 27 de Março, existe um conjunto de actividades a decorrer em Setúbal para o comemorar. O SETUBALENSE – DIÁRIO DA REGIÃO esteve à conversa com várias companhias da cidade, a fim de perceber o que é o teatro na vida de quem o sente e comemora todos os dias. “A Noite da Dona Luciana”, peça do Teatro do Eléctrico, é um dos destaques do vasto programa comemorativo juntando Custódia Gallego, José Leite, Márcia Cardoso, Rafael Gomes, Rita Cruz e Vítor Oliveira numa comédia que lança o espectador numa espiral entre a verdade e o delírio, a paixão e o humor negro, em estreia a 27 de Março, Dia Mundial do Teatro, pelas 21h30, no Fórum Municipal Luísa Todi.
Companhias setubalenses estreiam novas produções
No mês dedicado às artes cénicas, as companhias setubalenses não poderiam ficar de fora na apresentação de novas produções, como é o caso do Espelho Mágico – GATEM, Cooperativa Cultural, que estreou no Fórum Luísa Todi a peça “Dona Natureza”, um musical infantil que perfaz a 35ª produção da companhia. “Numa parceria inédita em Portugal com a Estremoz Editora produzimos um musical para toda a família”, conta Céu Campos, a O SETUBALENSE – DIÁRIO DA REGIÃO. “Estreamos sempre uma nova produção no mês do Teatro e este ano cumprimos mais uma vez essa tradição. É sempre importante trazer o foco para uma expressão artística tão nobre”, adianta, reforçando que “gostaria que esse foco se mantivesse durante todo o ano traduzido em melhores apoios”.
“Auto da Índia”, o “bem conhecido mas nem sempre reconhecido” clássico de Gil Vicente, também sobe ao palco nas Comemorações do Dia Mundial do Teatro, numa adaptação pelo Teatro Estúdio Fontenova. Com encenação de Filipe Crawford e cenografia de José Manuel Castanheira, Gertrudes Félix nos figurinos e Emídio Buchinho na sonoplastia, o espectáculo conta com interpretações de Carlos Pereira, Eduardo Dias, Henrique Gomes, Carina Sobrinho e Graça Ochoa. “Este é um texto que é comummente levado a cena. E se reflectirmos sobre o tema do Auto da Índia vemos que há muitas camadas que podemos retirar para os dias de hoje, como o tema das migrações”, refere Patrícia Paixão, responsável pela comunicação do TEF. As sessões realizam-se nos próximos dias 21, 22, 23 e 30, às 21h30, no Fórum Municipal Luísa Todi, enquanto a 22, 24 e 31 há exibições pelas 17h00. No dia 27, a companhia marca presença no Festival T, em Albufeira, com “Ah! Minha Dinamene”, a celebrar o Dia do Teatro além Setúbal, não esquecendo a sua cidade. “Não fazemos as coisas para que seja uma gargalhada fácil hoje e que nada trazemos amanhã. Não vemos o teatro nesse sentido”, começa Leonardo Silva, para José Maria Dias lembrar a intervenção social que o teatro tem que ter: “A função principal do teatro é no nosso entender a intervenção social, abrir o caminho e a visão para que as pessoas possam depois tomar as suas decisões. É também dizer coisas sérias e que fazem pensar com um sorriso no rosto”.
Por sua vez, Graziela Dias, para quem, a par da restante equipa da companhia, “teatro é vida”, considera que, apesar de muita gente dizer que Setúbal não tem público para teatro, a adesão aos seus espectáculos e o Festival Internacional de Teatro de Setúbal, “que de ano para ano tem sentido um crescer”, são a prova que falta neste sentido. “Sentimos que Setúbal tem verificado um crescimento cultural e as coisas vão fervilhando. Estamos num bom caminho”, acredita a actriz e directora de produção do TEF, que, a par de José Maria, deixa um apelo sobre a criação de uma nova sala de espectáculos na cidade. “O Teatro Fontenova foi criado porque era precisa uma fonte nova de teatro em Setúbal. Esta é uma reivindicação minha desde 1990. Hoje, todo o trabalho está a dar os seus frutos, estamos no caminho certo mas este dinamismo cultural e teatral na cidade precisa de ser acompanhado por uma outra sala de espectáculos”, considera José Maria Dias, director artístico do TEF. “Um auditório mais pequeno, mais intimista, em que os grupos de teatro, e até de outras áreas, tenham a oportunidade de apresentar os seus trabalhos. O Fórum Luísa Todi é uma excelente sala mas está sempre ocupada”, rematam.
“O teatro é uma mentira mas há nele toda uma verdade”
Também o Teatro do Elefante tem uma peça a estrear neste programa comemorativo. “O Tempo das Giestas” estará em cena na Sala José Afonso da Casa da Cultura no dia 22, às 21h30, numa sessão cuja participação é feita exclusivamente por convite. “A história passa-se no final dos anos 80 em Lisboa. Em 1988, quando o regime democrático era ainda relativamente jovem, há uma mulher, Teresa, que procura um homem, o Simão, por quem se apaixonou em 1936, cinquenta e dois anos antes, quando a ditadura também era ainda relativamente jovem. Há aqui um paralelismo de histórias, mentalidades e comportamentos”, conta Fernando Casaca. Nesta procura, a mulher tem a ajuda de um jovem activista político, o Marcos, acabando por descobrir que Simão foi preso e deportado para o Tarrafal. “É uma história de amor, de um amor que não foi possível em 1936 pela conjuntura política da época mas é possível em 1988, uma vez que o jovem que apoia Teresa na busca de Simão tem também uma namorada cuja família tem orientações políticas opostas às suas”, considera. “Há aqui portanto a defesa absoluta da liberdade, da democracia, e parece-nos muito actual esta temática”, adianta. A peça é uma adaptação de Fernando Casaca a partir da obra homónima de José Casanova e faz assim parte das comemorações do Dia Mundial do Teatro em Setúbal. “Para nós, o teatro é todos os dias. É algo que não deixamos de fazer, exige-nos vivências, emoções, e deve estimular a reflexão. O teatro é uma mentira mas há nele toda uma verdade”, afirma o director artístico do Teatro do Elefante.
No dia 27, Dia Mundial do Teatro, o TAS – Teatro Animação de Setúbal, estreia “Vamos comprar um poeta” pelas 18h00, na sua casa, o Teatro de Bolso. “Todos os anos, é normal estrearmos um espectáculo em Março, por ser o primeiro trimestre do ano e por ser o mês do Teatro”, começa por explicar Célia David, directora do TAS. “A peça é para todos mas apostamos especialmente no público juvenil, que não é muito contemplado nos espectáculos, uma vez que estes acabam por ser ou para crianças ou para adultos”, adianta. A peça, que retrata uma sociedade em que o materialismo controla os aspectos da vida, conta com os actores André Moniz, Duarte Victor, Miguel Assis, Sónia Martins e Susana Brito, texto de Afonso Cruz e adaptação e encenação de Célia David, com sessões a 28 e 29, às 21h30, e 30 e 31, às 16h00. A história da família cuja dinâmica familiar vai ser modificada pela adopção de um poeta em vez de um animal de estimação é contada “como se fosse uma banda desenhada, feita num livro”. Para Célia David, “nunca é demais haver pretextos para chamar a atenção e promover o Teatro. Este dia existe já desde 1961. Muita coisa foi feita mas muita coisa continua a ser necessária fazer. E é importante que as pessoas vão ver teatro”, adianta.
Projecto AMATEATRO apoia teatro amador do concelho
O projecto municipal AMATEATRO – Mostra de Teatro de Amadores de Setúbal pretende proporcionar a troca de experiências entre grupos de teatro de amadores do concelho, provenientes de escolas, colectividades e associações, contribuindo para a descentralização de espetáculos em vários espaços não convencionais. Dinamizado entre os dias 1 e 16 de Março, também no âmbito das Comemorações do Dia Mundial do Teatro, deste projecto faz também parte o “Consultório Poético” do TOMA – Teatro Oficina Multi Artes. “Temos tido bastante actividade nestes tempos e este projecto AMATEATRO permitiu levar o nosso trabalho a públicos e sítios novos, como foi o caso do CCDBA, em Brejos de Azeitão”, refere José Nobre, director artístico do TOMA, que apresenta também “A Guerra do Tabuleiro de Xadrez”, pertencente à programação para os mais novos, no Auditório da Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal nos dias 13 e 14. “Nos espectáculos que temos feito estamos a conseguir despertar as pessoas, que acabam por se interessar e querer juntar-se a nós e assim vamos crescendo. Estamos neste momento a preparar dois espectáculos para estrear este ano”, acrescenta. Sobre as comemorações, José Nobre refere ainda que “as pessoas precisam de ver teatro feito em Setúbal” e deixa o conselho e o convite porque “até a nível terapêutico o teatro ajuda bastante”.
No dia 14, pelas 10h30, é a vez de a Escola Básica e Secundária Ordem de Sant’Iago apresentar as peças “Tríptico”, “Poética II” e “A Assombrosa Banalidade de Ser”, na EB 2,3 de Azeitão. A 15, o Teatro Puzzle, da APPACDM de Setúbal, leva “Os Nativos” à Escola Básica e Secundária Ordem de Sant’Iago, às 15h00, e o grupo de teatro do Núcleo dos Amigos do Bairro Santos Nicolau apresenta “A Revista vem ao Bairro Santos Nicolau”, no Clube Recreativo da Palhavã, às 21h30. A iniciativa termina no sábado, pelas 21h30, no Grupo Desportivo Independente, com a revista “Portugal no seu melhor… Mas que geringonça”, pelo Grupo de Teatro da Sociedade Filarmónica Perpétua Azeitonense.
Comemorações não esquecem importância da formação
Tudo começa na formação e como tal no programa não podiam faltar formações em fotografia de cena, auto-maquilhagem para palco, luminotecnia e até cinema, com a iniciativa Teatro na Tela, a realizar no Espaço 50 Cuts. Para além disso, a “Formação a 5 Mãos” reúne na Casa da Cultura diferentes vertentes cénicas. Eduardo Dias trabalha a “Voz”, Olavo Nóbrega o “Corpo”, José Maria Dias a “Interpretação”, José Nobre a “Improvisação” e Célia David a “Escrita Criativa”. “A formação está sempre nos nossos planos, é parte do ADN do Fonte Nova”, refere José Maria Dias, do Teatro Estúdio Fonte Nova, que aposta desde sempre nas oficinas de teatro e nas acções de formação. O programa contempla ainda a residência artística “Improvisação e Composição Teatral”, com Nuno Nunes, a realizar entre os dias 1 e 6 de Abril, na Casa d’Avenida.