19 Abril 2024, Sexta-feira
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Empreendedora montijense aproveita ataque do vírus para concretizar sonho

Célia Aranha acaba de lançar projecto com base em oportunidade proporcionada pela doença que quase lhe ceifou a vida

 

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Foi um dos primeiros casos de covid-19 identificados no Distrito de Setúbal. Tinha regressado com o marido de uma viagem ao Cairo, com escala em Madrid. E os sintomas levaram-na a fazer um teste de despistagem ao vírus no hospital do Montijo.

Foi a 13 de Março de 2020. Por duas vezes disseram-lhe que o resultado era negativo. Estavam errados. Cinco dias volvidos, e já em extrema debilidade, atendeu o telefone. Agora do hospital do Barreiro confirmavam-lhe o pior: afinal o teste estava positivo.

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O vírus só a “libertou” de um calvário de cerca de duas semanas de internamento na unidade hospitalar barreirense no “dia das mentiras”. Mas a verdade viria a ser paradoxal: o “bicho” que um ano antes quase lhe ceifou a vida foi o mesmo que acabou por abrir-lhe uma janela de oportunidade.

“Hoje sinto-me uma sobrevivente que realizou um sonho”, confessa a montijense Célia Aranha, 53 anos, que acabou de inaugurar o espaço Mar & Cel L’ Atelier, do Grupo Aranha & Silva, em pleno “coração” da cidade, no 33 da Avenida D. Afonso Henriques, junto ao parque municipal.

“Naquela altura havia poucas oportunidades de voltar a ser novamente criativa, de viver daquilo que gostava de fazer. Já sofria de problemas ósseos que a covid-19 agravou muito e fiquei com mazelas. Achava que já não havia nada que pudesse fazer”, conta.

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“Dediquei-me então à confecção de máscaras de protecção em tecido, cujas receitas das vendas decidi doar a acções de solidariedade, sobretudo, às de cariz alimentar”, lembra.

“Quando dei por mim, passado pouco tempo, já andava a exportar máscaras para França e Inglaterra. Depois comecei a fazer malas… Foi o pontapé de saída para este novo projecto de empreendedorismo, Mar & Cel L’ Atelier”, explica.

O artesanato, garante, foi “a melhor terapia” para reagir às sequelas herdadas do vírus. “Foi na sequência desse trabalho, e também por sentir que faltava no Montijo um projecto deste tipo, que acabei por recriar algo que gostaria de ter encontrado enquanto consumidora. Podemos dizer que foi a doença que acabou por me proporcionar a oportunidade”, reconhece Célia, que acumula a função de gerente no Grupo Aranha & Silva e também no Mar & Cel L’ Atelier.

A essência do projecto

E sobre o novo projecto realça o conceito, que considera diferente do habitual. “Trata-se de um espaço de venda de tecidos a retalho, para confecção, costura criativa, decoração de interiores, enxovais de criança. Foi pensado para quem não tem como fazer ou não sabe, mas que gostaria de fazer. Aqui podem traçar o molde comigo ou até fazê-lo”, revela.

E adianta: “Temos uma área equipada com máquina de costura, que permite ao próprio cliente confeccionar os artigos que queira, mediante a compra do nosso material.”

O projecto não se resume, no entanto, a essa actividade. Permite também realizar “workshops”, criar “moldes em gesso, sabonetes, velas” e apresenta uma área de “perfumaria de têxtis e ambiente”, além de uma panóplia de serviços de impressão no domínio das artes gráficas.

“Recentemente fizemos uma impressão para decorar uma casa nocturna, que abriu agora portas em Lisboa. Foi o nosso trabalho de estreia e ficou fantástico. Mas também fazemos impressão de lonas, impressões em vinil, para decoração de viaturas e montras, autocolantes, brindes, canetas…”, sublinha.

A este conjunto de valências junta-se ainda a “venda e reparação de máquinas de costura e de bordar”. Porém, “o coração do projecto”, aponta, “é a partilha”.

“O objectivo é que não seja apenas uma loja mas também um espaço de partilha de conhecimento”, frisa. E tudo nasceu dos metros e mais metros de tecidos, de todas as cores e feitios, que foi adquirindo para fazer máscaras como resposta ao sofrimento que a doença lhe infligiu.

O investimento, recorda, foi de monta e sem recurso a qualquer apoio estatal. “Foi a empresa mãe [Aranha & Silva] que ajudou o projecto Mar & Cel, que já existia no grupo apenas para comércio de material para a área da construção civil”, faz notar, ao mesmo tempo que admite não ter sentido hesitação na hora de avançar, mesmo num contexto de retracção económica provocado pela pandemia.

“Tenho receio é de tudo o que não faço, de todas as oportunidades que não aproveito”, comenta. Ainda assim, deixa escapar: “Receio tenho é do dinamismo comercial do Montijo, que a meu ver deixa muito a desejar. Mas estamos prestes a lançar uma componente digital, um site para promover vendas em Portugal e no estrangeiro. Estará operacional em Outubro”.

De resto, levar o nome do Montijo além-fronteiras é um desejo. Aguçado por um recente episódio. “Recebemos duas turistas italianas que estavam hospedadas no hotel em frente, que ficaram maravilhadas e levaram artigos para confeccionar”, relata a empreendedora, que faz questão de apostar na “excelência dos produtos nacionais”, com o fito no binómio “qualidade/preço”.

E a próxima meta está definida. “Quero criar a minha marca. A marca da Célia pós-pandemia, que renasceu numa altura em que parecia que estava tudo perdido”, conclui.

Confiante “O bicho já não me assusta”

Depois de uma jornada difícil, de superação, Célia Aranha vê hoje a pandemia com outros olhos. “O ‘bicho’ já não me assusta. Tenho respeito. Mas acredito que o pior já passou”, afirma.

E justifica: “Respeito todos os pontos de vista, mas a inteligência que revelámos na adesão à vacinação penso que foi um passo que demos em frente para podermos estar um pouco mais despreocupados.”

O maior receio é outro. “Assusta-me é não termos produto português. Queremos fechos de correr ou cursores para fechos nacionais e não há, por exemplo. Devíamos ter mais produção nacional e consumirmos essa mesma produção”, atira, a finalizar.

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