28 Agosto 2024, Quarta-feira

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Uma reflexão a quente

Uma reflexão a quente

Uma reflexão a quente

, Deputada da IL
28 Agosto 2024, Quarta-feira

Acordei sobressaltada com o tremor que sacudiu a casa. Eram 5h11 da manhã de 26 de agosto de 2024, quando um sismo de magnitude 5,3 na escala de Richter moderado a forte na escala de Mercalli) se fez sentir de forma intensa no distrito de Setúbal. As janelas a abanar, a cama a mexer, o rugido vindo das entranhas da terra, impossível de reproduzir. O que é isto? Onde estão meus óculos? O meu filho acorda assustado. Por um instante, a sensação de impotência é esmagadora.
Depois do susto, as notificações no telemóvel e as mensagens nas redes sociais confirmam o que eu já sabia: foi um sismo. E aí surge a grande questão: estamos preparados para um evento de maior magnitude? A minha resposta, ainda a “quente” é um desconcertante: “não sei”.
Há muito a considerar.
Sabemos que Portugal está localizado numa zona sísmica, que existe a possibilidade de ocorrerem sismos de grande magnitude – como a história já nos mostrou – e que as principais zonas em que podem ocorrer são Setúbal, Algarve e Lisboa, como nos diz Jorge Miguel Miranda, geofísico e ex-presidente do IPMA.
Assim, desde logo, devemos questionar-nos sobre a qualidade das construções à nossa volta. Os dados dizem que a maioria dos edifícios na Área Metropolitana de Lisboa, quase 68%, foram construídos antes de existir legislação de proteção sísmica eficaz. Quantas casas no distrito de Setúbal foram construídas a pensar num cenário mais grave? Quantas foram fiscalizadas para garantir que cumprem as normas? Quantas resistiriam?
Outra preocupação é a resistência das infraestruturas críticas e sensíveis, aquelas que têm mesmo de se manter funcionais – estradas, pontes, hospitais. A capacidade de resposta em situações de emergência depende diretamente da robustez destas infraestruturas. Diria que o distrito de Setúbal (e não só), precisa, urgentemente, de uma avaliação rigorosa da segurança das suas infraestruturas, ou não?
Depois, os alojamentos temporários. Alguns municípios têm, por exemplo, BNAUTs (Bolsas de Alojamento Urgente e Temporário), para abrigar pessoas que “carecem de soluções de emergência (devido a acontecimentos excecionais ou imprevisíveis ou a situações de risco iminente)”, entre outras. A ausência desta rede de apoio em áreas mais vulneráveis, como Almada, evidencia a necessidade de um maior planeamento para garantir que ninguém fica desamparado em caso de catástrofe.
E os planos de contingência? Estão realmente preparados ou são apenas teorias no papel? Quantos são testados? A “quente”, não posso dizer que fiquei segura com a resposta do IPMA e da Proteção Civil após o sismo – comunicações tardias ou plataformas digitais que não funcionam não transmitem a segurança que deveriam. Como podemos sentir-nos preparados se a comunicação falha quando mais precisamos?
Por fim, acordar com um sismo faz-nos refletir sobre se nós, enquanto cidadãos, estamos prontos para lidar com uma situação mais grave? O que fazer, para onde ir e como reagir?
Este sismo foi um aviso. Um aviso de que precisamos de agir. Setúbal, como todo país, tem de estar preparado. A nossa segurança e a das nossas famílias, depende disso. A preparação não é responsabilidade exclusiva das autoridades; cabe a todos nós. Afinal, é em momentos de crise que nossa verdadeira força é posta à prova. E, depois do que vivemos esta manhã, parece claro que temos muito trabalho pela frente.

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