O nosso país criou a geração mais qualificada de sempre. Agora tem o dever de criar um contexto para fixá-los cá. A emigração oferece oportunidades profissionais com salários muito superiores aos praticados em Portugal. Mais do que culpar o governo da ocasião pelo estado das coisas, importa discutir estratégias para atenuar este problema. Enquanto a direita foca-se no choque fiscal, tanto no IRS como no IRC, a esquerda prioriza a transformação do tecido económico.
A avenida fiscal tem três inconvenientes – primeiro, nunca será suficiente para colmatar a diferença salarial entre Portugal e a Europa central; depois, não traz garantias de maior crescimento, quanto mais melhores salários; o terceiro, é a sua natureza anual, fazendo efeito apenas quando se renova.
Já o sucesso de uma política industrial tem muito que se lhe diga. Releva para isso as qualificações e os vínculos laborais. Tivemos, pela primeira vez em nove anos, uma redução do número de alunos a ingressar no Ensino Superior, caindo 40% entre os mais carenciados. Por outro lado, a Ministra do Trabalho anunciou uma revisão das leis laborais no sentido de as precarizar. Este é o sentido contrário do que é recomendado a uma economia do conhecimento, onde convém que o trabalhador se sinta no seu posto de trabalho para investir nele e, assim, acumular capital humano.
Também as infraestruturas são muito importantes para assegurar a mobilidade das matérias-primas e das mercadorias. É de indesmentível relevância que esteja a avançar a linha ferroviária que vai ligar Sines à fronteira, a maior construção de ferrovia nova em 100 anos, prometendo revolucionar o transporte de mercadorias a sul do Tejo. A infraestruturação, pela AICEP Global Parques, tanto da Zona Industrial e Logística de Sines como da antiga Fábrica da Renault em Setúbal (hoje BlueBiz) tem também proporcionado oportunidades para atrair novos setores para o distrito. Desde os centros de dados às indústrias químicas e aeronáuticas, sem esquecer a promessa do aço verde, também é por Setúbal que passa o futuro da economia nacional.
É impossível ignorar, todavia, a relevância do setor automóvel para o território que acolhe a Autoeuropa e toda a indústria e serviços que, a montante e a jusante, se ligam a esse polo industrial. Esse setor terá necessariamente uma grande transformação com a transição energética, dado que os veículos elétricos têm muito menos componentes do que os veículos a combustão. O impacto dessa mudança em Portugal já foi estudado pela OIT, a pedido do governo de António Costa, num estudo publicado em 2022. No entretanto, desenharam-se boas perspetivas, designadamente, para a Autoeuropa passar a produzir o veículo elétrico mais barato da VW, tendo sido anunciado o ano passado que também produziria a versão híbrida do T-Roc.
Como no passado, vale a pena acreditar neste distrito e na sua vocação industrial. Também disso se faz a capacidade da minha geração encontrar bons empregos e ficar por Portugal.