A voz que impera no silêncio

 A voz que impera no silêncio

 A voz que impera no silêncio

“Vejo o meu papel como uma missão de vida”

“Eu não escolhi ser intérprete, eu nasci e desde sempre me lembro de o ser”, Alexandra Ramos cresceu num mundo onde os gestos, os olhares e as expressões tornaram-se a forma mais natural de comunicação, “a minha língua materna é a Língua Gestual Portuguesa”. Criada num seio familiar onde o silêncio se exprime e o corpo é a voz, “os meus pais são ambos surdos e por isso desde sempre que vivo no meio da comunidade surda”. Os primeiros anos da sua vida foram passados junto da sua mãe, mas aos três anos de idade, “tive o meu primeiro contacto com a sociedade ouvinte e foi horrível, não estava habituada ao barulho”, recorda com emoção. A intérprete, desde muito cedo, carrega consigo o peso de ser o elo essencial que transporta a palavra do mundo para a sua família, “os pais muitas vezes levam os filhos para ser os seus tradutores e isso destabiliza completamente uma criança porque esse não é o seu papel”. Apesar da sua infância e adolescência ter sido marcada muitas vezes por olhares de incompreensão, “nunca senti que tenha sofrido de bullying mas sentia um bocadinho aquela reação de coitadinhos, os pais não ouvem”. Alexandra Ramos nunca permitiu que essas palavras enfraquecessem a sua essência, “sempre aceitei ser filha de quem era e dizia com muito orgulho a toda a gente que a minha família era surda”, [sorri radiante]. Apesar de “o meu percurso como intérprete ter começado dentro das associações juntamente com o meu pai” trilhou o seu caminho de forma independente, acabando por trabalhar na Associação Portuguesa de Surdos e na Escola Artística António Arroios. “Eu tinha apenas a formação APS e quando surgem os primeiros licenciados na área, eu fiquei sem oportunidades profissionais e tive que ir tirar um curso”, é assim que a vida da diplomada se cruza com a Escola Superior de Educação. Em 2001, começa o seu percurso na licenciatura em Tradução e Interpretação de Língua Gestual Portuguesa, um caminho em que navegava num mar conhecido, mas com correntes que a desafiaram, “sentia-me incompreendida, não estava satisfeita porque queria sempre saber mais e mais”. Em 2003, enquanto ainda estudava, tornou-se a “menina da SIC”, a casa onde trabalha há mais de 20 anos. A oportunidade de trabalhar em televisão surgiu porque “a Entidade Reguladora da Comunicação Social exigiu às televisões privadas duas horas e meia de língua gestual no daytime, eu mandei o meu currículo e fui a escolhida”. Alexandra Ramos compreendeu que a sua profissão é um compromisso com a mensagem e a inclusão, tornando-se essencial para conectar mundos e transformar realidades, “vejo o meu papel com uma missão de vida”.

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