Um livro fundamental sobre o Holocausto

Um livro fundamental sobre o Holocausto

Um livro fundamental sobre o Holocausto

, Professor
10 Julho 2023, Segunda-feira
Professor

Nas minhas deambulações pelas livrarias, encontrei um livro que recomendo vivamente intitulado “Hanns e Rudolf” que relata uma cadeia de acontecimentos verídicos de índole biográfica, contada em primeira mão pelo jornalista britânico Thomas Harding que nos apresenta uma narrativa fascinante sobre duas personagens pouco conhecidas da 2ª Guerra Mundial.
O livro conta-nos uma história de Hanns Alexander, um judeu-alemão cuja família deixou oportunamente a Alemanha logo após a ascensão dos nazis ao poder e que, ao serviço do exército britânico, liderou uma caça a dois proeminentes nazis, Gustav Simon o principal responsável pela deportação de judeus no Luxemburgo e Rudolf Höss, o comandante-chefe de Auschwitz, o maior campo de extermínio de judeus.
Revendo a trajectória da sua família (Hanns era tio de Harding), em cartas, antigas gravações e entrevistas a sobreviventes, este começou a reconstruir e a estruturar uma narrativa que nos reconduz a esses tempos conturbados.
No rescaldo da 2ª Guerra Mundial, a primeira equipa britânica de investigação de crimes de guerra foi reunida para caçar os criminosos nazis, nomeadamente Rudolf Höss o Kommandant de Auschwitz, responsável pelo assassinato de mais de um milhão de pessoas, implementando a “Solução Final”, o programa de extermínio em massa idealizado por Hitler.
Ao tornar-se comandante de Auschwitz em 1940, Höss liderou a construção do campo e a sua conversão no maior local de extermínio da História, vivendo com a sua família num local adjacente ao campo, rodeado de todo o conforto, a poucos metros dos horrores que ele supervisionava diariamente.
Preso por Hanns Alexander em 1946, confessou todos os seus crimes detalhadamente, com uma frieza absolutamente chocante, tendo sido julgado, considerado culpado e posteriormente enforcado.
Ao ler com toda a atenção as declarações de Rudolf Höss, deparo-me com a mesma perplexidade com que analisei as declarações de Adolph Eichmann, o criminoso de guerra nazi que fugiu para a Argentina, após o fim da 2ª Guerra Mundial, tendo sido detectado e capturado pela Mossad, os serviços secretos israelitas, trazido para Israel, julgado e condenado à morte.
O que choca mais relativamente Höss e a Eichmann é o facto de serem pessoas vulgares, absolutamente desprovidas de inteligência superior (provavelmente por isso mesmo é que cometeram estes crimes hediondos), com as quais nos cruzaríamos na rua sem olhar duas vezes, refugiando-se numa série vergonhosa de lugares-comuns quando confrontados com a enormidade dos seus actos, do tipo “não tinha bem a noção”, ou ”obedecia somente a ordens, não me cabendo questioná-las”.
Pessoas comuns o que nos leva para o conceito extremamente importante e que é a banalidade do mal, conceptualizado de forma soberba pela escritora Hannah Arendt, num livro escrito na sequência do julgamento de Eichmann. O mal é praticado por gente comum, a quem se lhes dá um enorme poder circunstancial, nomeadamente aquele de decidir entre a vida e a morte, escolhendo quase sempre a segunda opção.
O Holocausto constituiu um dos crimes mais vergonhosos, ignóbeis, vis e infames com que nos confrontamos ao longo da nossa história comum, onde a Humanidade atingiu um dos seus pontos mais baixos.
Qualquer vestígio de humanidade que pudesse existir, escapou-se inexoravelmente pelas chaminés dos fornos crematórios.
Numa altura em que a extrema-direita ganha peso um pouco por todo o lado, quer em Portugal, quer no estrangeiro, com invasões tanto vergonhosas, quanto indignas e altamente preocupantes de edifícios públicos, nomeadamente em Washington com Donald Trump (com mortos a lamentar) e em Brasília com Jair Bolsonaro, convém recordar e conhecer a História.
O facto de Donald Trump estar de novo a configurar-se como potencial candidato republicano às eleições dos Estados Unidos em 2024, constitui um sério aviso e um forte motivo de preocupação e reflexão.
A Democracia é um bem extremamente precioso e valioso, que urge preservar e proteger, sempre, todos os dias e em qualquer circunstância.

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