Quando terminou a obra do programa Polis na Av. Luisa Todi, a Câmara Municipal de Setúbal anunciou que iria tarifar os novos lugares de estacionamento criados. Numa reação quase instantânea, alguns restaurantes da Avenida mobilizaram-se para contestar a medida, contestação que, como era de esperar, teve igualmente o apoio de alguns partidos da oposição. Passados dois meses de se ter lançado esta medida, um dos proprietários mais contestatários pediu-me, pessoalmente, desculpa e acabou por confessar que tarifar o estacionamento ali foi a melhor coisa que podia ter acontecido. Ele e os funcionários do restaurante deixaram de se preocupar com os carros dos clientes estacionados em cima dos passeios. Agora, os clientes chegam, almoçam descansados e não se queixam da falta de estacionamento.
Antes disso, e a pedido dos moradores e do comércio local, já a autarquia tinha tarifado o estacionamento nas zonas das Fontainhas, Praça de Touros e em toda a envolvente da Loja do Cidadão.
As cidades mais atrativas e desenvolvidas estão hoje confrontadas com o dilema de ter de regular e tarifar o estacionamento.
Em Setúbal, o estacionamento começou a ser tarifado em 1992. Hoje, vivemos outros tempos e a necessidade de regular e disciplinar o estacionamento aumentou de forma muito significativa.
O novo modelo de mobilidade em curso na cidade está, desde o início, associado a um projeto de renovação e requalificação urbana sustentado em estudos aprofundados e na auscultação e participação da população.
É fácil recordar Setúbal como a cidade em que a autoestrada fazia desaguar sem controlo milhares de viaturas, enquanto era também atravessada por duas estradas nacionais. A mudança entretanto operada foi significativa.
A coragem de decidir instalar um centro comercial em terrenos abandonados bem dentro da área urbana permitiu elaborar um plano de urbanização para a entrada da cidade e transformar estradas nacionais em avenidas com velocidades controladas, passadeiras, ciclovias e passeios amplos.
Esta intervenção foi conjugada com o plano urbanístico da Várzea, com o projeto das bacias de retenção e com um projeto paisagístico de que resultará o maior parque urbano da cidade. Permitiu, igualmente, concretizar o saneamento de toda esta grande área, incluindo as obras realizadas nas ribeiras do Livramento e Rio da Figueira, passando pelas avenidas da Guiné Bissau, Alexandre Herculano e 22 de Dezembro.
Este primeiro ciclo de intervenção, depois das obras das avenidas dos Combatentes e dos Ciprestes, neste momento em curso, terminará com a requalificação das avenidas de Moçambique e Rodrigues Manito. Esta última com uma intervenção que permitirá retirar os carros de cima dos passeios e recolocá-los noutros espaços dedicados a essa finalidade.
Como tem acontecido noutros arruamentos e avenidas, o objetivo é libertar os passeios para os peões e para os meios suaves de mobilidade, criar bolsas de estacionamento tarifado e estacionamentos gratuitos de retaguarda bem servidos de transportes públicos, beneficiando os residentes e assegurando a dinamização do comércio local.
Se quisermos ser rigorosos, temos de reconhecer que o estacionamento tarifado, no atual estado de evolução das cidades, beneficia os residentes e a atividade económica aí instalada. Numa perspetiva mais global, promove o descongestionamento urbano, a despoluição e a qualidade de vida das populações residentes.
O compromisso já assumido no passado com as populações, e que hoje volta a ser assumido, é o de apenas tarifar o estacionamento em arruamentos que sejam objeto de requalificação urbana. Por essa razão, o contrato de concessão do estacionamento tarifado estabelece que a criação destes lugares seja progressiva e ao longo de cinco anos, para que haja tempo de realização das obras necessárias.
A nova estação intermodal (rodoferroviária) em construção da Praça do Brasil estará concluída antes da entrada no concelho, em setembro de 2021, da Carris Metropolitana, o novo operador de transportes públicos rodoviários. Os novos autocarros que começarão a circular, mais modernos e menos poluentes, aumentam a oferta de carreiras em mais de oitenta cento, o que significa também mais circuitos, maior frequência nas linhas e maior comodidade para os utentes.
Com esta requalificação urbana fomenta-se a atividade económica local e facilita-se o estacionamento aos residentes. Com a nova frota de autocarros incentiva-se o uso do transporte público, sempre com o mesmo passe, e incentiva-se a circulação pedonal e o recurso aos chamados meios de circulação leves e menos poluentes.
Construímos, assim, com responsabilidade e visão de futuro, uma cidade com mais qualidade de vida, mais acessível e mais amiga do ambiente.
Uma cidade mais atrativa e mais sustentável. A cidade sustentável que nos desafia a continuar o bom trabalho já realizado.