Hoje irei procurar meditar sobre a evolução da classe docente ao longo dos sucessivos anos, principalmente a seguir ao 25 de Abril.
Comecemos com a evolução do nome do Ministério da Educação.
Ministério da Educação Nacional (Estado Novo) ® Ministério da Educação e Cultura (MEC)® Ministério da Educação e Investigação Científica (MEIC) ® MEC ® MEIC ® Ministério da Educação (ME) ® Ministério da Educação e Ciência (MECi) ® Ministério da Educação e das Universidades ® ME ® MEC ® ME ® MECi ® ME.
Ou seja, em 45 anos ocorreram 12 alterações. Se não nos entendemos com algo tão simples como o nome do ministério, como chegaremos a acordo com as políticas educativas?
Seguem-se os ministros; desde Eduardo Correia a Tiago Brandão Rodrigues, tivemos 32 ministros da educação, o que perfaz uma média de um ministro por cada ano e meio, aproximadamente.
Todos convictos que as “suas” políticas educativas iriam fazer a diferença e, dessa forma, introduzindo constantemente nova legislação, que altera ou actualiza a anterior.
Numa sociedade civilizada, o professor deve ser sempre encarado como uma referência de autoridade, e um veículo primordial na transmissão de atitudes, valores e conhecimentos.
Contudo, as sucessivas políticas educativas têm subalternizado estas dimensões, dando especial relevância a outras, tais como a burocracia. Os professores vivem actualmente atolados de grelhas.
Na prática, um monte de documentos de utilidade muito duvidosa. E o tempo que se perde neste labirinto burocrático!
Depois somos confrontádos com os paradigmas educativos: a área-escola, o ensino tecnológico, o ensino profissional, os objectivos, a área de projecto, as competências, os conteúdos, os objectivos mínimos, a Cidadania e Desenvolvimento, a interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade, o perfil, a articulação, as aprendizagens essenciais, a inclusão, a flexibilidade curricular, a supervisão pedagógica.
O tempo para pensar a aula, as aprendizagens reais, o entusiasmo de alunos e professores, tudo isso foi relegado para segundo plano.
Os sucessivos governos têm vindo a desvalorizar a dimensão social a profissional dos professores, com particular relevância para Maria de Lurdes Rodrigues, que disse orgulhosamente, “perdi os professores, mas ganhei o país”, contribuindo para diminuir a já pouca dignidade que a classe docente usufruía, procurando transmitir o conceito malévolo e sub-reptício que trabalham pouco, só têm férias e ganham muito bem, sem perceber que sem professores acarinhados, pagos condignamente e respeitados, não há país.
Mais do que professores, funcionários, alunos e famílias, é todo um sistema escolar que está em causa, em que quem mais passa a mensagem de desautorização do professor é quem mais lhe devia respeito – a tutela.
A agressão a um qualquer professor passa a ser um acontecimento banal.
Quanto aos professores contratados, estamos a falar de profissionais com muitos anos de serviço, muitos ainda sem terem ainda atingido qualquer estabilidade profissional e ganhando uma miséria, o que constitui algo de verdadeiramente indigno.
Existem professores com 10,15, 20 ou mais anos de serviço, anos a fio com a casa às costas, longe das famílias, sem qualquer ajuda de custo, nem qualquer vínculo que lhes confira estabilidade e dignidade, afastando muitos docentes da profissão.
Actualmente, cerca de 2000 turmas não têm todos os professores, o que não surpreende nada, para quem anda nestes meandros. Nos Açores e no Algarve, a situação começa a ser já dramática.
Resultados? Ao fim de 45 anos de Democracia, onde a escolarização se disseminou, os jovens licenciados não querem ser professores.
Quanto aos alunos, lê-se quase nada, fala-se, escreve-se e calcula-se mal, interpreta-se pior, reflecte-se miseravelmente.
Um caldo de (in)cultura perigoso.
Quanto aos descongelamentos das carreiras e depois de tudo o que se tem visto acerca das injecções massivas de dinheiro na banca, da impunidade e dos perdões de dívidas monstruosas a alguns dos nossos gestores, empresários e banqueiros e com a corrupção endémica que assola o nosso país, dificilmente me convencem que não há dinheiro.
Pretendem que a situação permaneça e o nosso conformismo se mantenha.