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Ucrânia: o primeiro mês de guerra

Ucrânia: o primeiro mês de guerra

Ucrânia: o primeiro mês de guerra

, Professor
29 Março 2022, Terça-feira
Giovanni Licciardello - Professor

A grande vantagem das nossas democracias ocidentais é que são isso mesmo: democracias. As sucessivas gerações que vivem em estados democráticos, foram desenvolvendo um conceito de cidadania extremamente arreigado.

Isso mesmo aconteceu connosco após o 25 de Abril de 1974. Vamos construindo as nossas percepções e narrativas, alicerçadas na procura livre de informação, no desenvolvimento do espírito crítico, motor das sociedades, no profundo respeito e tolerância pelas opiniões diferentes das nossas. Nada disso acontece com a Rússia ou a China.

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Ambas são ditaduras ferozes que controlam com mão de ferro, as respectivas sociedades. Na Rússia, tal advém desde os Czares, passando pelos tempos da URSS, até chegar a Putin; na China, o Partido Comunista no poder desde 1949, potencia uma mistura muito perigosa e volátil, onde coexistem ao mesmo tempo, o comunismo habitual e o capitalismo também habitual.

Rússia e China conduzem a regimes e a práticas totalitárias e criminosas. Em 1959, a China invadiu e anexou o Tibete, perante a complacência do resto do mundo. Brad Pitt, Harrison Ford e Richard Gere estiveram e estão proibidos de entrar na China, também em virtude dos filmes “Sete Anos no Tibete e “Justiça Vermelha”.

Quanto à Ucrânia, é uma nação antiga e independente, tendo uma história de mais de mil anos. Kiev era já uma metrópole e um importante centro cultural, quando Moscovo não era sequer uma aldeia. Durante a maior parte destes mil anos, Kiev não foi governado por Moscovo e não fazia parte da mesma entidade política.

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Durante séculos, a Ucrânia fazia parte de uma união com a Lituânia e a Polónia, até acabar por ser conquistada e absorvida pelo império russo czarista e mais tarde incorporada na União Soviética. Mas mesmo depois disso, os ucranianos permaneceram em larga medida um povo diferenciado e é importante que tenhamos essa noção, porque é isso mesmo que está em jogo nesta guerra.

Vladimir Putin entende que a Ucrânia não é uma nação independente, e nem sequer é uma nação, apelidando-os de “russos pequeninos”, que faz parte da Rússia, que os ucranianos são russos e que querem regressar rapidamente ao seio da Mãe Rússia. Vladimir Putin acreditava fortemente que só tinha de invadir a Ucrânia, que Volodymyr Zelensky fugiria, o governo cairia, o exército deporia as suas armas e o povo ucraniano acolheria os libertadores russos lançando-lhe flores.

Essa crença já se estilhaçou. Ao fim de um mês de guerra, Zelensky não fugiu, o exército ucraniano combate e os ucranianos não lançam flores sobre os tanques russos; lançam-lhes cocktails Molotov, potenciando ódios que se irão prolongar por várias gerações. Vladimir Putin tenta silenciar a comunicação social na Rússia, impedindo-a de contar o que realmente está a acontecer na guerra com a Ucrânia.

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Isso tem provocado uma debandada de jornalistas que abandonam o país, temendo pela sua própria segurança. É o caso de Evgueny Mouravitch, correspondente da RTP na Rússia desde 1988 e que se encontra actualmente em Portugal. Não me passa despercebido o desconforto de alguma esquerda doméstica, com esta malfadada guerra da Ucrânia.

Pressente-se que, no seu íntimo, prefeririam que a União Europeia, a NATO, os Estados Unidos e os próprios ucranianos, partissem os dentes na guerra. Não o dizem abertamente, porque ninguém quer alinhar explicitamente com Putin, mas intuímos perfeitamente o seu estado de espírito.

Vladimir Putin (tal com o seu cão-de-fila, Aleksander Lukashenko da Bielorrússia), não passa de um fascista com alma de comunista. Nascido na União Soviética, foi educado e medrou na KGB, evidenciando todos os tiques autocráticos da defunta URSS.

Que, contra todas as evidências, ainda provocam alguns suspiros e olhares nostálgicos. Quanto à guerra, não é um mero exercício de retórica. É um confronto entre a democracia e a ditadura, não havendo espaço para neutralidades.

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