Antigo Presidente da República e ex-primeiro-ministro morreu sábado no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde estava internado há 26 dias, desde 13 de Dezembro.
Nascido a 7 de Dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares, advogado, combateu a ditadura do Estado Novo e foi fundador e primeiro líder do PS.
Reacções de autarquias e personalidades da região destacam, sobretudo, o contributo para a construção da Democracia em Portugal
Câmara de Setúbal cancela eventos lúdicos durante luto nacional
A Câmara de Setúbal, “em sinal de respeito” e para “homenagear a personalidade do cidadão, politico e intelectual Mário Soares”, decidiu cancelar “todos os eventos públicos lúdicos promovidos pela autarquia” até ao final do luto nacional, na quarta-feira.
Em nota enviada ao DIÁRIO DA REGIÃO, o município comunista destaca Mário Soares como “antifascista convicto”, uma “personalidade de grande relevância na democracia portuguesa” e “um dos construtores do Portugal democrático”.
Câmara de Almada enaltece o político e suspende actividades municipais
A Câmara de Almada manifestou ontem, 8, o pesar pelo desaparecimento de Mário Soares, depois de, na véspera, ter logo anunciado a suspensão das actividades municipais programadas.
“No momento do desaparecimento físico de tão relevante personalidade da vida política nacional, a Câmara Municipal de Almada associa-se às cerimónias em sua homenagem e ao luto nacional decretado pelo Governo”, disse a autarquia em nota de Imprensa enviada ontem ao DIÁRIO DA REGIÃO, lembrando ainda o trajecto de Mário Soares: “Resistente e lutador contra a ditadura fascista, fundador do Partido Socialista tendo sido seu secretário-geral, ocupou após o fim da ditadura os mais altos cargos do Estado, como ministro em Governos Provisórios, deputado eleito, primeiro-ministro de Governos Constitucionais e Presidente da República, sendo actualmente membro do Conselho de Estado.”
Na véspera, a Câmara de Almada já se havia anunciado “solidária com o luto nacional decretado pelo Governo de Portugal”, tendo decidido “suspender todas as iniciativas de carácter municipal” que estavam agendadas para anteontem e ontem, designadamente o programa Vamos Cantar as Janeiras e o Concerto de Ano Novo.
Ana Catarina Mendes recorda “figura ímpar e inesquecível”
A deputada eleita por Setúbal e secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, recordou emocionada a memória de Mário Soares, uma “figura ímpar e inesquecível” e um “combatente pela conquista da Liberdade e pela consolidação da Democracia”.
De voz embargada, a socialista falou na sede do partido, no Largo do Rato, em Lisboa, e leu a mensagem que o PS havia divulgado horas antes, quando se soube da morte do antigo Presidente da República e fundador do PS.
“Soares é fixe. Até sempre, Mário Soares”, fechou Ana Catarina Mendes, depois de advogar que Portugal “perdeu hoje o pai da Liberdade e da Democracia, a personalidade e o rosto que os portugueses mais identificam com o regime nascido a 25 de Abril de 1974”.
Com o desaparecimento de Mário Soares, o PS salienta, numa declaração publicada na sua página oficial, lida depois pela sua secretária-geral adjunta, que “acaba de sofrer a maior das perdas imagináveis, a sua maior referência, o fundador e militante número 1, figura maior e indelével do socialismo democrático português e europeu”.
Vítor Ramalho compara Mário Soares a D. João II
Vítor Ramalho, antigo dirigente distrital do e um dos amigos mais próximos de Mário Soares, considerou que Portugal perdeu o homem que abriu o país a novos horizontes de democracia e afirmação no mundo.
“Morreu um homem com H grande. Se é certo que D. João II corporizou a ousadia de uma forma corajosa, aquilo que foram os Descobrimentos de Portugal, que deram novos mundos ao mundo e abriram a globalização, Mário Soares foi o homem que encerrou esse ciclo, mas abrindo o país a novos horizontes de democracia, de tolerância e de afirmação de Portugal no mundo”, disse Vítor Ramalho à agência Lusa.
Amigo há décadas de Mário Soares, com quem partilhou “assuntos pessoais e questões políticas”, Vítor Ramalho contou que recebeu a notícia da morte do antigo Presidente da República com “profunda consternação e dor”, apesar de já estar à espera deste desfecho.
“Ele era uma enciclopédia ambulante do ponto de vista da cultura, mas era um homem também prático, directo, frontal, tolerante, um homem que combatendo antes do 25 de abril a ditadura, fê-lo nos mesmos termos e com a mesma coragem depois do 25 de abril. Não há outra personalidade portuguesa que se tenha projectado no mundo como ele. Ele foi o Homem, de facto. Ele foi o mais velho de todos nós”, sublinhou Vítor Ramalho.
Paulo Futre revela que Soares salvou-lhe a carreira
O antigo futebolista Paulo Futre afirmou que o antigo Presidente da República Mário Soares lhe salvou a carreira, concedendo-lhe o estatuto de alta competição e adiando o cumprimento do serviço militar.
“Como político, pode-se ou não gostar de Mário Soares e concordar ou não com o que fez. A nível pessoal, para mim, foi muito importante. Foi ele quem salvou a minha carreira”, refere Paulo Futre num texto publicado na sua página na rede social Facebook.
Futre conta que no verão de 1987, quando, aos 21 anos, se transferiu do FC Porto para o Atlético de Madrid, foi chamado para cumprir 16 meses de serviço militar obrigatório, o que o impediria de jogar durante esse período e que foi Mário Soares, à data Presidente da República, que resolveu a questão.
Segundo Futre, num telefonema, Mário Soares disse-lhe: “Para mim, como Presidente da Republica portuguesa, é uma honra anunciar-te que és o primeiro português a ter estatuto de atleta de alta competição. Como resultado, vais ter um adiamento de oito anos do serviço militar. Mas tens de prometer-me uma coisa: tens de triunfar por Portugal”.
“Foi ele que me permitiu poder tornar-me no primeiro jogador português a brilhar fora de portas e a elevar o nome da nossa nação pelo mundo fora. Fui o primeiro a beneficiar do novo estatuto, mas depois de mim todos beneficiaram: Figo, Rui Costa, Cristiano Ronaldo” refere Paulo Futre.
O antigo futebolista, que em Portugal representou os ‘três grandes’, garante que depois deste gesto de Mário Soares passou a ter um ritual: “Cinco minutos antes de entrar em campo: rezava por mim, por Portugal e pelo senhor Mário Soares”.