Projecto assenta na liberdade para a criação artística, cruzamento de linguagens e participação da comunidade
Com várias residências artísticas realizadas a partir do Fórum Municipal Luísa Todi e de A Gráfica, o balanço do projecto Rota Clandestina é, até ao momento, “extremamente positivo e prestigiante”, ao levar “o nome da cidade de Setúbal para outros cantos da Europa”.
Para Pedro Pina, vereador da Cultura na Câmara Municipal de Setúbal, a iniciativa, que tem tornado o concelho sadino “num laboratório teatral”, tem também sido “satisfatória” de concretizar, ao trazer ao território à beira Sado “pessoas com qualidade artística e indiscutível condição no panorama cultural, não só nacional como também internacional”.
“Quando estes consagrados profissionais se disponibilizam e demonstram interesse em vir até Setúbal, isso enche-nos de orgulho e consideramos que é profundamente prestigiante”, confessou o autarca a O SETUBALENSE.
Uma das primeiras residências artísticas, recordou, consistiu “na criação do espectáculo de Pippo Delbono, que se chama “Amore”, e que acabou agora [dia 28 de Outubro] de estrear em Modena, Itália”.
“Quando falamos no Pippo Delbono, estamos a falar de um dos nomes incontornáveis do teatro contemporâneo europeu e, no panorama italiano, é um nome e uma referência”, assegurou.
Por este motivo, diz ser gratificante o facto de “a marca Cidade de Criação Artística e o nome de Setúbal ficarem para sempre associados a este espectáculo”, ao ter sido preparado nos últimos meses no Fórum Municipal Luísa Todi.
Também a residência artística de Victor Hugo Pontes, “referência incontornável da coreografia portuguesa”, foi destacada por Pedro Pina, ao ter, na sua visão, como “protagonistas pessoas da comunidade setubalense”.
“Parte desse trabalho já foi realizado com a comunidade, com um primeiro momento em A Gráfica”, contou. Esta é também uma das formas de “conquistar os públicos”, ao “sentirem-se envolvidos na construção dos projectos”.
“Essa é a razão pela qual, tendo também pessoas com a qualidade artística como aquelas que têm vindo até Setúbal, sentimos confiança e segurança para que este seja um projecto repleto de sucesso”, afirmou.
Em seguida, acrescentou: “São estas as razões que nos enchem de satisfação. Por sermos capazes de atrair nomes grandes das mais diferentes linguagens até Setúbal, aos nossos espaços de criação artística, envolvendo também a comunidade”.
Além disso, importa igualmente realçar “a formação de públicos, na busca de novas linguagens através do cruzamento”. “Acima de tudo, é um projecto assente numa palavra que parece presente, mas é tantas vezes esquecida: liberdade. Liberdade para a criação artística, para o cruzamento de linguagens e para a participação”, destacou.
Esse é, de acordo com o vereador da Cultura, “um factor de que a cultura é ainda hoje um reduto e uma salvaguarda para essa condição”.
Momentos muito procurados com sessões a esgotar rapidamente
Apesar de não se tratarem de “projectos de massa”, “todas as sessões realizadas foram rapidamente esgotadas” e todos os “momentos muito procurados”, garantiu Pedro Pina.
Têm marcado presença “não só estruturas locais e público interessado na matéria de Setúbal, como também de fora da cidade”. “Obviamente ter algumas destas pessoas também atrai, o que é algo que é interessante para criar dimensão crítica e pessoas interessadas no que é a criação e produção artística destes projectos”, justificou.
No total, a realização desta primeira fase da Rota Clandestina representou um investimento “que rondará os 15 mil euros”. No entanto, para o autarca, “a questão fundamental recai sobre a ligação ao território” e não “no investimento financeiro, que é residual”.
Para o fim do presente mês, está programada uma residência artística para preparação da nova peça “Litoral” pela Cia. Hiato, companhia de teatro brasileira. Entre 27 de Novembro e 1 de Dezembro, a iniciativa constitui um importante passo na produção do espectáculo, inspirado no processo de colonização do Brasil.
2022 Primeiro trimestre reserva criação artística do cineasta português Marco Martins
Para o primeiro trimestre do próximo ano está já prevista a concretização de uma criação do cineasta Marco Martins, “uma das pessoas de referência no que diz respeito à produção cinematográfica, não só para televisão, mas também para cinema”, explicou Pedro Pina.
“Em colaboração com o coreógrafo Bruno Leitão e Lia Rodrigues ou Marlene Freitas, que estão ainda como possibilidades, este é também um projecto que nos entusiasma por ser uma figura incontornável da Rota Clandestina”, salientou.
Enquanto isso, terá igualmente continuação a residência de Victor Hugo Pontes, “que tomará a forma de um espectáculo final, face ao trabalho já anteriormente desenvolvido em A Gráfica, que tem como base o uso do corpo na sociedade contemporânea”.