Os crescentes fumos de corrupção envolvendo antigos governantes , são o argumento para os detratores da democracia afirmarem, nas redes sociais, em conversas de café, que « os políticos são todos iguais»; logo «o que cá faz falta é um Salazar!»
Há vários exemplos que demonstram a falsidade de tais afirmações. Vejam-se os casos de Salazar, António Costa, atual Primeiro ministro, e Rui Rio, líder do maior partido da oposição. Começando por Salazar, político visto por alguns como paradigma de honestidade. No seu regime, obviamente, houve casos de corrupção, sendo o próprio Salazar a reconhecê-lo. Conta Fernando Dacosta na sua obra As Máscaras de Salazar que uma manhã falou com a governanta do ditador, a qual o informou que o «senhor doutor» tinha acordado maldisposto, pois estivera a trabalhar até tarde com alguns dos seus ministros. Quando os governantes saíram, o chefe do governo comentou com a D. Maria: «estes deviam estar presos», pois eram ladrões, contudo não os mandava prender porque «já roubaram o que tinham a roubar.» Assim, se Salazar não foi corrupto, não deixou de permitir a corrupção.
O atual primeiro ministro, António Costa, foi ministro, secretário de Estado, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, durante vários anos. Todos sabemos que a comunicação social de um país democrático investiga minuciosamente o percurso político dos governantes, com destaque para os que exercem o cargo de chefe do governo. Recordem-se os casos das ações do BPN e dos impostos da «casa da coelha» que Cavaco Silva não terá pago ; a empresa de Passos Coelho, que terá recebido fundos europeus para formação que nunca terá sido dada. Sobre António Costa nem um fio de fumo de corrupção. Conhecendo-se a oposição à solução governativa encontrada pelo atual Primeiro-ministro, quer dentro do seu próprio partido, quer noutros setores partidários, qualquer indício de corrupção teria vindo a público, o que não aconteceu. Recentemente, António Costa, ao distanciar-se do «caso Sócrates», deu um fortíssimo contributo para concretizar o que há muito tem defendido: «à justiça o que é da justiça; à política o que é da política.» Assim, a atitude de Costa obrigará outros dirigentes políticos a tomarem decisão idêntica, nomeadamente o líder da oposição. Está aberto o caminho para um verdadeiro combate à corrupção. É a democracia a fortalecer-se. Afinal os políticos não são todos iguais.
Quanto ao líder do maior partido da oposição, Rui Rio, exerceu o cargo de presidente da câmara municipal do Porto durante vários anos, enfrentando, corajosamente, lóbis poderosíssimos, como o do futebol, que lhe moveram uma guerra nunca antes vista com qualquer outro presidente da cidade invicta. Nem um só caso de corrupção lhe foi associado. Afinal os políticos não são todos iguais.
A nível do poder local, se já houve condenados pela justiça (poucos) muitos outros, eleitos pelas diversas forças políticas, exerceram cargos durante décadas sem que nada lhes possa ser apontado. Analisando-se mais aprofundadamente o caso dos autarcas eleitos pela C.D.U, já que esta força política, ao contrário do P.S. e do P.S.D., principais partidos da chamada área governamental, apenas está no poder a nível local, verifica-se que sempre que surgiu algum indício de ilegalidade cometido pelos seus autarcas, os mesmos foram afastados, ou perderam o apoio da coligação, ou não se recandidataram, o que levou, por vezes, à perda da respetiva autarquia. Afinal os políticos não são todos iguais.