Uma praga de máscaras

Uma praga de máscaras

Uma praga de máscaras

16 Março 2021, Terça-feira
Juvenal José Cordeiro Danado - Professor

A pandemia, além das desgraças profusamente divulgadas e discutidas, trouxe-nos a praga das máscaras espalhadas pelo chão, de que não se ouve falar. Em Setúbal, encontramo-las por todo o lado. Quando vi a primeira, pensei que teria caído de uma algibeira ou de uma mala. Mas agora, que as vejo às dúzias nas minhas caminhadas, não tenho dúvidas: uma ou outra talvez tenha caído, mas a maioria foi aventada.

Há mentalidades que levam séculos a civilizar. Vemos tanta gente que se comporta como nas eras dos esgotos a correr a céu aberto ao pé da porta, e dos despejos (inclusive dos penicos) lançados pela janela ao brado de «Água vai!». Atiram toda a porcaria para o chão, quantas vezes a um passo dos caixotes do lixo – os varredores, que são gente e merecem respeito, que se danem, que se cuidem, que se enojem, que recolham. Estranho comportamento no final do primeiro quartel do século XXI, na época digital, da escolaridade universal e da informação ao alcance da totalidade dos cidadãos. Anda meio mundo a cantar odes gloriosas às novas tecnologias, de olhos espetados nos «telefones inteligentes» e presunçoso da pertença ao modernismo e à civilização, mas ignorante de que as enxurradas, o vento e as marés arrastam de tudo para o mar, e de que as máscaras para a COVID são lixo nojento e perigoso.

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Num dos dias soalheiros deste final de inverno, sedento de ar livre e liberdade, e preocupado com os défices de vitamina D, resolvi desconfinar as pernas e o espírito, numa fuga até à Praia da Saúde. Levava comigo um saco de plástico e umas luvas de borracha, para mimar o ambiente. Entrei no areal a usufruir do sol e a encher o saco. Ainda não ia a meio da praia do PUA, uma sacada. Despejei-a num caixote do parque. No final da praia, outra sacada. Duas sacadas, plásticos e onze máscaras.

Se já andávamos a comer resíduos de plástico (estudos recentes realizados na Holanda revelaram partículas microscópicas de plástico nos tecidos de peixes e de bivalves marinhos), o próximo petisco a acrescentar à nossa dieta de nojices e venenos será resíduos de máscaras que andaram na cara de desleixados e irresponsáveis, quiçá infetados de COVID.

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