Rui Nabeiro não era apenas de Campo Maior ou do Alentejo. Era um português que via mais do que a sua terra.
Talvez por isso, são incontáveis os exemplos da sua humanidade, como as doações realizadas ao Hospital Garcia da Orta, em Almada ou, durante a pandemia, a compra de refeições a restaurantes com dificuldades, para alimentar famílias necessitadas.
Esta semana, o homem bom, o empresário empreendedor, o filantropo, o dirigente, o autarca, o humanista Rui Nabeiro, deixou-nos.
Estive pessoalmente com ele poucas vezes, guardando dele, todavia, a imagem de quem partilhava com o mundo que o rodeava a generosidade da sua simpatia simples e cordial.
Há nas várias facetas que, por estes dias, unanimemente têm sido reconhecidas ao Comendador Rui Nabeiro, uma, do seu percurso de vida, que me faz refletir.
Nascido numa família humilde, e tal como muitos portugueses da sua geração, em especial nascidos no interior, Rui Nabeiro subiu a pulso as dificuldades da vida transformando uma fronteira terrestre (com Espanha), numa oportunidade concretizada de desenvolvimento económico.
Assim, transformou uma pequena vila no Alto Alentejo, numa região de progresso e solidariedade, criando várias empresas, hoje com cerca de 4 mil trabalhadores (de que se destaca a Delta Cafés) e que hoje estão presentes em vários mercados mundiais.
Numa realidade, de décadas de abandono de população do interior de Portugal, com efeitos devastadores na sua economia, Campo Maior, uma pequena vila da raia do norte alentejano transformou-se, em grande parte, graças ao esforço do Comendador e das suas equipas, numa das mais progressistas terras do interior de um Portugal cada vez mais desertificado e abandonado, por sucessivas gerações, pela falta de emprego e de futuro.
Campo Maior e Rui Nabeiro, fizeram o contrário de quase todo o interior de Portugal, nas últimas décadas. Olharam para o território vizinho de Espanha e descobriram uma oportunidade para negócios e trabalho.
Este é o exemplo inspirador, a exceção que confirma a regra, do que Portugal têm vindo a sofrer nas últimas décadas. Com efeito, muitas zonas rurais do Alentejo, Centro e Norte do país perderam cerca de 40% de população nos últimos 30 anos, caracterizando-se ainda por uma elevada prevalência de idosos na população.
Isso não aconteceu em Campo Maior, em grande parte pela ação de um Homem, Rui Nabeiro.
Rui Nabeiro também nos deixa esse exemplo humanista e de desenvolvimento regional. Se o seguirmos teremos seguramente um Portugal mais solidário e justo.
Obrigado, Comendador Rui Nabeiro