20 Abril 2024, Sábado
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O nosso Alexandre

É difícil conter a emoção quando o destino nos força a despedir-nos permanentemente de alguém que adoramos. Apesar de todos sabermos que a morte é inevitável, a intensidade da dor torna-a sempre insuportável.

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Há poucos meses recebi uma mensagem desconcertante a informar que um jovem, que outrora foi meu aluno na Escola Profissional Cristóvão Colombo, tinha sofrido um acidente de mota, o qual infelizmente provou ser letal.

Refugiei-me durante horas num sofá e, por entre inúmeras lágrimas, consegui esporadicamente encerrar os olhos e visualizar o seu sorriso rasgado e reviver o seu sentido de humor ímpar.

Num momento reflexivo de profunda tristeza percepcionei que, embora a docente fosse eu, estava imensamente grata por tudo aquilo que tinha aprendido com o Alexandre Barradas, sobretudo no capítulo da generosidade. Mesmo quando pouco tinha, jamais hesitava em partilhar o que quer que fosse.

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A sua paixão por motas era quase tangível. Conta-me um dos seus melhores amigos, o Luís, (também meu ex-aluno), que muito antes de ter mota, o Alexandre já tinha comprado um casaco de motard, o qual usou até ao seu último dia de vida. No velório dei por mim a observar o seu ar tranquilizadoramente sereno.

Embora eu estivesse ciente que há que ter a capacidade de aceitar tudo aquilo que não se pode mudar, não consegui fazê-lo. Recebi conforto de inúmeras caras conhecidas, bem como de desconhecidas. Naquele momento, dentro da dor de cada um, houve espaço para cuidar da dor do outro.

Vi a coragem de uma mãe desfeita, que logrou agradecer o amor que todos demonstraram pelo seu jovem filho, acarinhando cada um de nós. Ficou claro de onde vinha tamanha generosidade do Alexandre. Também me cruzei com outros elementos da família, cujo sofrimento era desmesurado.

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Vi uma imensidão de jovens amigos serem consumidos pela mágoa, revolta e angústia da perda. Ouvi inúmeras vezes como todos tentaram demovê-lo de regressar a casa de mota, uma vez que tinha bebido. Infelizmente o Alexandre tinha tanto de generoso como de teimoso, e acreditando inocentemente na sua imortalidade, recusou-se a ouvir quem quer que fosse.

O resultado foi que, desafortunadamente, arruinou a possibilidade de experienciar inúmeras vivências futuras.

No entanto, o que o Alexandre nunca chegou a saber, é que desmoronou também, de forma irreparável, cada um de nós, que o adorávamos. Espero conseguir continuar a manter sempre a capacidade de fechar os olhos e ver o seu sorriso rasgado.

Em memória de Alexandre Barradas (1992-2022) e de todos aqueles que continuam a acreditar inocentemente na própria sua imortalidade.

*Professora na Escola Profissional Cristóvão Colombo

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