20 Abril 2024, Sábado
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A caminho de uma década a ensinar conhecimentos com séculos de história

O tenente-coronel prepara-se para mais um ano lectivo na Universidade Sénior do Montijo. O estilo cativa

 

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Aos 73 anos, prepara-se para iniciar mais uma caminhada que lhe permitirá completar uma década a leccionar na Universidade Sénior do Montijo. “Heráldica”, “Calendários e Relógios” e “Números são Números” são as três disciplinas ministradas pelo tenente-coronel Pedroso da Silva.

Alicerçado num conhecimento profundo sobre estas e inúmeras outras matérias – qual enciclopédia aberta –, o professor cativa e, talvez também por isso, tem vindo a despertar o interesse em cerca de 45 alunos, quase 15 por cada disciplina.

“Este ano com as restrições, face à pandemia, estou convencido de que serão menos”, diz, quando se prepara para o arranque do novo ano lectivo, que na sua agenda tem assinalado o próximo dia 6. “Com uma aula de números, pela manhã, e uma outra de calendários, à tarde.”

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E quando a matéria passa por algarismos, deixa de imediato um alerta: “As pessoas têm uma certa aversão à Matemática, muito em função de os professores não cativarem os alunos.” Um exemplo surge logo depois e até tem barbas. “Na minha infância, os professores proibiam os alunos de contar pelos dedos, quando os dedos até são o primeiro instrumento de contagem”, atira. Ao mesmo tempo, desconstrói a ideia antiga e mostra como pode motivar quem o ouve dissertar sobre… a disciplina de números.
“Há povos que contam apenas pelos dedos de uma mão, como o povo macua, do norte de Moçambique. Utilizam um sistema de base 5”, faz notar. E adianta: “Mas há outros que contam com um sistema de base 20. Neste caso, há uma reminiscência no povo balanta, na Guiné-Bissau, em que 40 se diz da mesma forma que se diz ‘duas pessoas’. Eles contam pelos dedos das mãos e dos pés, logo um homem vale 20 e dois homens é igual a 40.”

Ao longo do ano, nesta disciplina os alunos de Pedroso da Silva vão, porém, aprender muito mais. No programa do professor figuram “operações matemáticas” e “lógica matemática”. Haverá ainda “análise combinatória, que, embora seja um tema dado nos últimos anos do secundário ou nos primeiros anos de universidade, não exige grandes conhecimentos prévios”. Sobre esta última matéria, aponta uma forma de abordagem em contexto de aula, que aguça a curiosidade. “Tenho dois anéis. De quantas formas os posso distribuir pelos cinco dedos da mão esquerda?” A questão fica no ar, para se passar à disciplina de calendários.

O acerto de 10 dias do Papa

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“O homem primitivo começou a verificar que havia épocas de frio e de calor, épocas para semear e para colher, que havia o dia e a noite e com as necessidades de medir o tempo verificou que estas não podiam ser arbitrárias. Fê-las corresponder ao movimento dos astros. Assim surgiram os conceitos de dia, mês, ano…”, começa por lembrar. Vários povos, sublinha, “organizaram-se segundo determinadas eras e determinados calendários”.

“Nós utilizamos o calendário gregoriano, a que todo o mundo aderiu para efeitos administrativos. Para questões religiosas ainda usam outros, como o calendário muçulmano…”, explica, para de seguida lançar mão de um episódio. Uma lição de História, mas calendarizada. “Curioso é o facto de o calendário gregoriano provir de um acerto feito pelo Papa Gregório XIII, que do dia 4 de Outubro de 1582 fez com que se passasse para dia 15. A seguir a 4 veio o dia 15. Isso fez com que nem todos os países tivessem aderido à reforma”, conta.

E essa adesão, prossegue, “demorou até ao Século XX (1923, em rigor), para países não subordinados ao poder do Papa”. Acompanhada, de resto, por uma questão: “Com que direito Sua Santidade nos está a roubar 10 dias que não vivemos e que queremos viver?”

O ‘mito’ dos escudos heráldicos

Já a Heráldica “transmite o conhecimento sobre a identificação, nos combates da Idade Média, que era feita por pinturas nos escudos, arma de defesa por excelência, e que permanece até aos nossos dias como linguagem muito vigorosa”.

Aos alunos, Pedroso da Silva desmistifica sempre “o preconceito de que os escudos heráldicos são apenas para certas elites da sociedade”. Qualquer pessoa, garante, “pode ter o seu emblema heráldico, desde que não seja igual a outros já existentes”. Nesta disciplina, “cada aluno vai apresentar um projecto do seu próprio emblema pessoal”, que “não terá obrigatoriamente expressão heráldica”. Poderá ser “um monograma ou um desenho alegórico”, antecipa o professor.

Além da Universidade Sénior do Montijo, Pedroso da Silva prepara-se também para chegar a mais alunos, já que foi convidado a leccionar as disciplinas de Heráldica e Calendários nas academias seniores do Alto Estanqueiro e de Pegões. Uma caminhada nova a engrandecer a entrada para a conclusão de uma década, que começa já na próxima semana.

Da caligrafia chinesa à conchinha do emblema da universidade

O professor não se fica pelas três disciplinas que assegura. Tem realizado também várias aulas abertas na Universidade Sénior do Montijo.

A fisiografia e caligrafia chinesas foram matérias explanadas por Pedroso da Silva, que se confessa “um apaixonado” pela cultura oriental.

“Mas também já falei de Malacologia, ciência que estuda os moluscos”, revela, antes de contar outro episódio curioso.

“Há uma conchinha que inspirou o emblema da Universidade Sénior do Montijo. Este elemento identitário foi concretizado com a participação dos alunos nas aulas da disciplina de Heráldica no ano lectivo de 2016-2017.” Essa conchinha “era utilizada pelos pescadores como lucerna”. Como a universidade se destina “a abrir a luz do espírito”, então professor e alunos recorreram “à lucerna primitiva que, por um lado, indica a ligação ao meio aquático e, por outro, a capacidade de improviso dos pescadores que, sem recursos económicos para ter as verdadeiras lucernas romanas, recorriam a esse método expedito”, desvenda, aa concluir.

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