Estava diante da TV para satisfazer uma mórbida curiosidade de saber como vão as “coisas” do mundo, curiosidade que, apesar dos meus 96 anos de idade, sempre me atormenta, se outras razões não tivesse, para saber se as minhas bisnetinhas ainda terão mundo para viver!
Desde tenra idade que me preocupam os rumos e as conquistas da nossa sociedade. Desde cedo “borbulhava” em mim um desejo de participação na construção dum mundo de bem-estar que exigia a minha adesão a um Deus que se identificava com o amor. E com esse mandato muito trabalhei com os olhos postos no bem comum e na felicidade duma descendência – a que ia dando origem na sequência dum matrimónio feliz.
Estava diante da TV para tomar conhecimento da tremenda evolução negativa do mundo de hoje com uma “terceira guerra mundial aos pedaços” – como diz o Papa Francisco, com uma guerra total, mundial, por um fio, com uma guerra que já há quem apelide de genocídio – assunto para os tribunais internacionais. Quando ouço falar do nosso compatriota Nabeiro – um exemplo de cidadão e empresário exemplar pela sua bondade e, especialmente, de empresário com uma preocupação na primeira linha, com o bem-estar dos seus operários que até conhecia cada um pelo seu nome, e que abalou a minha sensibilidade com um “slogan” que usava: “É preciso sonhar e fazer”.
Consciente do mundo “miserável” em que vivemos, consciente duma verdadeira apatia que sinto à minha volta, numa aceitação do mal e dos perigos que nos rodeiam, consciente da verdadeira “luta de galos” a que assistimos entre pelo menos as três maiores potencias do mundo – a América do Norte, a Rússia e a China – não me conformo com a apatia que sinto nas pessoas com quem convivo e, até, estando à beira de eleições várias, uma ausência dum verdadeiro desejo de mudança.
Nunca tivemos uma época em que se sinta uma quase ausência de sonho – que é absolutamente necessário para nos inconformarmos com este mundo e fazermos algo para o tornar melhor. Mas há esta apatia que nos rodeia, este conformismo com o que outros decidem e vivem em proveito próprio. Todos se conformam e não sonham. Todos aceitam passivamente a evolução sem se compenetrarem do abismo para que caminhamos. Ora, se ninguém sonha é por que estão dormindo – isto é – anestesiados. Só a tenra juventude, parece pressentir que o abismo está por um fio e que é necessário sonhar e (depois) fazer. O Sr. Rui Nabeiro, um homem bom, sonhava e fazia!
E nós? Continuamos “a dormir”? Homens dos quarenta aos sessenta, é tempo de acordarem e fazerem algo que mude e salve este nosso mundo!
Sonhar e fazer! Mas é preciso que cada um saiba o quê.