Ontem foi dia de erguer a voz e lutar pelos direitos, pelos salários, pela dignidade. Essa luta impõe-se face a uma vida cada vez mais cara, com os sacrifícios constantes de quem trabalha e cria riqueza – e apesar de tanto trabalhar enfrenta dificuldades cada vez piores.
Neste dia 9 de Fevereiro de 2023, os trabalhadores do sector público e do sector privado, os seus sindicatos de classe, a sua central sindical CGTP-IN, realizaram o Dia Nacional de Indignação, Protesto e Luta, com greves e paralisações em todos os sectores e em todo o País, com expressão de rua, pelo aumento geral dos salários, contra o aumento do custo de vida e pelo controlo dos preços.
No Distrito de Setúbal, foram inúmeras as ações de luta, plenários, concentrações em múltiplas empresas e serviços, do Arsenal do Alfeite à Hanon e Visteon, dos hospitais ao comércio, das autarquias ao sector automóvel.
Para além disso, a mobilização de impressionantes ações em várias ruas e praças da região foi espaço de expressão de rua a ações convergentes, acrescentando-se às muitas e fundamentais ações nas empresas e locais de trabalho.
Impressionante foi também a combatividade, a confiança, até a alegria de quem estava na luta – e mesmo a solidariedade da população e de comerciantes, até da mulher que naquele café saiu à rua para oferecer garrafas de água a quem vinha na manifestação. À tarde, todos os caminhos foram dar a Lisboa, ao Largo Camões para avançar até São Bento.
Os trabalhadores sabem que é possível viver melhor no nosso País e não aceitam o discurso das inevitabilidades. Sabem, também, que precisam de respostas imediatas ao agravamento da situação por via do brutal aumento do custo de vida.
A prestação da casa aumenta para milhares e milhares de pessoas, com as taxas de juro a disparar. São centenas de euros por mês a desaparecer das contas das famílias. A subida de preços é a maior dos últimos 30 anos. De entre as maiores subidas destacam-se as dos preços dos produtos alimentares, que aumentaram em média 18,9%, não esquecendo os produtos energéticos e outros serviços por também serem essenciais, que aumentaram 23,7%.
E esses aumentos não se refletem nos pequenos produtores e particularmente nos agricultores que viram os seus rendimentos reduzirem-se em 12%. Ficam na especulação da grande distribuição que acumula lucros nunca vistos.
Os lucros da EDP foram de 612 milhões de euros. Os lucros da Galp foram de 860 milhões de euros. Os lucros da Sonae e Jerónimo Martins foram de 443 milhões de euros. Os lucros da banca privada foram de 4,4 milhões de euros por dia! Lucros e fortunas amassados à custa dos sacrifícios de quase todos.
O Governo, que deveria ter uma intervenção decidida na regulação dos preços dos bens e serviços essenciais, lava daí as suas mãos e fica a olhar para a especulação galopante. Ao mesmo tempo, as remunerações brutas médias mensais por trabalhador, em termos reais, caíram 4,7 por cento até setembro.
Os salários têm de aumentar, e em várias empresas tem sido a luta dos trabalhadores a arrancar essa conquista, com aumentos significativos – que têm de ser alargados a todos os sectores, porque é uma evidência indesmentível que a riqueza criada tem de ser distribuída.
Só o trabalho cria riqueza. O trabalhador não é uma peça descartável, nem pode ser tratado como se fosse. A dignidade do trabalho significa dignidade das nossas vidas – e significa o direito aos direitos. A um salário que distribua de forma justa a riqueza criada. A uma carreira que progrida sem precariedade e que valorize a profissão. A um horário de trabalho que dê espaço à família, aos amigos, à cultura, a uma vida onde se procura e constrói a felicidade.
Em cada jornada de luta, construímos esse caminho para uma vida melhor, para acabar com a exploração e a desigualdade. A vida pode ser melhor. Façamos por isso então. A luta continua!