Com momentos de poesia dita, poesia cantada e poesia encenada, o recital começa pelas 22h00 do próximo sábado, na Casa da Cultura, na sala com o mesmo nome do homenageado
No âmbito dos 90 anos de Zeca Afonso, o TOMA – Teatro Oficina Multi Artes e a Câmara Municipal de Setúbal juntaram-se à Associação José Afonso de Setúbal e à ECOS Sons de Sentir para homenagear o músico português. Sob direcção de José Nobre, o espectáculo explora vertentes que por norma não surgem associadas ao nome Zeca Afonso: a poesia e as mulheres vistas por si.
“No seguimento da parceria que estabelecemos com o TOMA, o José Nobre esteve connosco a realizar algumas pesquisas, deu de caras com o livro ‘As Mulheres Cantadas por Zeca Afonso’ e foi a partir daí que surgiu a ideia de criar este espectáculo”, começa por explicar Ana Brito, da Associação José Afonso, a O SETUBALENSE – DIÁRIO DA REGIÃO. “O José Afonso é um génio e, para além da parte musical e de composição, que são fantásticas, tem a vertente da poesia – a profundidade da poesia, algumas metáforas, o sarcasmo, palavras dúbias – e a das mulheres vistas por si”, continua, acrescentando que “sabemos que o Zeca Afonso foi um activista muito grande mas há sempre esta parte das mulheres, do amor, que é um pouco esquecida e explorar este lado que nem todas as pessoas conhecem é muito interessante também. Para além disso, recitar José Afonso sem música tem um outro poder”.
No espectáculo “As Mulheres Cantadas por Zeca Afonso”, que acontece este sábado, pelas 22h00, na Sala José Afonso da Casa da Cultura, “há poesia dita ao encontro do silêncio, poesia sentida, entrelaçada entre notas musicais, poesia cantada pela voz de um anjo, poesia metralhada pela voz da revolta, e poesia encenada, com figurantes protagonistas do seu papel”.
Poeta de intervenção e poeta romântico
A ideia que serviu de ponto de partida para a criação deste espectáculo começou em Março do ano passado, altura em que habitualmente se comemoram a mulher, a poesia e o teatro.
“Zeca Afonso é aquele poeta e músico que todos veneramos e ter uma oportunidade de fazer um espectáculo que englobasse o teatro, a música e a poesia foi uma proposta e desafio muito aliciantes. Fizemo-lo apenas uma vez mas foi um sucesso. Encheu a Sala José Afonso e o salão nobre da Casa da Cultura, mesmo ao lado, ficou cheio também”, recorda José Nobre. “Entretanto não tivemos oportunidade de repetir mas ficámos com o espectáculo em carteira. Agora acrescentámos mais poemas e, aproveitando para homenagear os 90 anos do Zeca, decidimos em conjunto fazer a segunda representação de As Mulheres Cantadas por Zeca Afonso”, acrescenta, considerando que a apresentação feita assim “dá uma outra dimensão à obra de Zeca Afonso. Deixa de ser só um poeta de intervenção e passa a ser também um poeta romântico, mostrando mais essa sua faceta”.
Ana Dias, João Alegria, José Nobre, Luísa Santos, Lurdes Costa, Margarida Santana, Micaela Castanheira, Olinda Rosa, Rita Tamem, Sónia Dias, Sofia Camilo e Susana Caritas compõem o elenco, que conta ainda com Cláudia Lourenço como convidada especial. Nas palavras de Micaela Castanheira, que se juntou à família TOMA depois de ter participado num workshop de teatro com José Nobre, que lhe reconheceu de imediato “muito talento e uma voz de anjo”, a experiência tem sido muito positiva: “a poesia cantada e a poesia dita são muito diferentes e tem sido muito interessante explorar isso. É uma coisa que eu gosto muito de fazer também”.