Esta quarta-feira, pelas 18 horas, Sandra Nicolau vai estar a aterrar em São Tomé. É a terceira vez que a setubalense vai estar neste arquipélago africano e sempre com a mesma motivação: ajudar quem mais precisa
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A vontade de ajudar que se traduz no trabalho voluntário não é recente. Há mais de dez anos que Sandra Nicolau é voluntária na Cerci, mas depois quis alargar fronteiras e fazer voluntariado internacional. E, por felizes coincidências, São Tomé e Príncipe “foi o sítio certo, na altura certa”, como nos conta.
Da primeira vez em 2023 viajou sozinha através de uma associação sem fins lucrativos que presta apoio escolar a crianças e jovens e ficou lá 4 semanas. Mas assim que regressou a Portugal, começou logo a planear a próxima viagem. Contactou de forma próxima com pessoas locais que vivem em sítios isolados e que os turistas não visitam. Observou e participou nas diversas iniciativas que a associação Kêlê desenvolve e depressa percebeu como as poderia ampliar. E as suas histórias sobre o que lá viveu contagiaram as pessoas à sua volta.
E, assim, em 2024 voltou a este destino tropical. Mas desta vez acompanhada por mais duas mulheres, uma delas médica. Além das doações de medicamentos, roupas, bens essenciais para bebés, centenas de pessoas que vivem longe dos pontos turísticos foram consultadas e medicadas pela primeira vez em muitos anos. E a Sandra levou pela à praia algumas crianças e jovens que raramente lá vão, só em alturas festivas como o Natal ou Ano Novo. Num país-postal com tantas praias de água azul e areia dourada, algumas crianças que vivem nas roças e em comunidades afastadas, nunca tinham ido à praia. Mais um regresso a casa e novamente a setubalense de 46 anos logo começou a planear a terceira viagem, que acontece daqui a dois dias.
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Este ano, juntam-se mais quatro mulheres que viajam com a Sandra. Todas com o mesmo objetivo: fazer mais por quem tem menos. E desta vez são mais de 280kg de donativos que levam na bagagem, são bens essenciais mas que escasseiam em São Tomé. Pastas e escovas de dentes, sabonetes, fraldas, roupas para bebés, peças de vestuários novas que foram costuradas para as crianças (no âmbito da ONG Dress a Girl), medicamentos, material escolar, tudo para entregar de forma responsável a diferentes entidades que desenvolvem um trabalho social no país do “leve leve”.
Ao longo dos últimos meses, a Sandra e outras pessoas à sua volta disponibilizaram o seu tempo em diferentes iniciavas para angariação de dinheiro. Costuraram árvores de Natal e venderam em mercados artesanais, fizeram parcerias com um alojamento rural, e muitos mais pequenos gestos que agora vão fazer uma grande diferença. O dinheiro angariado será para comprar manuais escolares e para reabilitar um quarto no lar de idosos em Guadalupe, no norte da ilha. Importa deixar ferramentas para construir um futuro melhor e com foco no desenvolvimento social.
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“Eu acredito nos sonhos deles”
Nos próximos dias, além de coordenar a reabilitação no lar, vai estar a distribuir refeições aos utentes desse lar, a mostrar a raparigas como transformar pequenos tecidos em acessórios que depois podem ser vendidos e a organizar consultas para quem mais precisa e não tem acesso.
“Ajudar os outros também nos faz bem, faz-nos parar para pensar e valorizar e perspetivar a nossa vida de forma diferente”, explica ao O Setubalense sobre o que a motiva a empenhar-se no voluntariado. Sobre São Tomé, diz que o mais importante desta experiência é o sentimento de recompensa emocional e o impacto positivo e duradouro que deixa nas comunidades.
Sobre o que mais marcou das duas vezes que lá esteve, hesita em responder. Mas depois acaba por dizer que foi ir ao lar de idosos – “eles vivem muito isolados, e agarravam-se a mim e queriam sempre dar-me abraços, e eu aceito esses afetos” e também o apoio educativo junto dos jovens. “Eu acredito nos sonhos deles, sejam sonhos ousados ou simples, todos têm direito a melhores oportunidades”, refere enquanto nos mostra algumas fotografias da última viagem.
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Questionada sobre porque regressa sempre a São Tomé, a resposta de Sandra é fácil e rápida: “Há muito para fazer, podemos ainda fazer tanto e o meu trabalho lá nunca está acabado, faço falta porque faço a diferença.” Naquele que é o segundo país mais pequeno de África, há uma outra realidade que não se publica nos programas turísticos.
A Lagoa Azul, a Praia das Sete Ondas, a Casa-Museu Almada Negreiros e a zona marginal da cidade-capital São Tomé são alguns dos locais que Sandra destaca naquele que é conhecido no país do chocolate. Mas foram as experiências, aquelas fora dos roteiros que mais a marcaram. Almoçar com as famílias nas suas tradicionais casas de madeira, deslocar-se de mota com os motoqueiros e tomar o “mata-bicho” (comer de manhã o que sobrou do jantar, como fazem as famílias desfavorecidas).
Ainda antes de chegar novamente a São Tomé, esta setubalense já está a pensar na próxima viagem. “Talvez daqui a seis meses e já há mais mulheres que se querem juntar e fazer a diferença naquele pequeno país insular”.