Todos sabemos o que andou o PSD a fazer

Todos sabemos o que andou o PSD a fazer

Todos sabemos o que andou o PSD a fazer

19 Março 2021, Sexta-feira
André Martins

O deputado do PSD eleito por Setúbal, de quem não conhecemos nenhuma posição clara sobre a localização do aeroporto, vem agora considerar que não é admissível inviabilizar um investimento de interesse nacional só porque duas autarquias comunistas se lhe opõem.

A política foi, é ― e será fundamental que continue a ser ― a arte mais nobre de servir o bem público, a comunidade.

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Fazer política é assumir a responsabilidade de agir de forma empenhada em prol do bem comum, para que haja democracia e para que do confronto de ideias possa haver progressos na construção de um futuro melhor.

O respeito por ideias diferentes e por quem as manifesta é o reconhecimento de que é sempre possível aprender mais e fazer melhor. Na política, como na vida, é fundamental respeitar os adversários políticos de forma elevada. Ser sério nos argumentos. Como se costuma dizer, na política não vale tudo.

Infelizmente, existe hoje a ideia, cada vez mais generalizada, de que a política, os políticos e os partidos políticos existem mais para se servirem do que para servir o bem público, o povo.

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O descrédito de um político não se deve apenas ao não reconhecimento das ideias que promove e causas que defende. O descrédito vem, muitas vezes, da forma como o faz. Vem isto a propósito de um texto publicado no jornal “O Setubalense” em que um deputado da nação, à falta de argumentos e na expectativa de esconder debilidades suas e do partido que representa, se dedica a confundir os factos.

A realidade é que todos sabemos que a falta de investimento na Península de Setúbal se deve a duas razões fundamentais: falta de vontade política de sucessivos governos e anulação da NUT lll em que este território estava incluído, reduzindo os fundos comunitários a que agora pode recorrer, e que esse facto se deve a uma decisão de 2013 do Governo do partido que este deputado representa, ou seja, o PSD.

Todos sabemos que antes dessa decisão, em 2011, havia sido deliberado localizar o novo Aeroporto Internacional de Lisboa em terrenos do chamado Campo de Tiro de Alcochete, no concelho de Benavente.

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Todos sabemos que essa decisão está baseada em estudos de ordenamento do território, de impactes ambientais, sociais e económicos e até que tinha aprovada uma DIA – Declaração de Impacte Ambiental, que, em termos legais, é determinante para viabilizar a localização e a obra.

Todos sabemos que foi o Governo do PSD que decidiu não avançar com este investimento.

Todos sabemos que foi o Governo do PSD que decidiu privatizar a ANA aeroportos. A empresa pública mais rentável do País foi vendida à multinacional francesa Vinci, ao mesmo tempo que ficou acordado que ficava com a responsabilidade de construir o aeroporto no Montijo.

Todos sabemos que, quando veio o novo Governo do PS, o atual primeiro-ministro assumiu o compromisso de realizar essa obra, com o argumento de que não se podia perder mais tempo.

Todos sabemos que esta decisão, incompreensivelmente, foi tomada em 2019, quase um ano antes de estar concluída a avaliação do impacte ambiental. Isto quando ficaram claros os efeitos negativos para o ambiente, para a avifauna, para a segurança aeroportuária e para a saúde e qualidade de vida das populações circundantes.

Todos sabemos que as autarquias da Moita e Seixal, em representação das populações, deram parecer negativo àquela localização, e assim, nos termos da legislação em vigor está inviabilizado o projeto do aeroporto no Montijo.

Todos sabemos que, desde logo, o Partido Socialista colocou a hipótese de alterar a lei e só não avançou porque o PSD na altura não esteve de acordo.

O senhor deputado do PSD eleito por Setúbal, de quem não conhecemos nenhuma posição clara sobre a localização do aeroporto, vem agora considerar que não é admissível inviabilizar um investimento de interesse nacional só porque duas autarquias comunistas se lhe opõem.

Em ano eleitoral, para alguns, tudo serve para atacar os adversários políticos.

O senhor deputado omite os factos e não tem qualquer pejo em fazer afirmações e tirar conclusões que poderiam fazer acreditar na sua história aqueles que andam mais distraídos, ainda que ela esteja tão mal arquitetada.

É que as autarquias locais são realidades territoriais e sociais e como tal devem ser consideradas, independentemente da cor política eleita para as dirigir e representar. Acresce que os estudos feitos são bem claros sobre os impactos negativos na saúde das populações dos territórios envolventes ao projetado aeroporto do Montijo. A saúde das pessoas não é algo menosprezável.

O que não se compreende é que a Câmara Municipal do Barreiro tenha dado parecer favorável, quando a sua população é, provavelmente, a que sofrerá maiores impactos negativos. O mesmo se pode dizer da Câmara de Alcochete, que nem chegou a apresentar parecer, pelo menos que seja público.

Importa referir que o investimento público de interesse nacional não fica posto em causa. Existem alternativas, com estudos feitos, com impactos menores e com custos inferiores, para um projeto de dimensão idêntica ao que se propõe para o Montijo.

É caso para dizer que em política não vale tudo. Não pode valer tudo.

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