Confesso que já andava com saudades de escrever sobre o nosso Vitória. Eu, quando falo do nosso clube, faço-o sempre por dois motivos; por tudo e por nada.
Vamos então recordar uma efeméride memorável, que vivenciei em directo, na bancada coberta, mesmo a meio do relvado.
Em 1972, para a Taça UEFA, o Vitória defrontou o todo-poderoso Inter de Milão, que já tinha sido Campeão Europeu em dois anos consecutivos (1963 e 1964), recheado de futebolistas de altíssima qualidade, tais como Bordon, Facchetti, Bini, Burgnich, Oriali, Mazzola e Boninsegna, que se tinham sagrado Vice-Campeões do Mundo, no Mundial do México, dois anos antes, em 1970.
Equipa temível, poderosa, um dos gigantes da Europa do futebol, claramente favorito na disputa a realizar-se a duas mãos.
Contudo, não levaram em linha de conta, que o Vitória Futebol Clube tinha acabado de eliminar, no mês e na eliminatória anterior, a também poderosa Fiorentina, com os resultados de 1-0 e 1-2, tal como tinha sucedido em 1969.
A primeira mão da eliminatória realizou-se em Setúbal, a 29 de Novembro de 1972, no Estádio do Bonfim, completamente repleto de um público entusiasta, que incentivou a equipa durante todo o desafio.
Alinharam pelo Vitoria, Joaquim Torres, Rebelo, Carlos Cardoso, José Mendes, Carriço, Conceição, Octávio, José Maria, José Torres, Duda, Arcanjo e Guerreiro. O treinador era José Maria Pedroto.
Alguns infelizmente já desaparecidos, tais como Pedroto, Joaquim Torres, Conceição, José Torres, Duda e Arcanjo, aproveitando esta ocasião, para lhes prestar aqui a minha sentida e comovida homenagem.
Esta era uma equipa de sonho, de luxo, de grande qualidade, tacticamente soberbos, praticando um futebol belo, apoiado, de excelente recorte técnico.
Desde o primeiro até ao derradeiro minuto, o Vitória carregou no acelerador, com trocas de bola constante, lançamentos frontais e laterais para as costas da defesa italiana.
O Inter de Milão esteve e manteve-se completamente atordoado, sem capacidade de reacção, sem fio de jogo, remetendo-se à defesa, com esporádicos e inconsequentes contra-ataques.
Logo aos 13 minutos, Duda inaugurou o marcador, mantendo o Vitória sempre a dinâmica ofensiva.
Durante a primeira e segunda parte, o perigo rondou sempre a baliza de Bordon.
Sandro Mazzola (filho do grande Valentino Mazzola, tragicamente desaparecido num acidente de aviação, que vitimou toda a equipa do Torino), vociferava, agitava-se, fazia gestos para incentivar os companheiros, sem qualquer efeito prático.
No declinar da partida, e na sequência de mais um movimento ofensivo rápido, Bini colocou a bola na própria baliza.
Foi um delírio. Cerca 30 mil pessoas em uníssono a gritarem “Vitória, Vitória”.
Quinze dias depois, em Milão, no Estádio de S. Siro, o Vitória perderia por 1-2 (vi na televisão), vencendo a eliminatória.
O Vitória Futebol Clube é um dos clubes mais prestigiados do futebol português. Vice-campeão nacional, vencedor de três Taças de Portugal, uma Taça da Liga, Supertaça Ibérica, Taça Teresa Herrera, Mini-Copa do Mundo, dois Troféus Ibéricos, três Taças Ribeiro dos Reis, entre outros, dezenas de participações em competições europeias, onde eliminou equipas tais como o Liverpool, Leeds United, Inter de Milão, Fiorentina, Spartak de Moscovo, Anderlecht, Lyon, Rapid Bucareste, Hajduk Split, entre muitas outras.
Foram onze anos consecutivos com presenças ininterruptas nas competições europeias, onde o Vitória Futebol Clube era conhecido, temido e respeitado por essa Europa fora.
Havemos de regressar ao lugar que é nosso por direito.
Fica aqui a evocação de um dos pontos mais altos da história do Vitória Futebol Clube.