23 Abril 2024, Terça-feira
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A Arrábida como destino atrai cada vez mais turistas estrangeiros

Cenário de lazer em comunhão com a natureza, a Arrábida é encarada cada vez mais como um destino per si, onde a gastronomia, o turismo de natureza e a aventura são apostas fortes. A comunicação em rede é a chave para o posicionamento internacional, defende o director-geral do Hotel Casa Palmela

 

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«Alta Serra deserta, donde vejo/As águas do Oceano duma banda/E doutra já salgadas as do Tejo». Estes versos foram escritos por Frei Agostinho da Cruz no seu período de clausura no convento da Arrábida, algures depois de 1605, quando o poeta e frade arrábido decidiu isolar-se numa ermida com o intuito de se aproximar de Deus e dar asas à poesia.

Sebastião da Gama e Alexandre Herculano também se deixaram encantar pela “Serra-Mãe”. A Arrábida sempre foi motivo de inspiração para os homens, e continua a sê-lo, despertando emoções com as suas paisagens arrebatadoras.

A origem exacta do topónimo é desconhecida, mas acredita-se que esteja associado ao castelhano “rábida” através do árabe “al-ribat” e “arrábita”, tendo como significado “local de oração”.

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Serra extensa, estende-se por 35 quilómetros e é tida como um dos mais belos exemplares da vegetação mediterrânica em Portugal, repleta que está de azinheiras, sobreiros e carvalhos que dão abrigo a lebres, raposas e morcegos.

Protegida como Parque Natural, a serra precipita-se no azul profundo do Parque Marinho Professor Luiz Saldanha, integrado na Rede Natural 2000 e que é habitat de mais de mil espécies de fauna e flora marinha.

A internacionalização da Arrábida não é um fenómeno recente, podendo-se lembrar, por exemplo, a estada de Jackie Kennedy no Palácio da Comenda, refúgio bucólico encaixado no sopé da serra, nos anos 1960.

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No final da década, estreou nos cinemas o filme “007 – Ao Serviço de Sua Majestade”, no qual James Bond segue de carro pela estrada serpenteante do topo da serra com a mulher, Tracy, a caminho da lua-de-mel.

Escolhida para cenário de anúncios, telenovelas, filmes publicitários e recomendada em guias de viagem internacionais – sobretudo pelas suas praias paradisíacas -, em 2017 a Arrábida viu a praia de Galapinhos ser eleita por votação online a “Praia Mais Bonita da Europa”, o que a projectou ainda mais a nível mundial.

Salvador Holstein gere as operações do único hotel de categoria cinco estrelas no concelho de Setúbal e partilha com O SETUBALENSE que o esforço de comunicação internacional está cada vez mais focado no destino, e não na unidade hoteleira.

“Cada vez que chegávamos ao estrangeiro para promover o Casa Palmela as pessoas perguntavam-nos onde estava a Comporta ou a que distância estávamos de Évora. Ninguém conhecia o destino Arrábida. A determinado momento percebemos que não fazia sentido comunicar apenas o hotel, mas sim o destino”, diz.

Trabalhar o destino em rede com entidades e empresas parceiras tem sido o ponto-chave do processo.

“Fizemos parcerias com empresas e pessoas que perceberam a necessidade de promoção do destino, para crescermos em uníssono. Uns ao nível de luxo, outros ao nível das experiências locais, conseguimos juntar-nos e focar-nos numa comunicação internacional capaz de trazer pessoas para a Arrábida”, explica o director-geral do Hotel Casa Palmela, situado na Quinta do Esteval, entre a Serra da Arrábida e a Serra de São Luís, na estrada nacional a caminho de Azeitão.

Em termos de hóspedes, os norte-americanos têm sido os que mais chegam em busca dos encantos da serra e da cidade, vencidos que foram os constrangimentos às viagens causados pela pandemia de covid-19.

Apreciadores de destinos com história – e a do Hotel Casa Palmela encerra 400 anos de história, em particular –, os turistas americanos “compram pacotes a operadores turísticos” em vez de fazerem uma reserva directamente com o hotel “porque confiam muito nas agências de viagem”.

Os canadianos também têm interesse na região. Por contraste, os turistas europeus “vão atrás da aventura, pesquisam e reservam directamente”, explica Salvador Holstein. Os mercados francês e espanhol, por seu turno, “mantêm-se muito fiéis ao destino” Arrábida, e os mercados holandês e belga, mais aventureiros, têm “surpreendido” a equipa do hotel.

Bastante presentes, os portugueses parecem ter (re)descoberto a Arrábida com maior atenção durante a pandemia. “Descobriram a Arrábida como um sítio seguro, com espaço, e no caso do nosso hotel, seguro por ter poucos quartos [21 no total]”. Aos poucos a Arrábida, e por extensão a região de Setúbal, começa a ser olhada não como zona de passagem, mas como destino onde vale a pena pernoitar e visitar.

As gravações do genérico da telenovela da SIC “Flor Sem Tempo”, em exibição, dentro da Quinta do Esteval, em Azeitão e na estrada de Galapos têm contribuído, também, para a procura da região como destino para os nacionais, ainda que essa seja uma montra televisiva efémera.

No que toca à promoção interna, Salvador Holstein elogia o trabalho que tem sido desenvolvido pelos responsáveis pela Casa da Baía, gerida pela Câmara Municipal de Setúbal.

“Têm feito um trabalho excelente de divulgação, dando a provar o que a região tem de melhor. Não querem ser Lisboa nem o Alentejo e são muito orgulhosos do território”. O posicionamento internacional da região é conseguido, também, por via da relação com os meios de comunicação especializados em turismo e lazer.

“O produto Arrábida é muito focado em sustentabilidade, natureza, aventura e gastronomia e com o foco nesses pontos temos conseguido atrair meios de comunicação de lazer e revistas de nicho como a National Geographic, a Cosmopolitan, a Decanter, a Forbes, a Elle belga ou a Condé Nast”, conta o responsável. Mostrar o hotel e a região como um todo aos agentes de viagens é outra das vertentes da estratégia.

“Temos hóspedes que nos chegam com a revista debaixo dos braços”, garante.

André Rosa
Jornalista
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